A casa que conteremos a história é da família Zammataro, que ficava no número 35 da avenida, onde atualmente se encontra o 2026, com duas lojas comerciais, que são parte do Edifício Barão Amparo, que também recebe a numeração de 2006.

Depois deste casarão
A residência aparece na lista telefônica em 1917, em nome de Pierre Duchen, em 1920 em nome de Nestor de Barros e, só a partir de 1927, em nome de Caetano Zammataro, fato que demonstra que, em sua origem, a casa deveria ser um imóvel de aluguel.
Vamos começar com um breve histórico do primeiro morador, Pierre Duchen, francês, casado com Philipina Baron Duchen, talentoso confeiteiro, adaptaria com muito sucesso para o gosto nacional a arte europeia dos biscoitos finos, era proprietário da Casas Duchen, que se tornou a famosa fábrica de Biscoito Duchen.
A casa Duchen existia desde antes de 1895, localizada na Rua São Bento, era em loja que vendia diversas mercadorias, em especial, vinhos e importados… Fundada em 1903, a fábrica de biscoitos Duchen, no tradicional bairro da Mooca, onde ficou por muitos anos, sendo destaque no mercado com suas marcas Kid Lat, Specialat e Duchen.
Em 1949, na Rodovia Presidente Dutra, divisa de São Paulo com Guarulhos, a nova fábrica foi projetada por Oscar Niemeyer, a planta, comprida e estreita, com suas colunas à mostra, lembrando uma espinha de peixe, com uma vibrante sinuosidade. A edificação para abrigar uma fábrica foi uma obra inédita e única na trajetória de Oscar Niemeyer. Vale a pena conferir nas imagens deste vídeo.
O segundo morador da casa, Nestor de Barros era proprietário da Companhia Paulista de Indústria e Comércio e, também, um influente diretor da Bolsa de Mercadorias e um grande investidor em imóveis.
Para contar a história do último proprietário da casa 35, o italiano Caetano Zammataro, contamos com a contribuição de uma especialíssima descendente, que muito nos ajudou na reconstituição histórica e imagética desta e de outras famílias que viveram na Paulista: D. Marina Petrella Andraus, uma senhora alegre e muito simpática que cuidou para que a história de seus antepassados não desaparece. Nós agradecemos.
Vamos ao que ela nos contou!
Caetano, italiano, nascido em 1872, chegou ao Brasil em 1894. Trabalhou como empreiteiro. No início do século XX, os tijolos começavam a transformar o estilo de construção em São Paulo e ele teve a ideia de fundar olarias, nas margens do rio Tietê.
Conta-se na família que Zammataro trabalhou na pavimentação da Avenida Paulista, e olhando os casarões que lá existiam, pensou: um dia morarei em um destes palacetes. E foi isso que aconteceu…

Casou-se com Giuseppina Lemme, teve oito filhos e faleceu em 1944.
Era uma família muito alegre, foram oito filhos, três homens: Salvador, Vicente e Vitor e cinco meninas: Gilda, Angelina, Cármen, Lídia e Dora. Caetano Zammataro era muito elegante e charmoso.

Em depoimento para o Museu da Pessoa, encontramos o testemunho de Anna Maria Zammataro de Aguiar Pupo, neta do casal, que conta as origens da família, o qual reproduzimos um trecho aqui:
“A minha avó já era nascida no Brasil de família italiana e o meu avô veio com 16 anos de idade para o Brasil, sem nada, mas com muita vontade de “fazer a América”, como eles diziam, né? (risos).
Meu avô chegou em São Paulo e pegou uma época muito interessante para “fazer a América”, início do século XX, em que a elite da sociedade paulistana já estava se deslocando daquela região que era Higienópolis, onde primeiro eles tinham se instalado, os barões do café já estavam se espalhando pra Avenida Paulista.
Então, a grande rua, a grande avenida dos ricos da época era a Avenida Paulista, onde moraram Matarazzo, muitas famílias de muitas posses. E o meu avô, menino de tudo, chegou com 16 anos, resolveu investir na área das construções, justamente pras famílias de dinheiro da cidade.
Ele começou a produzir tijolos. Ele comprou uma terra na área de Guarulhos e tinha uma olaria. E o que ele fez, o que o tornou bastante… Vamos dizer, atender aquilo que era o objetivo dele, que era viver uma vida boa no Brasil, foi fazendo isso, vendendo tijolos que ele produzia nessa olaria em Guarulhos.

Eu cheguei a conhecer essa olaria, eu era menina e gostava muito de ir andar na draga, que era o barco que andava pelo rio recolhendo a areia do fundo, areia, terra, no fundo do rio pra depois… Acho que a areia era vendida, não era pra produzir tijolos, mas a parte do barro que produzia os tijolos.
Esse avô italiano teve oito filhos, cinco mulheres e três homens, e criou esses filhos muito bem, no caso só um, o meu pai, estudou na universidade.
Os outros filhos todos fizeram básico, não sei até que nível, porque não era costume naquela época as mulheres estudarem além do… Acho que era Ginásio o máximo que as meninas chegavam. E dos homens, um deles foi trabalhar com o meu avô na olaria, o outro tentou estudar Medicina, acabou não conseguindo por motivos de saúde e o meu pai foi o único dos oito que fez faculdade, ele era Engenheiro Arquiteto.
O nome do meu pai era Vicente Lemes Zammataro, engenheiro arquiteto, era funcionário público, trabalhou na diretoria de obras públicas a vida inteira e se aposentou diretor em um setor lá. Minha mãe, dona de casa, apesar de pianista, ela só tocava piano para ele cantar músicas líricas, não tocava mais pra ninguém ouvir. O nome da minha mãe era Marta Horneck Zammataro.
Zammataro tornou-se um conhecido empresário, principalmente na grande colonia italiana formada por muitos empresários que cresceu e se fizeram na cidade de São Paulo. Em junho de 1934, chegou a ser capa do jornal escrito em italiano “Il Pasquino Coloniale”.

D. Marina nos prestigia com a história de uma das filhas do casal, a Gilda, que casou com Alfonso Guido Petrella, brasileiro, filho de italianos, que moraram na Avenida Paulista 149 (que D. Marina contará a história em breve).
A família Petrella morou no Brasil, voltou para a Itália, e anos depois retornou ao Brasil. Alfonso Guido retornou ao país e foi morar na Rua Bela Cintra com a irmã Clara.
Passeando pela avenida Paulista flerta Gilda, que ficava admirando o movimento na varanda da casa dos Zammataro. Assim mais uma família se une, com o casamento dos dois, em 27 de dezembro de 1927, na Matriz da Imaculada Conceição à Avenida Brigadeiro Luiz Antônio.

Após a cerimônia os pais da noiva receberam seus convidados na casa dos Zammataro. Os padrinhos da noiva, os Sr. e Sra Scuracchio, vizinho e amigos moradores na Avenida paulista nº33ª (a história da família pode ser lida meste link).
Os padrinhos do noivo foram Amin Andraus e Clara Petrella Andraus, irmã de Guido, que em seguida adquiririam o terreno baldio próximo ao Trianon, hoje nº1650 (pode ser lida aqui).

Alfonso Guido Petrella e Gilda Zammataro tiveram 2 filhos: Guiseppe e Marina, que hoje nos enaltece com essa linfa história. Em 1936, Gilda vem a falecer e Guido nunca mais se casou. A família passou a morar com os pais de Guido, na Avenida Paulista, 149.
Guido se dedica ao trabalho no seu Lanifício e Beneficiamento de fios São José, com fábrica na Rua Araraquara – 4ª Parada do trem.

Belo momento eternizado, em que vemos Guiseppe, Gilda e Marina, a nossa querida curadora, na época uma menininha linda. A ela, que hoje beira os 90 anos, nossa eterna gratidão.
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