O palacete de número 114 da Avenida Paulista com a Alameda Campinas, erguido em 1920, era residência do Dr. Numa de Oliveira (1870-1959). A mansão foi projetada em 1916 pelo engenheiro português Ricardo Severo e é considerado um dos primeiros e mais importantes exemplares da arquitetura residencial em estilo neocolonial.
Segundo o livro “Ricardo Severo: da arqueologia portuguesa à arquitetura brasileira”, escrito por Joana Mello, o engenheiro era um tradicionalista português que defendia a preservação da arquitetura colonial brasileira.

Depois deste casarão
Ele colocou em prática suas ideias, quando projetou e construiu a mansão do banqueiro Numa de Oliveira, que segundo o livro “o apoiava em outras iniciativas culturais de cunho nacionalista. D. Amélia, esposa do banqueiro se interessava pela preservação da arquitetura tradicional paulistana. O palacete era apresentado como o primeiro, mais importante e famoso exemplar do neocolonial na arquitetura de residências.
O arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo, em seu livro “Álbum iconográfico da Avenida Paulista” afirma que
O palacete de Numa de Oliveira era um exemplo do estilo neocolonial e a mais completa realização desse movimento na avenida.
Nos balcões do pavimento superior viam-se gelosias (Grade de madeira que se coloca no vão de janelas ou portas para proteger da luz e do calor) e muxarabiês (Muro de concreto em forma de arabesco que filtra a luz). Destaca-se a cobertura de telha tipo capa-e-canal com longos beirais.


Sobre os ambientes do casarão, identificamos uma descrição detalhada dele no trabalho “Neocolonial e sua Influência”, de Thamiris Bernardes da Silva, que foi baseada no livro de Maria Cecilia Naclerio Homem. Trazemos para cá um trecho do trabalho de Thamiris que apresenta a casa do Dr. Numa e que pode ser conferido nas imagens acima.

Vamos conhecer mais sobre o seu proprietário, o Dr, Numa de Oliveira. Ele nasceu no Rio de Janeiro em 29 de janeiro de 1870. Exerceu várias funções importantes na vida pública de São Paulo, foi secretário da Fazenda, além de ter integrado mais de uma Missão Econômica do Brasil no Exterior.
Antes de residir na Avenida Paulista, Numa de Oliveira, morou na Rua General Jardim, em uma bela, mas modesta casa projetada por Victor Dubugras, como vemos na foto abaixo de 1903.

Em outro artigo, agora de autoria de Amanda Bianco Mitre podemos conhecer um pouco mais da vida do Dr. Numa de Oliveira. Ela conta que:
Apesar de sua proeminência econômica e social, Gambeta (2013, p.233) ressalta que “[…] ele foi um dos raríssimos homens de família pobre a fazer parte da elite política paulista, ao longo de toda a Primeira República”
Natural do Rio de Janeiro, em 1891 casou-se com a viúva Amelia Adelaide Sabino e logo após o casamento mudaram-se para São Paulo. Através da influência e amizade com o irmão de Amelia, Horácio Belfort Sabino, Oliveira tornou-se taquígrafo e juntos constituíram uma firma de taquigrafia, passando a prestar serviços para o legislativo federal e estadual. A empresa, que viria a ser expandida para o Rio de Janeiro foi responsável pelo enriquecimento dos cunhados (GAMBETA, 2013).
Muito aconteceu até se tornar banqueiro e presidente do Conselho Administrativo do Banco de Comércio e Indústria de São Paulo, foi também secretário da Fazenda do Estado de São Paulo. Neste posto, foi um articulador com as instituições financeiras e banqueiros ingleses para a concessão de financiamentos bancários destinados à compra dos estoques de café no Brasil. No dia 07 de junho de 1933, Getúlio Vargas o recebeu em audiência para tratar do acordo com os ingleses.
Tanto o presidente quanto os tenentistas (O Tenentismo foi o nome dado ao movimento político-militar, e à série de rebeliões de jovens oficiais de baixa e média patente do Exército Brasileiro no início da década de 1920, descontentes com a situação política do Brasil) não gostavam da política de Numa de Oliveira, que acabou denunciado por trabalhar em conluio com os capitalistas internacionais contra os interesses brasileiros. Foi chamado de corrupto e demitido do cargo. Um tema em voga hoje, não é mesmo?
Por outro lado, Dr. Numa foi condecorado como Oficial da Legião de Honra da França. Vejam só!

Em raro retrato, pois o Dr. Numa não gostava de ser fotografado, temos a possibilidade de conhecê-lo pela grata gentileza de sua bisneta, que compartilhou conosco essa relíquia.
Em 18 de agosto de 1996 na matéria sobre o antigo Mappin, Matinas Suzuki, do jornal Folha de São Paulo, escreveu uma curiosidade sobre Dr. Numa que replicamos abaixo:
Conta-se, por exemplo, que o banqueiro Numa de Oliveira, presidente do Banco Commércio e Indústria de São Paulo, andava, como alguns de seus colegas de hoje, com a corda no pescoço.
Numa detestava aparecer. Dizia-se que ele era famoso por correr com a bengala em riste, sempre que ouvia o espocar de um flash, atrás do fotógrafo louco para dar o furo de imagem para o jornal.
Com os rumores sobre a bancarrota do Commércio e Indústria, prosperaram os boatos dizendo que Numa teria se suicidado. Os amigos do banqueiro não tiveram dúvidas: aconselharam Numa de Oliveira, contra o seu hábito, a tomar um chá das cinco no Mappin da praça Patriarca, onde a loja residiu até 1939.
Seria a declaração em carne e osso à praça de que ele estava vivo.
A cidade de São Paulo mudou. O Mappin também mudou. Mudou de endereço, foi para a frente do Teatro Municipal, e mudou o perfil da sua clientela.

O Banco Comércio e Indústria de São Paulo foi fundado em 19 de dezembro de 1889, um mês após a Proclamação da República do Brasil. A iniciativa foi responsabilidade de grandes empresários da elite cafeeira paulista, tendo como principais acionistas Theodoro Quartim Barbosa, Antônio da Silva Prado, J.J. Abdalla e Elói Chaves.
Enquanto presidente do Comind, o Dr Numa foi responsável pela fase de consolidação e expansão vertical do banco, iniciada em 1940. O Dr. Numa de Oliveira destaca-se, ainda, pelo fato de haver exercido cargo de direção no COMIND, durante um longo período de 42 anos.
Faleceu em 31 de outubro de 1959 e batizou uma rua com seu nome, que fica na Vila Leopoldina.
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
Ficamos devendo uma foto de Numa de Oliveira! Se alguém tiver alguma…

7 thoughts on “Da casa do Dr. Numa de Oliveira ao Edifício Numa de Oliveira”
Salatiel Gonçalves
É muito importante, saber um pouco da história de São Paulo! Principalmente da av. Paulista! Na minha opinião deveria ter sido preservada com seus camarões! Fato que iria mostrar como era, nosso passado, nossa história! Mas hoje somente temos esta lembrança, através das fotos.
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Luciana Cotrim
É verdade, pelo menos mais alguns casarões preservados nos daria a dimensão de nossa história.
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Vera Lucia Wanderley
TENHO O PRIVILÉGIO DE TER UMA FOTO COM NUMA DE OLIVEIRA.
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Luciana Cotrim
Olá Vera, que bacana. Gostaria de enviar para nós? Poderíamos publicá-la.
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Jeremias Oliveira
É MUITO IMPORTANTE CONTRIBUIR COM A MEMÓRIA DE PESSOAS IMPORTANTES DE SÃO PAULO.
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Luciana Cotrim
Muito obrigada pelo comentário!
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