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  • O morador da Paulista, Alberto de Paula Silva Pereira seria português?

    Posted at 14:42 by Luciana Cotrim, on março 20, 2021

    Hoje tentaremos resgatar a história da família de Alberto de Paula Silva Pereira que residiu na Avenida Paulista, 106 (numeração antiga). Não estão disponíveis informações a respeito da família Silva Pereira, portanto a narrativa que teremos aqui parte de notícias divulgadas entre 1985 e 1920, que foram encontradas em jornais da época, tais como “O Correio Paulistano” e o “O Combate”.

    Depois deste casarão

    Edifício Barão de Serro Azul

    Esta fotografia disponível do palacete é oriunda dos documentos do acervo de Guilherme Gaensly, que fotografou a casa em 1900. Segundo o pesquisador Benedito Lima Toledo, autor do Álbum Iconográfico da Avenida Paulista, o projeto e a construção da casa, realizada em 1895, foi do engenheiro de obras João Sivborg.  

    Residência Alberto de Paula Silva Pereira 1900 | Foto: Guilherme Gaensly.

    É tudo o que sabemos da mansão! Conseguimos capturar alguns dados sobre Francisco de Paula Silva Pereira, que apresentamos a seguir, com a ressalva que as conclusões são meras hipóteses, construídas a partir de anúncios e reportagens publicadas nos jornais referidos.

    Começamos pelo patriarca da família, que deve ser de origem portuguesa: o Sr. Francisco de Paula Silva Pereira que era casado com Adelina Elizabeth de Paula Silva Pereira. O casal teve a imensa quantidade, para os dias atuais, de 11 filhos: Eduardo, Adelina, Florence, Francisco, Maud, Ethel, Maria Augusta, Ernesto, Carlos, Dora e, finalmente, Alberto, que é o indicado como proprietário do casarão da Avenida Paulista.

    Família Pereira e Silva.

    Pudemos reconstituir a composição da família por meio do anúncio de falecimento de um dos irmãos de Alberto, o Eduardo. Vimos também que duas de suas irmãs, Dora e Florence, casaram-se com dois membros de uma mesma família de sobrenome Ennor.

    Eduardo de Paula Silva Pereira

    Pressupomos que o endereço em que saiu o féretro de Eduardo, a Alameda Joaquim Eugenio Lima, seja o endereço do falecido, portanto, próximo à casa da Avenida Paulista, que, na verdade, era de seu pai, Francisco, e que foi passada a seu filho, Alberto, quando da sua morte.

    A família Pereira foi uma das primeiras a habitar a Avenida Paulista, logo depois de sua inauguração, como podemos ver nessa foto de 1897.

    Parece que Francisco, além de importador, foi um daqueles homens que vendia de tudo, um comerciante e vendedor em todos os seus sentidos. Era proprietário de uma empresa chamada “Francisco de Paula Pereira & Filho”, este filho pressupomos ser Alberto, uma firma de comércio que vendia diferentes artigos e que teve diferentes endereços. Vejam só:

    A empresa vendia Vinhos do Porto, genuínos do D’Ouro (região de Portugal), das categorias Sobremesa, Duque, Moscatel e Superior. Além de publicar quem exportou para o Brasil, a empresa vangloriava-se em ser os “únicos importadores do Estado de S. Paulo”.  

    Além do vinho, no anúncio na parte inferior, também vendia cimento Portland, que dizia ser “de primeira qualidade em barricas de 120 quilos, …garantido”. Estas propagandas sempre foram veiculadas com o endereço da Rua da Quitanda, número 15A. Mesmo para a época, é estranho vender vinho e cimento no mesmo local.

    Já em outro endereço, à Rua José Bonifácio, 39, a “Francisco de Paula Pereira & Filho” anunciava a venda de farinha de trigo, vinda dos Moinhos de Caracaranã, de Rosário e de Santa Fé, o primeiro local parece ser um lago em Roraima e, os dois últimos, são cidades do Maranhão. A farinha era categorizada como Patente 0, Fenix 0 e Especial Primeira. E, claro, a empresa era a única no estado de S. Paulo.

    Neste mesmo endereço, ele fez um anúncio dirigido “aos Sr. Proprietários, engenheiros, arquitetos e mestres de obra informando que eles, Francisco e o Filho, receberam uma grande quantidade de ardósia, “própria para ser utilizada para cobertura de casas”, que veio pela barca Alliança, vinda de Londres, Lisboa e Porto.

    Descobrimos, também, que um de seus clientes era o governo. Na notícia abaixo, a Secretaria da Agricultura autoriza a Superintendência de Obras Públicas a adquirir da empresa Francisco de Paula Silva Prereira & Filho, tubos de barro vidrado e 30 sifões interceptores que seriam utilizados nos serviços de esgoto na capital.

    Supomos, então, que o empresário começou no ramo alimentício e, em seguida, focou na área de construção civil. Mas não parou por aí, o próximo negócio da empresa foi na área de serviços: venda de seguros.  A firma tornou-se também representante da empresa inglesa Northeam Assurance Company, que vendia seguros contra incêndio e existia desde 1836.

    Presume-se que este negócio tenha gerado problemas à empresa de Francisco, isso por conta de algumas publicações realizadas, por acionistas e segurados, da Northeam Assurance Company. Os anúncios diziam:

    Aos agentes Srs. Francisco de Paula Pereira & Filho pergunta-se: a Companhia Importadora Paulista já foi indenizada dos prejuízos havidos em setembro último? E assina: Um acionista.

    Pergunta-se aos Srs. Francisco de Paula Pereira & Filho qual o valor do depósito que a Northeam Assurance Company tem no Tesouro Nacional para garantir os milhares de contos que a companhia assegurou neste Estado.

    Pede-se a bondosa atenção do Sr. Dr. Procurador Geral da República para as leis sobre este assunto. E assina: Um segurado.

    Encontram-se vários anúncios deste tipo nos jornais da época, fato que nos indica um certo problema em pagar os segurados quando estes precisavam e, por isso, acionavam o seguro. Será que a empresa Francisco de Paula Pereira & Filho passou por dificuldades financeiras? Será que não deu conta ou fugiu de pagar as apólices? Ou será que a empresa inglesa deu um calote? Provavelmente, nunca saberemos.

    Em novembro de 1898, um anúncio destinado ao mercado, informa que mesmo com o falecimento do Sr. Francisco de Paula Pereira, sócio da empresa, a Francisco de Paula Pereira &Filho continua a representar a Northeam Assurance Company. Imagina-se que a partir daí, Alberto, filho de Francisco, tenha tomado o seu lugar nos negócios.

    Durou pouco. Sabemos que, como publicado, Alberto foi considerado sucessor da extinta firma de seu pai. E, mais adiante, verificamos que foi decretada a falência de Alberto de Paula Pereira. Muitas notícias existem de processos judiciais a favor e contra pai e o filho. Em uma delas, o Sr. Alberto e sua mulher este relacionados a uma ação hipotecária por conta de uma penhora realizada.

    A casa aparece, em 1927, lista telefônica em nome de uma de suas filhas: Adelina Silva Pereira. É possível que a casa tenha sido comprada e demolida em seguida, ou anos depois, não sabemos exatamente. Descobrimos que, em 1952, a casa estava em nome de Dalcy Ferraz Pereira. Será que era da família? Então, para apreciarmos um pouco mais a linda mansão dessa família, vejam mais uma bela foto.

    Confirmando a informação acima, nosso leitor Edward Mateus, em um comentário contou que Dalcy era tia de seu avô Edward Silva Pereira, quando ela morreu, os herdeiros venderam a casa para saldar dívidas junto à Fazenda Pública e do dinheiro que restou, seu avô montou uma empresa de lentes.

    Depois desta tentativa de reconstruir a história da família, tivemos a satisfação de receber um contato de um descendente da família de Francisco de Paula Silva Pereira, que muito gentilmente compartilhou algumas informações sobre a família.

    Agradecemos ao Sr. Ricardo Pereira Corradini, bisneto de Francisco e neto de Eduardo de Paula Silva Pereira, que era o filho caçula da família.

    Vamos ao que ele nos conta:

    Francisco de Paula Silva Pereira era português, provavelmente do Porto, e casou-se com Adeline Elizabeth, que era inglesa. Consta que Adeline Elizabeth teria tido contato com a aristocracia da corte, porque minha mãe – Adelina – tinha um anel de esmeralda que teria sido um presente dado à minha bisavó.

    Minha bisavó materna, Adeline Elizabeth, que era inglesa.

    O casal Francisco e Adeline Elizabeth vieram para o Brasil, direto para São Luiz, capital do Maranhão. Parece que tinham fazenda de cana-de-açúcar para comercialização do produto.

    Francisco e Adeline tiveram 11 filhos. Os últimos 5 filhos nasceram em São Luiz do Maranhão, os outros 6 devem ter nascido em Portugal.

    Os que nasceram no Brasil, em São Luiz, foram os seguintes: Maria Augusta de Paula Silva Pereira, em 3/agosto/1873; Ernesto de Paula Silva Pereira, em 30/junho/1875, Carlos de Paula Silva Pereira, em 9/agosto/1877; Dora de Paula Silva Pereira em 24/novembro/1881; Eduardo de Paula Silva Pereira, em 19/dezembro/1883. Todos foram batizados na Igreja de N. Sra. Do Carmo, em São Luiz. Então, Alberto de Paula Silva Pereira, proprietário da casa da Avenida Paulista, que talvez seja o primeiro filho, deve ser português.

    Parece que, na libertação dos escravos pela Princesa Isabel, em 1888, houve tumulto no Maranhão, tendo sido queimados navios, casas, propriedades etc. O meu bisavô, Francisco, teria ficado muito amargurado, perdido dinheiro e bens, envelhecendo de desgosto. Foi então que a família se mudou para São Paulo, largando tudo para trás, abandonando tudo, e trazendo todos os membros de navio, com seus bens pessoais. Nunca mais alguém da família foi reclamar as eventuais posses no Maranhão.

    A partir de então, temos notícias da casa na Av. Paulista, casamentos, falecimentos, negócios etc. Certamente era uma família abastada.

    Um casamento da família, parece que foi na casa da Av. Paulista. Creio que era casamento da Florence, mas não tenho certeza. Minha mãe, Adelina Elisabeth, é a menina à frente, no primeiro plano à esquerda, seguida dos irmãos, Eduardo e Zoraide.

    Meu avô, Eduardo, era o filho mais jovem de Francisco e Adeline.

    Parece que alguns dos filhos mais velhos foram estudar na Europa… Mas, diz a lenda, que se divertiram muito em vez de estudar. Também não eram de muito trabalhar ou grandes empreendedores, ao que tudo indica.

    A família grande e os gastos provavelmente fizeram com que perdessem a casa na Av. Paulista para agiotas ou bancos, não sei detalhes. Meu avô Eduardo trabalhou no Bank of London e deixou pensão post mortem à minha avó Maria Isabel. Eles residiam na Alameda Joaquim Eugênio de Lima.

    Terminamos com essa linda foto dos avós do Sr. Ricardo: Eduardo e aa esposa Maria Isabel, com os 3 filhos: Zoraide, à esquerda, Adelina Elisabeth, minha mãe e Eduardo.

    É muito bacana quando podemos enriquecer a história das famílias com fotos e detalhes que só mesmo os descendentes podem contar.  E esse é o caso desta bela narrativa. Agradecemos novamente ao Sr. Ricardo por compartilhar conosco esses fatos e essas lindas fotos.

    Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!

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    Autor: Luciana Cotrim

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