Com projeto do escritório de Ramos de Azevedo, em 1921, foi erguido na Avenida Paulista, número 23 o imponente casarão que foi a residência de Gabriela Dumont Villares, irmã do aviador e inventor Alberto Santos Dumont.
Segundo registros históricos, nos anos 1920, o aviador costumava se hospedar na casa de Gabriela Dumont Villares, em suas vindas à São Paulo. Naquela época, ele dividia-se entre a capital paulista, Rio, Petrópolis e Paris.

O pai de Gabriela, Henri Dumont, nasceu em Diamantina, Minas Gerais, em 20 de julho de 1832. Henrique, como ficou conhecido, era filho de imigrantes franceses, foi um grande cafeicultor em seu tempo, é considerado como o segundo rei do café do Brasil do século XIX.

Ele se casou com Francisca Paula de Paula Santos em 6 de setembro de 1856, na Freguesia de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto.
A família Dumont era composta por 8 filhos: 3 homens e 5 mulheres. As irmãs mais velhas de Santos Dumont, que chamavam Maria Rosalina, Virgínia e Gabriela, casaram-se por coincidência, com três irmãos, respectivamente chamados Eduardo Villares, Guilherme Villares e Carlos Villares, todos eles vieram de cidades mineiras. Rosalina casou-se com Eduardo em 1885, Virginia com Guilherme, em 1886 e, finalmente, Gabriela Dumont Villares casou-s com Carlos Alberto de Andrade Dumont Villares, 1891.


O Sr Henri, pai de Gabriela e Santos Dumont, como dissemos, ficou conhecido como o “O Rei do Café”por causa de sua fazenda, que se tornou a mais moderna da América do Sul, com 5 milhões de pés de café, 96 quilômetros de ferrovias e sete locomotivas. A Dumont Coffee Company exportava café para vários países europeus e tinha seus títulos negociados externamente.

Em 1872, o Sr. Henri assumiu a empreitada da construção do trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil na subida da Serra da Mantiqueira, tendo instalado seu canteiro de obras na localidade de Cabangu, próximo a cidade de Palmira, hoje Santos Dumont.
Em 1890, caiu da charrete de sua fazenda e o acidente o deixou hemiplégico. Posteriormente, em 1891, em consequência do tratamento, vendeu sua fazenda e partiu para a Europa com sua família.
Faleceu no Rio de Janeiro em 30 de agosto de 1892.
Sua filha Gabriela nasceu em 26 de março de 1871, em Sabará, Minas Gerais, e Carlos, seu esposo. nasceu em 5 de julho de 1865, em Porto, Portugal. Ele chegou no Brasil em 1887, formado engenheiro civil na Academia Politécnica do Porto, aqui construiu ferrovias no interior do Brasil.

Eles se casaram em 1891 e tiveram, pelo menos, três filhos. A família voltou para Portugal, em 1894. Em Portugal, o marido de Gabriela, cantava ópera, tocava violino e apresentava-se em circos por distração. Em 1911, foi encontrado morto na cabine de um trem noturno que ia para Paris, episódio até hoje não esclarecido. Gabriela faleceu em 1942, em São Paulo.
Um dos filhos do casal, Carlos, era engenheiro, e virou sócio da Pirie, Villares & Cia., firma de São Paulo que importava peças para montar elevadores e passou a produzir componentes elétricos e mecânicos. Carlos morreu aos 23 anos, em 1917, em um trágico acidente de motocicleta na Avenida São João. O casal ainda teve uma menina, de nome Gabriela, e o outro filho, chamado Luiz Dumont Villares.

O filho Luiz ocupou o lugar do irmão na empresa Pirie, Villares & Cia que funcionava numa casa apertada no centro de São Paulo. Parte da montagem dos elevadores era feita na calçada sob o viaduto de Santa Efigênia.
Nos anos 50, a Atlas comprada pela Villares, era a terceira do mundo, ganhou a concorrência para instalar elevadores em todos os prédios oficiais de Brasília.
Luis tornou-se grande empresário, o dono das Indústria Villares, que fabricava os elevadores Atlas, em que todos nós entramos frequentemente. Em maio de 1999 a família vendeu a Atlas. Hoje em dia, a empresa é conhecida como Villares Metals.

A mansão
A mansão de Gabriela Dumont Villares, ficava no antigo número 23 (hoje 2.2000 da venida Paulista. Sobre a casa, o jornal O Estado de S.Paulo publicou em 2011 que “o estilo do casarão é bastante diferente dos demais projetos de Ramos de Azevedo executados na época.
“Foi o Escritório Ramos de Azevedo que propôs uma casa de tijolo aparente cercada de alpendre e com longos beirais, surpreendente no conjunto de obras desse escritório, mesmo considerando-se grande o número de arquitetos que aí trabalhavam”, assinala o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), no livro Álbum Iconográfico da Avenida Paulista (Editora Ex Libris, 1987), de onde a foto acima foi reproduzida”.
Uma curiosidade: todos os casarões da Avenida Paulista são nomeados pelo nome dos barões/empresários, pelo “chefe” da família, ou seja, por nomes masculinos, somente esta mansão é identificada por uma mulher. Não consegui saber o motivo. Alguém saberia?

Para encerrar fiquem com um retrato de Santos Dumont – o pai da aviação e irmão de Gabriela, que publicado na Revista A Cigarra. No próximo texto, a história do edifício The Central Park, que ocupou o lugar da residência de Gabriela Dumont Villares.
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
6 thoughts on “Gabriela Dumont Villares: a casa da irmã de Santos Dumont”
Ângelo de Angelis
Linda história, parabéns pela narrativa!
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Luciana Cotrim
Muito obrigada pelo comentário e por acompanhar a Série Avenida Paulista,
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Thais Lavieri
Excelente texto.
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Luciana Cotrim
Muito obrigada, Thais.
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Pingback: Edifício The Central Park, a “Casa do Rádio” | Série Avenida Paulista
ROSANA BARBIERI
Muito interessante saber de tudo isso!!! bj
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