A Série Avenida Paulista homenageia a proprietária de um de seus casarões, a Sra. Constança Barreto Pereira de Carvalho, que parece que foi uma mulher empreendedora.

A história começa em Santos, onde todos da família são oriundos. O esposo de D. Constança era Antonio Pereira de Carvalho, um reconhecido capitalista, como eram chamados à época, que atuava em vários segmentos empresariais.

Depois deste casarão
Temos notícias que ele era proprietário de diversas terras. Um grande terreno com um grandioso prédio de sua propriedade foi usado como sede do quartel da Polícia de Santos, depois de algumas modificações na estrutura.
Foi sócio de Romão Carvalhal, em empresa de material de construção, inclusive, eles participaram de uma concorrência pública para fornecer meio-fio e paralelepípedos para construção de calçadas de Santos.
Também teve sociedade na firma Carvalho & Faria, um importante mercado de café que foi fundado em 1º de outubro de 1915 por ele, seu irmão Joaquim Pereira de Carvalho, e o Sr. Joaquim Augusto de Faria. Os escritórios achavam-se instalados na Rua Santo Antônio, nº 106, e um grande depósito para armazenamento de café, na mesma rua no nº 104, hoje Rua do Comércio, na atual Casa Azulejada em Santos.

Outras informações dão conta que o Sr. Carvalho também atuava, com vários sócios, no ramo de transportes de carros que, na época, eram as carroças puxadas por animais. A empresa dirigida pelo Sr. Carvalho, tinha oficinas de carpinteiros e ferreiros. Participou de concorrência para manutenção das carroças públicas, vencida por outra empresa, que ofereceu um preço mais alto, mas era fornecedor antigo da casa. Estranho, não é mesmo? É de desconfiar. Também, importou ferro e acessórios para as carroças.
A história mais inusitada é que, em um certo dia, aconteceu uma explosão de um carregamento de dinamite que vinha em uma de suas carroças, transformando tudo o que estava a volta em migalhas. O fato causou muita controvérsia, anúncios foram publicados em jornais acusavam o capitalista de fazer vários desses carregamentos.
Ainda quando o Sr, Carvalho era vivo, já existia o casarão na Avenida Paulista, que ficava no número 138. Ele morreu, aos 55 anos, em fevereiro de 1916, dentro de sua residência e seu corpo foi levado para Santos para as cerimônias finais.

E a Dona Constança? Ela casou-se muito jovem com o Sr. Carvalho. Eles tiveram 6 filhos: Damasceno, que se tornou médico, Joaquim, que foi comissário em Santos e, as mulheres, Jenny Brasília, Ignacia e Alice.
D. Constança era uma mulher influente na sociedade santista, participando de várias ações beneméritas para instituições de saúde e filantropia. Também organizava chás, festas e outras ações sociais.
Por trás do palacete da Avenida Paulista está D. Constança. Seu nome, além de batizar o lugar como Villa Constança, aparece nas listas telefônicas, na solicitação à Prefeitura para construção de garagem na mansão e encabeçando o grande evento de lançamento do palacete, que se presume foi reconstruído depois da morte do marido, provavelmente, em maior escala, ou ainda, ela empreendeu uma nova construção, realizada ao lado, já que o número mudou para 134.
O projeto foi do engenheiro e arquiteto Heribaldo Siciliano, sobrinho do Conde Alessandro Siciliano, considerado fundamental na passagem do ecletismo ao modernismo arquitetônico na cidade e, também, pioneiro na execução de obras de concreto armado.
A inauguração da Villa Constança foi toda documentada na edição de 14 de junho de 1918 na coluna “As Nossas Vivendas” da Revista Cigarra. A reportagem se inicia com uma crítica ao ecletismo e ao estilo europeu da época, enaltecendo o estilo moderno, como pode ser conferido abaixo.

Podemos notar as linhas mais retas, a objetividade dos traços externos e uma decoração interna mais aberta e sem tantos objetos e móveis na residência.



Como não poderia deixar de ser, D. Constança promovia festas e comemorações em sua casa na Paulista. Os casamentos das filhas mais novas, Ignacia e Alice, também foram muito noticiados nos principais jornais e revista da época, como podemos ver nas imagens das festas realizadas no palacete.
Abaixo o casamento de do Sr. Luiz Leal Fernandes com a Ignacia Pereira de Carvalho.


Abaixo o casamento de José Cunha Cabral e a Alice Pereira de Carvalho.



Olhem que interessante o casal está cercado das mulheres da família. Não há nenhum homem na fotografia. O que seria isso?
D. Constança não parou por aí. Empreendedora como foi, outras propriedades aparecem em seu nome, como o imóvel na Alameda Santos 191 e, também, em atividades de construção de imóveis, com o pedido de Habite-se. Existem também registros que teve um outro marido, chamado João Salles, do qual se desquitou em 1926, ato incomum à época, com muitas divergências sobre os provimentos devidos a ambos após o desenlace. Outra notícia dá conta que D. Constança, após a separação, foi viver em Bueno Aires, na Argentina. D. Constança com sua Villa na Avenida Paulista, foi uma mulher astuta e de visão de futuro.

A mansão foi vendida e no local, no atual endereço da Avenida Paulista, 735, está o tradicional Club Homs, que ocupou o palacete na década de 1940.

Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
3 thoughts on “A Villa Constança da Avenida Paulista”
Walter Petinelli Junior
Parabéns pelo magnífico trabalho que você vem desenvolvendo,conheci os casarões da av.Paulista em 1961,ano em que fiz o Curso de Admissão no Colégio Rodrigues Alves, gosto muito de saber a história dos antigos moradores….
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Luciana Cotrim
Muito obrigada! É justamente por isso que escrevo estas histórias.
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