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  • A casa de Elias Calfat na Avenida Paulista

    Posted at 12:27 by Luciana Cotrim, on janeiro 26, 2024

    A Série Avenida Paulista traz as casas e histórias dos irmãos Calfat – neste texto, o Elias, o primogênico. Essa é casa dele, que ficava no número 117 da numeração antiga.

    Foto publicado no jornal Folha de São Paulo em meados dos anos 1980

    Depois deste Casarão

    Torre Jorge Flores

    Com origem longínqua, a família Calfat descende de Miguel V Calaphate, que foi um imperador bizantino no ano de 1041 d.C. No Brasil, os Calfat tornaram-se uma família tradicional, admirada e conhecida na sociedade paulista e carioca no século passado.

    Entre eles, dois moraram em casas próximas, na Paulista durante o início do século passado. Elias Calfat que é o personagem deste texto e Demetrio Calfat, que o texto pode ser lido aqui

    Fotocópia do manuscrito sobre Miguel V Calaphate, existente na Coleção Nacional do Museu Bizantino de Athenas.

    O casal que deu início à família que veio para cá, chamava-se Jorge e Anastacia Calfat. Eles tiveram 7 filhos: em ordem de nascimento, os homens eram Jorge Elias, Demetrio, Miguel e Gabriel Calfat e as mulheres, Julia, Sophia e Açussena. Os homens nasceram no Líbano, Demetrio em maio de 1880 e Miguel em agosto de 1882. Os dois últimos receberam a cidadania brasileira em dezembro de 1928, que demonstra que elegeram o Brasil como pátria.

    Irmãos Calfat

    Como era comum nesta época, o mais velho dos irmãos, que ficou conhecido apenas como Elias, deu nome à empresa que criaram: a Elias Calfat & irmãos. Ele também foi o primeiro a fixar residência na Avenida Paulista, em uma casa que era localizada entre a Alameda Joaquim Eugenio de Lima e a Rua Carlos Sampaio. Há registros que em 1916 pediu à Prefeitura da cidade para aumentar a construção da residência que se localizava na avenida Paulista, 117.

    O Sr. Elias casou-se com Malvina Calfat em Beyruth, aos 18 anos de idade, só depois eles vieram para o Brasil. O casal gerou as filhas Minerva, Arietta, Melanie, Anastácia, Violeta, e o mais velho, o único homem que levou o nome do pai e do avô, Jorge, como é de costume em famílias desta região. E, por fim, a filha caçula que nasceu após o falecimento do Sr. Elias. Sua esposa Malvina estava grávida de 3 meses quando ele se foi, mas deixou um lindo presente: Inês nasceu no dia 25 de dezembro, dia de Natal.

    Foto cedida por Maria Aparecida Calfat Mansur, do casamento de seus pais Inês Calfat e Fuad João Mansur. Sentada, a Sra. Malvina Calfat, viúva de Elias Calfat. Em pé, da esquerda para a direita, estão Arietta, Inês (a noiva), Jorge, Anastácia, Minerva, Melanie e Violeta.

    Sobre a casa da Avenida Paulista, originalmente tinha sido construída, em 1904, pelo engenheiro Eduardo Loschi. Elias Calfat comprou a casa e a reformou e ampliou, em 1916, contratando para o projeto e construção o arquiteto francês Victor Dubugras, que transformou a residência em um belo palacete, com elementos decorativos que lembravam o oriente.

    A empresa Elias Calfat & irmãos era estabelecida à Rua Quitanda, 8A. Além de importar e exportar, negociava diversos tipos de produtos. Nos jornais da época, encontram-se notícias de importação de armarinhos, tecidos, Secos & Molhados, vendidos por atacado. O Sr. Elias destacou-se na atividade de importação de gêneros de primeira necessidade e na exportação de café, e por isso era conselheiro consultivo da Associação Comercial de São Paulo.

    Com o crescimento acelerado da empresa, seu endereço mudou para a Rua São Bento e houve a necessidade de ser instalado um depósito para armazenamento dos materiais e, também, uma filial no Rio de Janeiro. Nesta época, já comercializavam muitos outros produtos, inclusive para órgãos públicos, como artigos para limpeza pública, alfafa para os cavalos, telhas de zinco e material asfáltico para o departamento de obras da Prefeitura da cidade.

    Anúncio da empresa Elias Calfat & Irmãos

    Os grandes armazéns da empresa foram construídos no bairro da Moóca, local em que muitas firmas construíram galpões de armazenagem naquele período, fato que transformou a região em eminentemente industrial. As edificações de Elias Calfat foram contratadas e realizadas entre 1916 e 1918, com projeto do famoso arquiteto Victor Dubugras e constituem uma relíquia do patrimônio da cidade.

    São aproximadamente 10.100m² entre as Ruas da Mooca, Palmorino Mônaco e Avenida Alcântara Machado. Atualmente, a proprietária do local é a empresa Armazéns Gerais Piratininga. Em 2018, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – CONPRESP tombou as instalações dos galpões.

    Construções de Victor Dubugras para indústria de Elias Calfat. Foto: MLD Arquitetura e Restauro.

    Elias Calfat também participou ativamente da Câmara de Comercial da Síria no Brasil e, se destacou à época da Primeira Guerra Mundial. O Brasil era considerado um país neutro, porém as relações entre Brasil e a Alemanha foram abaladas depois que o navio brasileiro Paraná, um dos maiores da marinha mercante, carregado de café, que navegava de acordo com as exigências feitas a países neutros, foi atacado por um submarino alemão, na França, e três brasileiros foram mortos.  Depois de muitas manifestações e ataques a navios, com a pressão popular contra a Alemanha, no dia 26 de outubro de 1917, o Brasil declarou guerra à aliança germânica.

    Em abril de 1917, os empresários sírios, entre eles Elias Calfat, constituíram a “Liga Síria Pró-Brasil e Aliados” que foi lançada para promover e defender o Brasil e, principalmente, garantir as exportações de café para a Europa. Várias comissões foram instauradas para cuidar dos interesses do grupo, sendo que Elias Calfat ficou responsável pela comissão do comércio de café e da comissão de despacho e aduaneira, fato que mostra sua importância na economia da época.  Muitos desses empresários enviaram para a guerra armamentos de todos os tipos – espoletas, estopins, pólvora, chumbo etc.

    Logo após esse período, Elias Calfat adoeceu e foi fazer um tratamento na cidade de Santos, onde veio a falecer em setembro de 1918. Foi velado na casa da Avenida Paulista e enterrado com pompas no Cemitério da Consolação. Seu túmulo, como de seu irmão Demetrio, são exemplares de arte tumular da cidade de São Paulo.

    Arte tumular nos jazigos da família Calfat, no detalhe busto e rosto de Demetrio Calfat.

    Neste período, os irmãos Demetrio, Miguel e Gabriel já haviam fixado residência nas proximidades, o palacete de Demetrio ficava na Avenida Paulista esquina com a Manuel da Nóbrega, quase em frente à casa de Elias.

    A mansão de Demetrio era localizada na Avenida Paulista, 523, na numeração atual.  O palacete mostra uma construção lindíssima, tanto na parte externa como internamente. O engenheiro responsável pelo projeto desta residência foi Alfredo Ernesto Becker, que tinha um estilo eclético, sendo que em seus trabalhos conviviam a linguagem neoclássica monumental, mais tradicional, até os geometrismos mais modernistas.

    O irmão Miguel morava em uma casa na Avenida Brigadeiro Luis Antonio, na numeração antiga 275, a três quadras da Paulista e o Gabriel, numa travessa da mesma avenida. O neto de Miguel, o Sr Carlos Eduardo Calfat Salem, contou algumas histórias da família e disse que o palacete de seu avô era muito parecido com o do seu tio-avô, Demetrio, como vemos na imagem abaixo do casarão de Miguel Calfat.

    Casa Miguel Calfat na Avenida Brigadeiro Luis Antonio.

    Ele também compartilhou conosco a foto de seu avô e a do casamento de seus pais, Gerogette Calfat e Eduardo Salem, um enlace que uniu duas famílias tradicionais sírias que moravam na Avenida Paulista, os Calfat e os Salem.

    Miguel Calfat, o terceiro irmão da família Calfat vinda para o Brasil.
    Casamento de Gerogette Calfat e Eduardo Salem. As e fotos foram fotografadas de fotos originais por Marcus Vinicius Uchoa de Mendonça.

    Dos irmãos, Miguel Calfat foi o último sucessor dos negócios da empresa, que se transformou nas Indústrias Têxteis Calfat, que tinha sua primeira fábrica na Avenida Brigadeiro Luis Antonio, em frente à Doceria Pão de Açúcar, pertencente ao pai de Abílio Diniz, que hoje é considerada a primeira loja da rede de supermercados. No início, quando a empresa ainda era chamada de Contofício Calfat, os artigos eram transportados em caminhões com este que aparece abaixo.

    Trabalhadores da empresa Calfat

    No lugar onde era localizada a casa de Elias Calfat, em meados anos 1980, foi construído um dos edifícios da Fundação Getulio Vargas, localizado no número 548 da Paulista e chamado Torre Luis Simões Lopes, em homenagem a um dos fundadores da FGV. Mais detalhes podem ser vistos no post do casarão do Tomaselli, que à época era vizinho de Elias Calfat.

    Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!

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    Autor: Luciana Cotrim

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      A Série Avenida Paulista conta as histórias dos casarões e das famílias que moravam na avenida e, também, dos edifícios que foram  construídos em seus lugares.

      Escrita por Luciana Cotrim, a série conta a história de mais de 80 casarões do século XX e dos edifícios atuais.

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