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  • Schaumann, Andraus, Lotaif moraram em frente à prainha da Paulista

    Posted at 17:21 by Luciana Cotrim, on abril 30, 2022

    É verdade que a atual Avenida Paulista guarda, pelo menos, uma semelhança com a Paulista do início do século XX: a mistura de estilos arquitetônicos dos casarões era tão evidente como a que hoje vemos nos prédios comerciais e residenciais existentes.

    Depois deste casarão

    Edifício Paulista 867

    O casarão que é nosso tema e figura neste texto pode ser definido com um estilo diferente, por exemplo, neo-islâmico, mas não foi assim desde o começo de sua construção: vamos conferir sua história. A foto de abertura deste texto é de autoria de Gladys Russo.

    A mansão que ficava localizada na Avenida Paulista, na esquina com a Alameda Joaquim Eugênio de Lima foi planejada originalmente em 1896, poucos anos depois da inauguração da avenida. Em estilo neoclássico, a residência pertencia ao político e farmacêutico Henrique Schaumann, nascido em Campinas em 1856. Sim, o mesmo que deu o nome da Avenida, muitas vezes congestionada, que fica no bairro do Jardim Paulista.

    Notícia dobre a botica Vaedo de Ouro veiculada na revista A Cigarra, de 1921.

    Henrique foi para a Europa e estudou química, ciências naturais e física na Universidade de Göttingen, tornando-se doutor em 1879. De volta ao Brasil, assumiu o controle dos negócios da família e construiu a farmácia do pai, que ainda hoje é bastante lembrada: a botica Ao Veado d’Ouro.

    Ele também participou ativamente de campanhas contra as epidemias de peste e tifo, como vereador na cidade de São Paulo, além de ter sido sócio fundador do Hospital Samaritano de São Paulo.

    A casa da Paulista foi terminada em 1906, com projeto dos engenheiros Augusto Fried e Carlos Ekman. A localização era perfeita, bem próxima à residência do cunhado Adam Von Bülow, que era casado com sua irmã. 

    O projeto original era sóbrio, mas acabou dando lugar aos traços mouriscos ainda em meados do século 20. A mansão foi comprada por Abrão Andraus que, por coincidência, também tinha o irmão, Amin Andraus, morando na avenida (a história pode ser lida aqui). Nos anos 1930, a mansão ganhou vitrais coloridos com motivos orientais e outros elementos árabes, que remetiam à origem da família.

    Na foto, tirada no fim da década de 1930, é possível ver as linhas curvas e listradas que caracterizam o tipo de arquitetura mourisca.

    Palacete Mourisco – Residência de Abraão Andraus, após reforma do construtor José Camera (1933-37). Fotografia de autoria de Leon Lieberman. Acervo de Sérgio Ramos Câmera.

    Renato Cristofi, afirma em sua dissertação de mestrado que:

    a casa “mourisca” da Avenida Paulista – foi uma criação oriunda da ação simbiótica de dois indivíduos: um habilidoso construtor imigrante italiano, José Câmera, atendendo os desejos capitaneados por um outro imigrante, Abrão Andraus, um libanês enriquecido, um industrial que fora mascate. Seria o orientalismo de Andraus e de Câmera que representaria exemplarmente a arquitetura orientalista paulistana, bem como, assumiria a condição de uma das mais doloridas perdas patrimoniais da cidade, quando de sua demolição em 1982.

    Amin à esquerda Abrão no meio e Calil. Acervo: família Andraus

    Abrão, juntamente com os irmãos Amin e Calil, eram sócios-proprietários da famosa Casa Três Irmãos, fundada em 1900, que funcionou durante décadas na Rua Direita número 26, perto do Largo da Misericórdia. Era chamada de Fábrica de Sedas “Três irmãos”, a loja também ostentava o mesmo estilo islâmico do casarão com linhas listradas.

    O palacete da Avenida Paulista foi vendido para a família de Josephina Lotaif, que manteve a construção com o mesmo estilo do proprietário anterior. Ignorando o proprietário inicial, a Revista Veja escreveu sobre o que motivava o cuidado com a casa, dispendido pela família Lotaif “em respeito a Abrão Andraus, o primeiro proprietário, que a (re)construiu em 1940, era impecavelmente conservada”.

    Belas fotos publicadas na Revista Manchete: a da esquerda no ano de 1976 e a da direita em 1982, ano em que foi demolida, às duas horas da madrugada do dia 20 de junho.

    “Derrubar o máximo antes que a polícia chegue” foi a ordem dada ao funcionário da empresa de terraplenagem contratada pela família Lotaif para demolir a casa mourisca. O casarão foi parcialmente destruído por motoniveladoras. A demolição foi traumática para a população paulistana. No dia seguinte, manifestações tomaram a avenida contra a derrubada das suas casas históricas.

    A mesma revista publicou em sua edição de 30 de junho de 1982, a seguinte foto e trecho da reportagem:

    Mansão Lotaif: perfeitamente conservada por 40 anos….       ……….até que foi preciso fugir do tombamento.

    Assim, em questão de horas, algumas motoniveladoras arrasaram um palacete e desfiguraram a mansão mourisca da família Lotaif (…) mal teve tempo de ser liberado de móveis e peças de arte, pois um fino tapete persa jazia no dia seguinte junto aos escombros da casa. (…) a família, salvou um terreno pelo qual, há pouco tempo, rejeitou uma oferta de 2,6 bilhões de cruzeiros.  Josefina Lotaif, proprietária da mansão, preferiu não perder tempo e acabou jogando no entulho vitrais, pisos de mármore e afrescos.

    Josephina Orbe Lotaif faleceu em 2006.

    Mas o que aconteceu?

    A Revista Crescer publicou que

    a trapalhada partiu do arquiteto Ruy Ohtake, então presidente do Condephaat, que confirmou publicamente que estava em andamento um projeto para tombar os 31 casarões que ainda resistiam na avenida Paulista. Vários proprietários se juntaram e começaram a demolir suas propriedades, antes que fossem protegidas pelo tombamento. O gesto triste, porém, não ilegal, deferido pelos donos dos imóveis levou a mudanças na lei de tombamento.

    A lei não oferecia nem uma compensação para as famílias, que perdiam o direito de venda do imóvel e do terreno.

    Desastre anunciado: meses antes, três famílias proprietárias de casarões, incluindo a família Lotaif, se recusaram a receber a notificação da Secretaria da Cultura informando que o imóvel entraria em estudo para o tombamento. O titular da pasta na época, João Carlos Martins, classificou o episódio da demolição como um “ato de vandalismo“.

    Na esquina da Paulista com a Joaquim Eugênio de Lima, depois da demolição do palacete, funcionou por anos um estacionamento.

    A demolição do casarão impactou a população, a mídia, as autoridades e, principalmente, àqueles que diariamente passavam pela Avenida Paulista. Tanto que o fato foi muito noticiado e motivo para uma ilustração crítica do cartunista Luis Gê, na capa des livro em quadrinhos “Avenida Paulista” (conheça mais sobre o livro aqui).

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    Autor: Luciana Cotrim

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    Postado em Casarões | 1 Comentário | Marcado Andraus, Avenida Paulista, Henrique Schaumann, Lotaif, Luiz Gê |

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      A Série Avenida Paulista conta as histórias dos casarões e das famílias que moravam na avenida e, também, dos edifícios que foram  construídos em seus lugares.

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