No lugar do palacete da Baronesa Arary foi erguido o polêmico, e cheio de histórias, Edifício Baronesa de Arary, que se configurou como um dos maiores e mais antigos prédios residenciais da Avenida Paulista.
Antes deste edifício
Com projeto do arquiteto Simeon Fichel, localiza-se ao lado do Parque Trianon e quase em frente ao Masp, o imóvel possui 559 apartamentos (de diferentes tipos) e cerca de 3,8 mil moradores. O prédio conta com quatro blocos: o Côte d’Azur, o Rajá, o Capri e o Acapulco. São 25 unidades com três quartos no bloco Côte d’Azur, 431 quitinetes nos blocos Rajá e Capri e cem apartamentos de dois quartos no bloco Acapulco.
O início das obras do Condomínio Residencial Baronesa de Arary foi conclamado nos jornais da época, que anunciavam: “Aproveite estes alicerces para levantar seu lar e suas economias” (edição de 25 de setembro de 1954 de O Estado de S. Paulo). O anúncio afirmava que o imóvel estava “destinado a uma valorização sem precedentes”.
Sem dúvida, naquela época a Paulista estava mudando de fisionomia. Conforme o jornal, “no lugar dos aristocráticos casarões começavam a ser erguidos os edifícios”. No início vieram os prédios mais luxuosos e depois, os condomínios nos quais conviveriam pessoas de diferentes níveis econômicos, sociais e culturais, como o Baronesa de Arary. A promessa de valorização se concretizou. Até hoje a região é uma das mais nobres da cidade.
Em outro anúncio, no mesmo jornal, destaca-se a construção do edifício com a seguinte frase nacionalista: “Já começou nosso árduo trabalho para o cumprimento de um honroso compromisso: Entregar à cidade seu mais suntuoso edifício residencial: Conjunto “Baronesa de Arary”. Na parte de baixo, as condições de compra, que seriam facilitadas durante a construção.
Polêmico e cheio de histórias

A história do Baronesa, como é chamado o edifício, como publicado na revista Carta Capital, varia “entre brigas entre condôminos, ações judiciais, batalhas internas pelo poder, períodos de prestígio e decadência, deterioração e desapropriação”, que foi contada pelo jornalista José Venâncio de Resende, no livro “Baronesa de Arary – Nobres, Pobres, Artistas, Oportunistas” de 2003.
“O período de glória foi nos anos de 1960, quando virou ponto de encontro da classe teatral e centro de difusão da alta moda, graças à Casa Vogue”.
Trecho do livro Baronesa de Arary – Nobres, Pobres, Artistas, Oportunistas “, de José Venâncio de Resende
A cobertura pertencia ao casal Walmor Chagas e Cacilda Becker, que utilizava o salão de festas para saraus, encontros artísticos e, posteriormente, um salão de debates sobre a censura imposta pelo regime militar. Também residiram lá o também ator Sérgio Cardoso, o pianista Pedrinho Mattar e Elke Maravilha.
Sergio Cardoso em seu apartamento no Baronesa de Arary
Revista Manchete, 1969, Edição 891
Depois dos anos 70 o edifício caiu em deterioração, tornando-se residência de prostitutas, camelôs e assaltantes, ficou conhecido como o Cortição ou Treme-Treme da Paulista. O prédio chegou a ser interditado em agosto de 1993, na gestão do Prefeito Paulo Maluf, por falta de segurança e por colocar em risco de blecaute a avenida Paulista.
Segundo o Contru (Departamento de Controle de Uso de Imóveis), que inspecionou o edifício, toda a parte elétrica do prédio funcionava com gambiarras e clandestinamente, não havia extintores e mangueiras contra incêndio funcionando, o lixo se acumulava nos corredores, não havia iluminação de emergência e os elevadores estavam desligados. Todos os apartamentos foram lacrados e os moradores, obrigados a se alojar em outros lugares. A interdição terminou apenas em 1998.
Mais uma curiosidade da história do Baronesa: o edifício foi tela para TCHENTCHO®, ou Mauro, que deixou sua marca lá. Ele foi um dos mais conhecidos pichadores da história da cidade de São Paulo nos anos entre 1980 e 1990. Quem lembra dessa época, vai lembra que pichação era crime e tudo era feito na calada da noite, bem na surdina. Como será que ele chegou ao topo do edifício?

Pichação do TCHENTCHO® nos anos 1980
Depois disso, uma proprietária de vários apartamentos resolveu ser síndica do edifício. E assim permaneceu por vários anos. As brigas e controvérsias também continuaram com os condôminos opositores de sua gestão.
Em 13 de dezembro de 2013, a Revista Veja São Paulo publicou: “tumulto em eleição para síndico termina na delegacia. Alegando fraudes, grupo de condôminos do Baronesa de Arary, na Paulista, contesta a atuação da família que se reveza no posto administrativo há mais de uma década”.

Infográfico: Veja São Paulo, 2013
Esses condôminos que se opunha à administração do prédio, se uniu e formaram um grupo nomeado de Nova Baronesa, que se manifestava por meio de um blog e uma página no Facebook.

A descrição da página dizia: “Desde que o Conjunto Residencial Baronesa de Arary foi inaugurado na década de 50, ele foi palco de muitas histórias e polêmicas. Em pleno século 21, continuamos vivendo um mini retrato de Brasília aqui no coração de São Paulo. A Nova Baronesa é uma chapa criada por moradores cansados desse cenário e que acreditam em um país transparente e igualitário. Inspirados pelo grito de milhões de brasileiros nas ruas por um novo Brasil, nossa chapa marca o início de um novo tempo nesse edifício com mais de 3.000 moradores e milhões de histórias para contar. Nos ajude a compartilhar e escrever essa nova história!”

“Continuam pagando R$ 1.000,00/mês para ‘pentear’ um gramado que praticamente não existe.” Foto de Jurandir Rodrigues em 08/01/2014
Parece que a iniciativa do grupo não foi para frente e a polêmica permaneceu até 2018.
Não podíamos esquecer de mencionar que, em maio de 2011, foi inaugurada, embaixo do edifício, uma Loja Marisa, a segunda na avenida com um espaço de 1.060 metros quadrados. Vejam que o portão do prédio é integrado à fachada da loja. Até hoje os moradores reclamam que a Marisa prometeu, e não fez, uma rampa no degrau que existe na portaria do edifício.

Fachada da Loja Marisa abaixo do Edifício Baronesa de Arary
Foto: Rodrigo Capote/Folhapress
Um MasterChef candidato a síndico
Para encerrar, a mais nova curiosidade do edifício: no fim de 2018, um morador famoso, cansado das questões do condomínio, lança sua candidatura a síndico: o chef de cozinha Henrique Fogaça, proprietário dos restaurantes Sal Gastronomia, Cão Véio e Jamille, além de jurado e apresentador do programa MasterChef Brasil, que até folhetos para divulgação e apresentação foram distribuídos no prédio.

No dia da escolha do novo síndico, a empresa que administra o condomínio, cancelou a assembleia e 80 moradores se reuniram na praça Alexandre Gusmão e conclamaram Fogaça o novo síndico, mas a empresa entrou na justiça e o caso foi parar na polícia.

Moradores do condomínio Baronesa de Arary se reuniam na praça Alexandre Gusmão após assembleia de condomínio ser cancelada
Foto: Reprodução
Fogaça diz ao jornal Agora: “Tem 3.000 pessoas aqui, [o prédio] arrecada bastante dinheiro por mês, mais de R$ 300 mil”, continua ele, que defende a redução do custo do condomínio pelo número imenso de pessoas que há no prédio. “E falta uma pintura no prédio, um acabamento melhor, dependência de funcionários melhor, a garagem melhor.”

Chef Henrique Fogaça na frente do prédio Baronesa de Arary, onde pretende ser síndico
Foto: Rivaldo Gomes/ Folhapress
“Resolvi concorrer a síndico, porque tem várias pessoas da oposição aqui nesse prédio lindo, emblemático, maravilhoso, onde a vista é demais. Só que essa gestão já está há 18 anos no poder e poderíamos ter (um valor mensal de condomínio) bem melhor”
Chef Henrique Fogaça

Foto: Gabriel Cabral
Realmente o Baronesa de Arary tem muitas histórias e polêmicas para contar, vamos acompanhando…. E vida que segue.
No mês de julho de 2019, o reinado dos síndicos do Baronesa de Arary chegou ao fim. Fogaça foi eleito o novo síndico. A Revista Veja publicou
Após duas tentativas frustradas, Fogaça é eleito síndico de condomínio
Chegou ao fim, nesta segunda (15), uma longa novela para os moradores do condomínio Baronesa de Arary, localizado na Avenida Paulista. No epicentro do caso estava a até então administradora do prédio e o chef Henrique Fogaça, opositores em uma eleição de síndico. O caso rendeu uma dupla de assembleias que acabaram em barraco, confusão e, por fim, anulação do pleito.
A situação mudou apenas na noite de ontem, quando Fogaça acabou escolhido para comandar a gestão do edifício após votação acirrada. O cozinheiro ficou com 52% dos votos contra 48% de seu concorrente, ligado ao grupo atualmente na gestão do endereço. O novo síndico do pedaço deve cumprir mandato de um ano com direito a reeleição, caso deseje.

Antes deste edifício
Baronesa de Arary – O Casarão
Conheça a mansão projetada por Victor Dubugras e construída em 1916.
3 thoughts on “Baronesa de Arary – O edifício”
antonio carlos
foi reeleito agora… e atualmente a administradora é a BRCondos
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Luciana Cotrim
Que boa noticia!!!
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Tiago
Dizer que esse prédio é lindo, o Fogaça foi longe demais na afirmação.
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