Na Série Avenida Paulista a história do Observatório de São Paulo e da família do Sr. José Nunes Belfort Mattos, que era o seu administrador, e residia na casa ao lado dele. Apresentamos a história que se seguiu até os dias atuais, por 5 gerações da família.
Depois deste casarão
Só foi possível reconstruir essa memória, que também faz parte do patrimônio de São Paulo, com a participação generosa do Prof. Dr Rubens Belfort Mattos Jr, bisneto do Sr. José Nunes, ao qual agradecemos imensamente a contribuição.
No início do século passado, ao se fazer a escolha do local para a construção do antigo Observatório de São Paulo, levaram em consideração a existência de um Posto Meteorológico, que funcionava desde 1902, na residência do Sr. José Nunes Belfort Mattos, que era funcionário da Comissão do Observatório.
Dirigido por F. Schneider, o serviço meteorológico de São Paulo tinha uma sede criada em 1892, com os equipamentos instalados no teto do edifício da Escola Normal da Praça da República, hoje Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
Com o nome de Observatório da Avenida, anos depois mudou-se para a na Avenida Paulista número 69, ao lado do Belvedere do Trianon. A direção do serviço passou ao Sr. Belfort Matos, em cuja residência, foi instalado toda a aparelhagem do serviço, assim, as observações meteorológicas iniciadas por ele, em 1902, teriam continuidade com aproveitamento da série climatológica já existente da Estação Meteorológica Central.
Porém, em algumas notícias de jornais, especulava-se que o observatório tinha ido para a Avenida Paulista porque o Estado não precisaria pagar residência ao Sr. Belfort Mattos, que morava na casa ao lado, no número 71. Oficialmente, um dos principais motivos para a mudança de localização do observatório é por que a Avenida Paulista estava a 815 metros acima do nível do mar e bem distante do centro da cidade.
Na época, o observatório também executava serviços como observações astronômicas, medição da hora oficial do estado de São Paulo, estudos de Física Solar, Magnetismo Terrestre e de Sismologia, sendo que para estes últimos estavam destinados dois pêndulos Wichert de fabricação alemã.
O Observatório de São Paulo possuía equipamentos modernos e suas instalações eram bastante desenvolvidas para a época, como podemos ver nas imagens abaixo.
Mas quem era o Sr. Belfort Mattos? Ele era filho do Tenente Fábio Gomes Faria de Mattos e de Dona Luiza Amália de Souza Belfort. Nasceu em 19 de maio de 1862, em São Luís, Maranhão. Formou-se engenheiro na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Casou-se em 12 de julho de 1890, no Rio de Janeiro, com Dona Antonieta Monteiro de Moura Rangel.
No início da carreira trabalhou como engenheiro civil em vários estados diferentes: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba, Espírito Santo, até desembarcar em São Paulo, onde se fixou. Dos 8 filhos que teve, quatro nasceram em São Paulo.
Aqui orientou sua vida aos estudos e as pesquisas, morando por anos na Avenida Paulista. Costumava dizer que o “Estado de São Paulo é o único lugar do Brasil em que vale a pena trabalhar! Nossa vocação como cidade do trabalho já se configurava nesta época. Foi Diretor do Observatório de São Paulo de 1902 a 1926.
Ele construiu a casa na Avenida Paulista em 1901, e lá foi morar em 1902, quando começou a aparelhar a casa com equipamentos para suas observações. Era tão metódico que, enquanto trabalhava no observatório do centro da cidade, colocava a família para fazer observações do céu da avenida. Assim nasceu o Observatório da Paulista, única e exclusivamente com investimentos privados do Sr. Belfort Mattos.
Construído pelo Governo do Estado e inaugurado em 30 de abril de 1912, o Observatório de São Paulo, ao lado da casa dele, que seguiu sob sua direção até 1926.
Belfort Mattos também foi professor de matemática, Astronomia e Mecânica, durante 10 anos, no colégio Anglo-Brasileiro, que era um dos mais importantes colégios de São Paulo. Por muitos anos, participou efetivamente da Sociedade Cientifica de São Paulo. Foi um cientista que publicou muito e era requisitado por jornalistas nas intempéries do clima, na passagem do cometa Halley, entre outros fenômenos.
Todas essas informações estão no livro “José Nunes Belfort Mattos – a vida de um cientista brasileiro” publicado em 1951, de autoria de Fabio Belfort, riquíssimo em detalhes de toda a obra de Belfort Mattos. Um exemplar foi cedido para nossa pesquisa pelo Dr. Rubens Belfort Mattos, a quem agradeço o generoso gesto. Vejam a bela capa e primeira página do livro.
José Nunes Belfort Mattos veio a falecer em 28 de julho de 1926, em São Paulo, fato que também deu início ao declínio do Observatório de São Paulo na Avenida Paulista.
Em 1927, o Observatório passou às mãos de Alípio Leme de Oliveira e, em 1932, iniciou-se a construção do Instituto Astronômico e Geofísico de São Paulo, terminada em 1941.
Com o crescimento da cidade de São Paulo, o local que em 1912 era tido como ideal, já não satisfazia as condições adequadas para observações astronômicas regulares, nem para observações sismográficas, por causa dos abalos produzidos pelos bondes que já trafegavam pela Avenida Paulista.
Vários pontos da cidade de São Paulo foram considerados para abrigar o novo observatório, mas o que melhor satisfez as condições requeridas foi o Parque do Estado, no bairro da Água Funda, onde a sede do IAG permaneceu até o início do século 21.
O Sr. Belfort Mattos deixou um grande legado, não só nos estudos, mas também em sua descendência. E esta é a novidade neste artigo: o bisneto dele, o Prof. Dr Rubens Belfort Mattos Jr contribuiu com essa reconstrução histórica. Ele escreveu uma síntese de sua ascendência, que dividimos com todos:
José Nunes Belfort Mattos era engenheiro astrônomo. Trabalhando com lentes, fez provavelmente o meu avô se interessar pela Oftalmologia. Waldemar Belfort Mattos, meu avô, se formaria na primeira turma da Faculdade de Medicina da USP mas pela gripe Espanhola quase morreu e formou-se no ano seguinte.
Estas são as informações que tenho. Contam também que era hábil desenhista desde a infância, foi um dos autores do Brasão da Faculdade de Medicina. Não sei se é verdade. Formado, foi para Campinas onde foi sócio e juntamente com Penido Burnier, do Instituto que ficou famoso.
Na década de 30 veio para São Paulo, continuou exercendo Oftalmologia e se envolveu muito em política tendo entrado, como muitos intelectuais da sua época no Partido Comunista Brasileiro onde foi colega não apenas de Prestes, mas também de Jorge Amado, Niemeyer e muito outros intelectuais.
Foi candidato como suplente à vaga de Senador juntamente com Portinari pelo Partido Comunista Brasileiro. Jamais desistiu de seus ideais e da prática da Oftalmologia. Morreu precocemente em 1958.
Meu pai, chamado Rubens, filho mais velho dele, exerceu também a Oftalmologia. Como eu e meu filho. Assim desta maneira, meu filho é a 5ª geração trabalhando com lentes e instrumentos ópticos. E a 4ª geração de médicos oftalmologistas, todos estudando Medicina aqui em São Paulo. A Clínica Belfort que meu avô fundou em 1933, inicialmente, na Rua Barão de Itapetininga, a partir de 1974 passou a funcionar na Rua Augusta onde estamos, meu filho e eu até hoje.
Para entendermos a genealogia, o Dr. Waldemar Belfort Mattos, filho do Sr. José Nunes, casou-se coma Sra. Jessy Belfort Mattos e tiveram 5 filhos, um deles é o Dr. Rubens Neddermeyer Belfort Mattos, que se casou com Rosa de Aquino Belfort Mattos, e tiveram quatro filhos, o Dr. Rubens Belfort Mattos Jr., que participou deste texto, é um deles.
Um certo dia, em 1984, o Dr. Rubens, pediu a sua avó, D. Jessy Belfort Mattos que escrevesse sobre sua vida, contasse suas lembranças da infância e da juventude na cidade de São Paulo.
Sua avó prontamente atendeu o pedido do neto e, em uma máquina de escrever, como nos tempos antigos, registrou parte de suas memórias daquela que é nossa cidade. Uma história singela e encantadora, surgiu dos escritos de D. Jessy, escrita em meados da década de 1980 sobre os anos 1940. Um belíssimo registro de época.
O texto estava até agora inédito e, hoje, por meio da generosidade do Dr Rubens Belfort de Mattos Filho, está sendo publicado em nosso site, para que todos possam ler e desfrutar das doces memórias de D. Jessy.
Dr Rubens, muito obrigada por sua atenção e grandeza compartilhando conosco a história de sua família que construiu a história da USP, desta cidade e também, da Avenida Paulista. Para deleite de todos, segue a história de D. Jessy…
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
3 thoughts on “O observatório da Avenida”
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Maria Luiza do Amaral Lapa
Adorei a maneira gostosa de escrever, ao ler me transporte … além de ser um registro histórico vivenciado. Parabéns!!!
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Luciana Cotrim
Muito obrigada pela leitura e comentário. Vem outros relatos por aí.
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