A história da casa e do edifício Dr. Eloy Chaves, que ficava na Avenida Paulista, número 22, começa com uma surpresa: uma fotografia inédita deste casarão da Avenida Paulista, que foi propriedade do Dr. Eloy Chaves.
O resgate da memória fotográfica da mansão só foi possível graças à gentileza da Fundação Antonio-Antonieta Cintra Gordinho (FAACG), à qual agradecemos por nos receber e atender nossa solicitação. Muito obrigada em especial à Patrícia, nossa interlocutora na Fundação.
Vamos à história!
Eloy de Miranda Chaves nasceu em Pindamonhangaba, em 27 de dezembro de 1875. Era filho do Sr. José Guilherme de Miranda Chaves e de D. Cândida Marcondes de Miranda Chaves. Diplomou-se em Direito em 1896 pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e, aos 20 anos, tornou-se Promotor Público na cidade de São Roque. Logo depois, mudou-se para Jundiaí e elegeu-se vereador. Mais tarde, tornou-se deputado federal e, entre 1913 a 1918, foi Secretário de Estado dos Negócios da Justiça e Segurança Pública, nos governos do Conselheiro Rodrigues Alves e de Altino Arantes.
Eloy Chaves foi um homem corajoso e de alto espírito empreendedor, figura importante em nosso Estado, com atuação decisiva para o progresso de São Paulo. Além da política, atuou nos mais diversos segmentos do mercado. No setor elétrico, sua atuação começou em 1902, quando participou da organização da Empresa Elétrica de Jundiaí. Em maio de 1912 adquiriu, com outros sócios, a Central Elétrica Rio Claro, transformada na maior companhia de eletricidade de capital nacional. Em 1944 fundou a Empresa Elétrica de Itapura, e construiu a usina Salto do Itapura, que beneficiou extensa região de São Paulo e de Mato Grosso.
Com mais de 56 anos de sua vida dedicados ao setor de eletricidade, o Dr. Eloy Chaves foi, também, agricultor e pecuarista e um dos grandes incentivadores da indústria de cerâmica em São Paulo, tendo fundado a Companhia Cerâmica Jundiaiense. Em outros segmentos industriais, ainda em 1912, construiu em associação com o empresário português Antônio Cintra Gordinho e o engenheiro alemão Hermman Braune a Cia. Ermida de Papel e Celulose também em Jundiaí.
Em 1980, a ABCE (Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica) criou o Prêmio Eloy Chaves, uma medalha cunhada com o seu rosto, para premiar as empresas de energia elétrica de todo o Brasil, que se destacam pela prevenção de acidentes de trabalho.
Foi devido a sua valorização dada ao trabalhador brasileiro, que seu nome foi escolhido para denominar a comenda. O político e empresário do setor elétrico foi um pioneiro da seguridade social devido a chamada Lei Eloy Chaves, como ficou conhecida, que favoreceu os trabalhadores da malha ferroviária paulista e foi a base do Instituto Nacional de Previdência Social INPS (Instituto Nacional de Previdência Social).
Este foi um de seus feitos, talvez o que tenha tido o maior efeito social, e tornado Dr. Eloy Chaves muito conhecido e perpetuado. O motivo foi o pioneirismo na edição de leis que garantiram a aposentadoria aos trabalhadores brasileiros. A história conta que, em 1921, viajava de trem na antiga Estrada de Ferro Sorocabana, e ouviu dos ferroviários que, mesmo quando atingiam uma idade avançada, precisavam continuar trabalhando em razão da necessidade premente de sustentar a família, inclusive aqueles que exerciam atividades mais desgastantes, como foguistas e maquinistas.
Após este evento, o Dr. Eloy Chaves procurou os dirigentes da Companhia Paulista e discutiu com eles o assunto. Tempos depois, em sua fazenda Ermida em Jundiaí, onde também tinha uma fábrica de porcelana, concebeu e escreveu o projeto de lei que apresentou à Câmara dos Deputados em 1921, criando “em cada uma das empresas de Estradas de Ferro existentes no país uma Caixa de Aposentadoria e Pensões – a primeira CAP do Brasil – para os respectivos empregados”, que virou lei em 24 de janeiro de 1923, dia que oficialmente comemora-se o Dia do Aposentado.
Na agricultura, O Dr, Eloy Chaves foi um dos maiores produtores de café brasileiro, manteve plantações em grandes fazendas do interior paulista, destacando-se a Fazenda Ermida. Além do café, eram notórias as vastas regiões de plantio de eucalipto, cana-de-açúcar e laranja mantidas por ele e sua família em todo o Estado de São Paulo.
Sede da Fazenda Ermida – Fundação Antonio Antonieta Cintra Gordinho (FAACG). Foto: Emerson Rossi
A bela Fazenda Ermida está localizada ao pé da Serra do Japi, em uma área de preservação ambiental da Mata Atlântica. A sede, construída por volta de 1860, abriga o Centro Cultural da Fundação Antonio Antonieta Cintra Gordinho (FAACG) e o Museu Eloy Chaves, com0 possui um extenso acervo cultural representativo que remonta ao século XVII.
Além de todas essas iniciativas empresariais, Eloy Chaves atuou no ramo financeiro, tendo sido em 1889 um dos fundadores e principal acionista do Banco Comind (Banco do Comércio e Indústria), que se tornou, na primeira metade do século XX, a maior instituição financeira privada do país e maior operadora nacional no comércio internacional de café.
Na vida pessoal, O Dr, Eloy Chaves casou-se com Almerinda Pereira Chaves com quem teve dois filhos, Vail Chaves, que foi casado com Isabel Chaves, e Antonieta Chaves Cintra Gordinho, que se casou com Antonio Cintra Gordinho, uma personalidade importante nos círculos políticos e administrativos do Estado de São Paulo, tendo sido Secretário da Fazenda.
Mas voltemos ao nosso tema central: sobre a casa da Avenida Paulista, em que o Dr. Eloy morou, temos muito poucas informações. Ela era localizada na Paulista, no antigo número 22, perto da Rua da Consolação. Sua arquitetura era de estilo bem mais próximo ao moderno, com linha mais retas, como alguns dos casarões da época.
O mais importante e inédito é que, com a fotografia enviada pela Fundação Antonio Antonieta Cintra Gordinho, pudemos publicar mais esta história e contribuir com o resgate da memória arquitetônica da Avenida Paulista do início do século passado.
Na publicação Fazenda Ermida: um exemplar da arquitetura do período do café em Jundiaí São Paulo, de autoria da Dra. Maria Luiza Zanatta de Souza, está descrito um detalhe que remete à casa da Avenida Paulista.
A porta de entrada (da casa da fazenda Ermida), em madeira almofadada, com detalhes em ferragens e as escadas que dão acesso ao segundo pavimento, ao que tudo consta vieram da antiga residência do Dr. Eloy na Avenida Paulista em São Paulo.
No mesmo trabalho, lemos ainda que: “em entrevista com a Sra. Irene Ferreira Chaves foi mencionada a paixão da Sr. Almerinda Mendes Pereira Chaves por plantas e o fato do Dr. Eloy ter comprado uma casa na Avenida Paulista, ao lado da sua, para transformá-la em um grande jardim para sua esposa”.
Uma memória que agora poderá ficar para sempre!!!
Dr. Eloy morreu em 19 de abril de 1964 no Hospital Santa Catarina e seu velório foi na Avenida Paulista em sua própria residência, sendo sepultado no cemitério da Consolação.
Em continuidade ao legado da família, a filha de Eloy Chaves, Antonieta e seu esposo Antonio Cintra Gordinho ergueram, em 1957 na cidade de Jundiaí, a FAACG – Fundação Antonio e Antonieta Cintra Gordinho.
Segundo o site da entidade: a criação da entidade foi “inspirada pelo filme Boys Town (1938), que conta a criação de uma comunidade americana destinada a meninos carentes. O objetivo da instituição era prestar assistência à criança desamparada, apoiar creches e clínicas pré e pós-natal, oferecer bolsas de estudos para as crianças e colaborar com outras associações dedicadas à infância”.
A Fundação, segundo o site, “atende aproximadamente 1.400 crianças e jovens, anualmente, em suas seis unidades; sendo cinco em Jundiaí e uma em Araçariguama, dividindo seus atendimentos, além do Centro Cultural Ermida, que tem como objetivo fomentar a cultura, com oficinas educacionais”.
Além deste trabalho de educação primorosa a essas crianças, a Fundação ainda faz a preservação da mata atlântica, resguardando mais de 6 milhões de m² das terras da fazenda Ermida.
A linda casa da fazenda abriga o Centro Cultural da Fundação e, atualmente, passa por processo de restauração para, muito em breve, tornar-se o Museu Eloy Chaves.
Pudemos conhecer esse projeto que dignifica a memória de Eloy Chaves, mas mais vibrante e emocionante foi conhecer de perto a proposta educativa da FAACG, um trabalho que dignifica a família que o mantém com toda qualidade e zelo, no melhor nível educativo em Jundiaí. Para conhecer assista o vídeo institucional produzido em 2017. É fantástico o trabalho de toda a equipe em produzir uma educação de excelente qualidade para crianças de famílias carentes da região!
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
12 thoughts on “A mansão e a história de Eloy Chaves”
Rosana Barbieri
Mais informações importantes e conhecimentos novos e relevantes! Meu muito obrigada!
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Luciana Cotrim
Rosana, muito obrigada novamente. Ficamos muito felizes com seus comentários.
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José Luiz Gonzalez de Montenegro Magalhães
Sempre muito interessantes esses relatos históricos ! Muito obrigado !
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Luciana Cotrim
José Luiz, Muito obrigada por seu comentário. São eles que nos incentivam a continuar a escrever!
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Antonio Teles Leite Neto
Enfim, um site que condensa informações sobre o antigo casario da Paulista, trazendo imagens belissimas e texto muitíssimo bem escrito. Uma verdadeira pérola para aqueles que, como eu, sempre que em viagem à São Paulo, nao deixam de passear pela avenida imaginando o que havia antes daqueles prédios imponentes. Vida longa à essa série maravilhosa.
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Luciana Cotrim
Antonio, muito obrigada pelo comentário. São eles que nos incentivam a continuar a reconstruir a história dos casarões e dos prédios da Avenida Paulista, que é parte de nossa identidade e memória.
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Pingback: O Edifício Eloy Chaves | Série Avenida Paulista
Pingback: Eloy Chaves não é só nome de bairro, não! Conheça 4 fatos importantes sobre o empresário - Solutudo
Luciana Cotrim
Obrigada por compartilhar. Muito bacana o texto, com muitas informações adicionais sobre o Eloy Chaves! Vale a pena conferir.
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Denilson Massaferro
Foi muito bom ver este vídeo mostrando a fazenda onde eu morei entre 1957 a 1964. A filmagem com drone mostrou uma fazenda um pouco diferente daquela que eu conheci na infância, mas mesmo assim me fez reconhecer cada ponto. Está faltando algumas coisas que eu conhecia, mas é consequência do tempo e das mudanças. Obrigado pela postagem!
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Luciana Cotrim
Obrigada por ler o artigo e pelo gentil comentário! Que bom que o artigo e o vídeo o fez relembrar a fazenda.
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Airton Aparecido Gomes
Foi um verdadeiro brasileiro e altruísta>
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