Esta é a história da casa que ficava no antigo número 99 da Avenida Paulista, propriedade de Joaquim da Cunha Diniz Junqueira, um fazendeiro que realmente podia ser chamado de Barão do Café.

O local também foi o atelier do famoso estilista Dener.

Depois deste casarão
A família Junqueira foi grande produtora e exportadora de café e três de seus membros possuíram casa na Avenida Paulista. Ao lado desta, no número 101, havia a casa de José Frausino Junqueira e, no número 122, a residência em nome de seu filho José Mário Junqueira Netto (a história da casa e de ambos pode ser lida neste link).

Joaquim da Cunha Diniz Junqueira, mais conhecido por Quinzinho da Cunha, era um aristocrata, membro de uma das famílias mais tradicionais do interior paulista. Residia em um chalé em Ribeirão Preto.
Nascido em São Simão, em 14 de maio de 1860, de família tradicional de fazendeiros. Os Junqueira, inicialmente, valeram-se das terras para caça, plantio de subsistência e pastagem. A partir de 1870, partiram para o plantio do café e, paulatinamente, se transformaram em grandes produtores e exportadores. Eram ligados por descendência à nobreza e antigos possuidores de títulos monárquicos.

Quinzinho era filho do Tenente-Coronel Francisco Maximiano Alves da Cunha e D. Anna Osório Diniz Junqueira. Em 1882, casou-se com D. Maria Emerenciana Junqueira, quando esta tinha 14 anos, e com ela teve os seguintes filhos: Osório, Anna, Gabriela, Luís, Francisco e Augusto.
Foi coronel da Guarda Nacional do Império do Brasil, advogado, cafeicultor e produtor de gado. Teve grande evidência política na região de Ribeirão Preto. Foi vereador municipal na legislatura de 1889 e líder regional do Partido Republicano Paulista (PRP).
O seu maior rival político, Francisco Schmidt, conhecido como o Rei do Café, também tinha casa na Avenida Paulista (a história pode ser lida neste link).
A filha de Quinzinho, Gabriela, foi casada com um de seus mais promissores amigos, Altino Arantes Marques, que foi deputado federal, secretário do interior e presidente (governador) do Estado de São Paulo, peça fundamental nas políticas de valorização do café.

Não temos informações sobre a casa da Avenida Paulista, que era localizada na esquina da Alameda Joaquim Eugenio de Lima, apenas sabemos que ela esteve em seu nome até pelo menos 1930. Depois disso, só localizamos informações quando o endereço se torna o ateliê de alta costura de Dener.

Dener Pamplona de Abreu nasceu em Marajó no dia 3 de agosto de 1937. Em 1945 foi para o Rio de Janeiro. Três anos depois, aos 13 anos de idade, foi trabalhar na famosa butique carioca Casa Canadá.
Em 1954, para trabalhar na butique Scarlett, transferiu-se para São Paulo. Inaugurou seu próprio ateliê, denominado Dener Alta Costura, na praça da República três anos depois. Mais tarde, em 1958, seu ateliê foi transferido para a Avenida Paulista.
Além da imagem inicial, em que Dener posa na frente da casa, as únicas fotografias que conseguimos são de um editorial de moda realizado no jardim do atelier, com a modelo Darci Ferrante.



Diferente dos demais mitos da época, Dener se destacou por ter algo de transgressor e, ao mesmo tempo, circulou à vontade na fechada aristocracia paulista dos anos 60.
Integrado e cultuado pela sociedade, conseguiu projeção nacional e internacional, posição conquistada por ter sido o “costureiro oficial” de Maria Teresa Goulart, esposa do Presidente João Goulart, sendo a primeira-dama do país entre 1961 a 1964.

O interior de seu atelier mostra a magnitude que a casa tinha com um ambiente redondo com pé direito alto e portas grandes e pesadas. Percebam na foto abaixo que as paredes parecem estar sendo pintadas. No centro, Dener e seus gatos sentado em uma cadeira alta com lindas “manequins” (como se dizia na época) trajando seus modelos, ao seu redor. Uma postura que também, demonstra o seu espirito transgressor.

Dener recebeu muitos prêmios, participou de inúmeros eventos e festivais, como o do cartaz abaixo, do Festival de Moda realizado anos 1959 e 1960, e que foi a imagem que comprovou que seu atelier ficava no número 810 da Avenida Paulista.

Dener se casou duas vezes, em seu primeiro matrimônio, com uma de suas modelos, Maria Estela Esplendore, fez o vestido da noiva em seda pura e tulê francês. Com ela teve dois filhos Frederico Augusto, que faleceu nos anos 90, e Maria Leolpoldina.

Nos anos setenta casou-se novamente com Vera Helena Camargo separando-se no ano seguinte. Dener fecha seu ateliê em 1976, mas continua atendendo algumas clientes em casa. Faleceu em 1978, aos 41 anos, devido a complicações de cirrose hepática, dizem que ele tinha problemas com álcool, mas sua mãe sempre afirmou que ele morreu devido a hepatite. Quem sabe?
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
One thought on “O atelier de Dener na Avenida Paulista”
Pingback: O clássico Edifício Savoy na Paulista | Série Avenida Paulista