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  • A história e a casa de José Pucci – parte I

    Posted at 18:37 by Luciana Cotrim, on março 16, 2024

    A Série Avenida Paulista apresenta uma residência inédita, até hoje pouco divulgada: a casa de José Pucci, que era localizada onde hoje se encontra o Edifício Louis Pasteur.

    Quem vai contar a história dessa casa, hoje e na próxima semana, é o bisneto do proprietário: Rodrigo Pucci, a quem agradecemos a gentil contribuição e compartilhamento da narrativa familiar na casa da Avenida Paulista.

    Depois deste casarão

    Edifício Louis Pasteur

    Com vocês, o texto de Rodrigo:

    O número 346, originalmente 133A, da Avenida Paulista, na esquina com a rua Carlos Sampaio foi a residência da família Pucci, de 1929 a 1958.

    Os pais de Giuseppe Pucci

    O sr. Giuseppe Pucci nasceu em 31 de outubro de 1875 no sul da Calábria, em Zangarona, província de Catanzaro. Era filho de Pasquale Pucci e Caterina Ruperto. Formou-se engenheiro, ainda na Itália, provavelmente por volta da década de 1890.  Porém, com a difícil situação econômica do sul da Itália em fins do século XIX, início do XX, ele veio tentar a sorte no Brasil.

    Giuseppe Pucci em um dos terraços da mansão da Avenida Paulista.

    Já no Brasil, alterou seu nome para José Pucci. Isso aconteceu com muitos estrangeiros que procuravam se adaptar ao novo país, ao ponto de abrasileirar seus nomes, alguns até chegaram a pedir a cidadania brasileira.

    Em São Paulo, José Pucci chegou carregando uma carta de recomendação aos cuidados do Cavaglieri Luigi Schiffini, ou cavaleiro Luiz Schiffini, que era um importante industrial e comerciante italiano, já radicado em São Paulo há muitos anos. O cav. Schiffini presidia a “Società Calabresi Uniti” (Sociedade dos Calabreses Unidos), que dava apoio aos imigrantes vindos desta região italiana.

    Ele também possuía um importante centro comercial de chapéus e bengalas importados para os senhores da elite paulistana, a “Monzini & Schiffini”, na região central de São Paulo, na av. São João e na rua Líbero Badaró.

    O cav. Schiffini vinha a ter, também, ligações com a família Lombardi, que possuía comércio na região do Brás, a “Vicente Lombardi & Companhia”. Tanto que era padrinho de uma das meninas da família Lombardi, a Ambrosia Rachel.

    Através dele, José Pucci conheceu a família Lombardi, e especialmente Rachel, com quem veio a noivar e casar. O casamento de José Pucci e Rachel Lombardi ocorreu em 07 de outubro de 1905.

    José Pucci e sua esposa Rachel

    O casal residiu, num primeiro momento, na região da Consolação. Depois, mudaram-se, por volta de 1916/1917, para uma residência na avenida Brigadeiro Luís Antônio.

    José e Rachel Pucci tiveram nove filhos, todos com nomes compostos: Paschoal Armando, Mário Edgard Henrique, Renato Nestor Waldemar, Filomena Edmea, João Ricciotti, Roberto Orlando, Flávio Aurélio José, Eleonora Diana Margherita e Marcello Cláudio Federico. O primogênito nascera em 1906, e o caçula, em 1921. Todos os filhos estudaram no Colégio Dante Alighieri, na Alameda Jaú, onde se reunia a maior parte da classe média e alta italiana da época.

    Em foto realizada no final da década de 1940, o casal Pucci posa com os nove filhos no terraço da mansão da Avenida Paulista. Na foto, atrás, Waldemar, Marcello e João e, à frente, Filomena, Orlando, José Pucci, Flávio, Eleonora, D. Rachel, Mário e Armando.

    Com o passar dos anos, e com a renda do trabalho de engenheiro de José Pucci, a família, já melhor estruturada, adquiriu um terreno para construir sua nova residência na avenida Paulista. A construção começou em fins de 1928 e terminou em fins de 1929, no antigo número 133A, que, depois de 1930, mudou a sua numeração para 346.

    O projeto foi elaborado, em todos os detalhes, pelo próprio José Pucci, desde o desenho dos portões e detalhes nas paredes até os aspectos arquitetônicos mais marcantes da fachada. Como era um engenheiro meticuloso, Pucci registrou em fotografias todas as etapas da construção da casa, com explicações no verso de cada uma, escritas em italiano, que mostramos a seguir:

    Primeira etapa da construção da mansão da avenida Paulista. Na primeira foto, a frase “operai che misturano il concreto” (operários que misturam o concreto), 3 de dezembro de 1928. Ao fundo, observa-se a casa de Azevedo Marques, onde hoje é o prédio Nassib Mofarrej, onde está a galeria Monti Mare. Na segunda foto, “Frente da avenida Paulista e Carlos Sampaio”. A fachada da Paulista é a do canto direito, a lateral da casa é a parte mais comprida, na rua Carlos Sampaio.

    Segunda etapa da construção da mansão da avenida Paulista. No primeiro registro, “Vista di frente 23 – 1 – 29 – punto finale” E, no segundo, “Vista dalla rua Carlos Sampaio 23 – 1 – 29 Punto finale”. Esta é a vista dos fundos da casa, de quem sobe a rua Carlos Sampaio em direção à avenida Paulista.

    Na placa branca, da primeira foto da segunda etapa vê-se a numeração antiga da avenida no muro improvisado da construção: 133A junto com a palavra “tinta”, provavelmente indicando que havia sido pintado.

    Terceira etapa da construção da mansão, com fotos da vista da fachada da avenida Paulista. À direita, a inscrição “Com telhas e sem telhas 8 – 2 – 29” e, à esquerda, “Telhado prompto (pronto) pondo as cumieiras 18 – 2- 29.” (Cumeeiras são as peças que fazem a interseção das duas águas de um telhado).

    Última etapa da construção. 24 de maio de 1929, Vista do lado oposto da avenida. À direita da foto o sentido Paraíso, e à esquerda o sentido Consolação. Ao canto, a casa de Azevedo Marques.

    As grades do portão da rua, desenhadas por José Pucci, davam acesso a um lindo jardim. Atravessando-o, deparava-se com uma escadaria de mármore que levava a um terraço, decorado com arcos.

    Tal detalhe arquitetônico remetia à casa natal de José Pucci em Zangarona, que possuía o mesmo estilo de terraço com arcos na fachada da casa. Caso curioso, José Pucci não se lembrava de tal fato. Somente em 1966, quando sua neta Ebe visitou a casa da Itália, e trouxe a foto para seu avô ver, ele afirmara que não se recordava de tais detalhes. Foi um detalhe que se manteve em seu subconsciente quando planejara a construção da casa.

    Página 124 do livro “Brás, Pinheiros e Jardins: três bairros, três mundos”, escrito pela neta de José Pucci, a historiadora Ebe Reale, publicado em 1982 pela Livraria Pioneira Editora – Editora da Universidade de São Paulo.

    Na parte de cima da página, consta a foto da casa natal de José Pucci, em Zangarona, na Itália, que ainda existe hoje. Abaixo, a construção da Paulista que recorda o estilo de sua primeira residência.

    Fase final da construção da mansão da Paulista. 1929.

    No interior da casa, o hall social se abria com enormes portas de madeira de jacarandá, decoradas com vitrais coloridos, que iluminavam todo o ambiente com diversas cores quando batia a luz do sol. Colunas de mármore decoravam o hall, junto da escadaria que levava ao piso superior.

    O hall também dava acesso a várias pequenas salas do piso térreo. Ao lado direito, encontravam-se algumas salas de visitas, sala de estar e a sala de jantar. Ao lado esquerdo, mais algumas salas, tais como a sala de almoço e a sala de música. Um dos ambientes mais recordados pelos netos é a sala de jantar, cujas paredes eram todas de madeira de jacarandá talhadas, e os lustres eram de marfim.

    Uma das salas de estar, contígua ao hall, com as portas de madeira com vitrais, e as colunas de mármore que também estavam presentes no hall. Na foto, José Pucci, com as duas filhas, Eleonora e Filomena, e sua filha e primeira neta dele, Ebe, que se tornaria historiadora e a escritora do livro mencionado acima.

    O piso térreo ainda contava com uma ala, de uns dois cômodos que se isolavam por uma porta, na qual, por alguns anos, acomodou a irmã de D. Rachel, D. Maria Lombardi.

    Havia um porão enorme, com piso de mármore, nele uma mesa oficial de jogos, provavelmente de ping-pong, para a diversão da família.

    No andar superior, um amplo corredor dava acesso aos dez quartos da família: um para o casal, e os outros nove para cada um dos nove filhos. No fundo do corredor, havia um banheiro, além de um enorme móvel de madeira, onde se guardavam todos os lençóis e toalhas da casa.

    O quarto principal do casal também se encontrava numa “ala” separada do restante do corredor por uma porta. Neste espaço, havia uma antecâmara na qual o sr. José Pucci tinha à sua disposição os serviços de barbearia. Havia o banheiro, um outro cômodo com uma enorme mesa de mármore, e os aposentos do casal.

    Durante a década de 1930, a mansão esteve lotada com a plenitude de seus moradores, mas, ao longo da década de 1940, cada um dos filhos foi se casando e mudando para suas novas casas, todas próximas da avenida Paulista. Em 1949, faleceu D. Rachel.

    Em 1957, residiam na mansão apenas o sr. José Pucci, seu filho, Orlando, que permanecera solteiro, e sua filha Eleonora com sua filha, Liliana, neta do proprietário. Já a essa altura, Orlando havia contraído inúmeras dívidas decorrentes de sociedades malfadadas e dinheiro mal-empregado. Pelo fato de a mansão já estar grande demais, e para ajudar seu filho, o sr. José Pucci optou pela venda da mansão em 1958.

    Após a venda, o sr. José Pucci fez um acordo com quem adquirira o terreno para erguer o novo prédio, e comprou cerca de 10 conjuntos comerciais do edifício para repartir entre seus filhos, como forma de preservar a herança daquela casa.

    Acompanhe o próximo texto com a parte ll da história da casa de José Pucci.

    Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!

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    Autor: Luciana Cotrim

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    Postado em Casarões, Sem categoria | 2 Comentários | Marcado Avenida Paulista, Edifício Louis Pasteur, galeria Monti Mare, Pucci |

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      A Série Avenida Paulista conta as histórias dos casarões e das famílias que moravam na avenida e, também, dos edifícios que foram  construídos em seus lugares.

      Escrita por Luciana Cotrim, a série conta a história de mais de 80 casarões do século XX e dos edifícios atuais.

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