Depois de contar várias histórias dos casarões da Avenida Paulista e das famílias que lá residiam e apresentar os edifícios que tomaram os lugares dessas mansões, hoje vamos contar sobre uma casa que ainda existe na Avenida Paulista, no número 709, ao lado do Club Homs.

A proriedade é da família Sadocco, e atualmente a casa é uma agência do Banco Santander.
Até 1930 não havia registro desta casa na Avenida Paulista. O terreno existia, mas ele não recebia uma numeração, como podemos ver no mapa publicado no livro Álbum Iconográfico da Avenida Paulista, de Benedito de Toledo Lima.

Supomos que a mansão tenha sido construída no início dos anos 1930 e já tenha recebido a numeração nova da Avenida, ou seja, o número 709. Não temos informação sobre a construção da casa, mas descobrimos que ela pertenceu à família Saudocco. Algumas informações foram encontradas sobre a família.

O proprietário era Alfredo Sadocco, que nasceu em 1889 no Brasil. Ele teve seis irmãos: João, Henrique, Ida, Anníbal, Theresa e Pedro. Casou-se com uma italiana, a Sra. Philomena Signori Sadocco, com quem teve o filho Alfredo Sadocco Junior e Henrique Signori Sadocco, que nasceu em 1931. Ambos se tornaram engenheiros.

Umas das únicas informações pessoais conseguidas sobre o Sr. Alfredo é que, na década de 1910, ele ganhou o primeiro lugar na competição de corrida de obstáculos, que aconteceu em um festival, no Parque Antártica, que foi organizado pela Sociedade Beneficente dos empregados da Light and Power. Talvez ele tenha sido funcionário da empresa. Muitas notícias foram publicadas dando conta que ele e alguns de seus irmãos eram jogadores experientes de tênis e jogavam com frequência em vários clubes paulistanos.
Sobre os negócios da família, identificamos que, o Sr. Alfredo Saudocco, que se dizia comerciante, possuía uma empresa chamada LAMA S/A. Agropastoril e Importadora, que ficava no Largo da Misericórdia.
Mas, talvez, o negócio mais duradouro, conhecido e rentável seja a Casa Henrique.

Essa loja era uma das maiores da Rua Direita no Largo da Misericórdia, que tinha como sócios os irmãos Alfredo e Henrique. Como o Alfredo era irmão e pai de um Henrique, também, este foi o nome escolhido para a loja.

Vendia armarinhos, brinquedos, perfumaria, roupas e todo os artigos para bordar, começou com uma pequena loja em um sobrado e virou uma loja de departamentos com vários andares, entre as décadas de 1930 e 1950. A loja foi vendida em 1962.


A Casa Henrique foi um estabelecimento muito conhecido e concorrido. Era um lugar de referência na sociedade paulistana e muito procurado na época de festas. Os carnavais e os Natais eram datas muito importantes para a casa comercial, que patrocinava muitos eventos nestas épocas. Nas imagens acima vemos a loja decorada para o Carnaval e, ao lado, um anúncio de Natal na revista A Cigarra, de dezembro de 1934.
Para quem tem curiosidade, abaixo um galaria com outras fotos da Casa Henrique.
Vemos abaixo três recortes de jornal nos anos 1930, que mostram a importância da Casa Henrique. O primeiro é um anúncio publicitário que promove uma novidade: um novo depilador feminino, o segundo ´parte de uma coluna feminina, que responde cartas das leitoras, e que indica à Casa Henrique para compra de chapéus e, o último, é um ranking das lojas com melhores decorações na época do carnaval e a loja aparece em segundo lugar.

Ainda nos negócios, em 1949, Alfredo Sadocco Jr aparece em notícia como tendo participação na empresa de ferro chamada Ferraga S.A e, por fim, em 1960, aparece como incorporador da empresa Itaurama – Agropastoril e importadora, empresa que tinha o pai como Diretor Presidente e os filhos como diretores. Alfredo morreu em 1980, Philomena, em 1962, e o filho, Henrique Signori Sadocco, em 2002.

Sobre a casa da Paulista, pelo menos, sabemos que pertenceu a família até 2007 e que a família morou lá, mas não sabemos exatamente quando saiu e colocou o imóvel para alugar.
Conhecemos algumas locações do imóvel que mostramos a seguir.

A casa foi alugada para a rede de lanchonetes McDonald’s em 1987. Foi a décima oitava loja aberta em São Paulo e a segunda aberta na Paulista. Alguém lembra??? A primeira foi aberta em 1981 na esquina com a Alameda Joaquim Eugenio de Lima.
À época da inauguração desta loja, a rede publicou um anúncio de jornal em página inteira, trazendo como mote o casarão, inclusive dizendo que havia restaurado a fachada do casarão em “estilo florentino” e preservado o mobiliário. Na semana da inauguração ofereceu aos clientes um brinde alusivo ao período. por ser um imóvel antigo.

Depois da saída do McDonald’s, teve um período em que a casa ficou desalugada, e sofreu com o abandono e a invasão, como podemos ver na imagem abaixo.

Após esse período, a casa foi alugada para o Banco Real e, depois da venda da instituição para o Santander, atualmente, a casa abriga uma agência Select do banco.


Uma curiosidade, as duas fotografias, em tempos distintos, foram realizadas quando os funcionários estavam em greve. Vejam o banner e os adesivos no vidro. Recentemente o casarão virou a agência Santander Select.

Pouco tempo depois ganhou uma nova pintura em sua fachada, uma obra de arte do muralista Camilo Rodrigues. A assessoria de imprensa divulgou o seguinte texto:
A exemplo de outras marcas gigantes que têm ressignificado a utilização de casarões clássicos, adaptando para funções diferentes da original, o Santander inaugurou recentemente a agência Select Bella Paulista, situada em um casarão da década de 1930, que foi habitado pela família Sadocco e locado pelo banco em 2007.
A fachada do local foi revitalizada e ganhou uma obra de arte, assinada pelo muralista Camilo Rodrigues, e batizada de “Penas, Flores e Cores”. A peça é uma homenagem à cidade de São Paulo e colhe inspirações da fauna paulista. Foi concluída em 22 dias e está sendo inaugurada nessa semana. A técnica de pintura utilizada por Camilo Rodrigues nessa obra foi tinta acrílica sobre superfície com aerógrafo e pincel.
O objetivo é valorizar o trabalho destes artistas e também entregar a população obras de artes que possam transformar o entorno de nossas lojas. O artista Camilo Rodrigues foi escolhido por conseguir expressar sua arte de forma harmônica com a edificação. Além da obra de arte na fachada, o casarão recebeu um projeto de iluminação cênica, a fim de destacar a arquitetura original.

Esse é o único casarão da Avenida Paulista do início do século passado, que não foi tombado, o Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico alega que o imóvel não tem as características necessárias para que haja o tombamento. Torcemos para que a casa continue sendo alugada e preservada pelos inquilinos, como atualmente, está fazendo a instituição financeira.
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!










2 thoughts on “Casarão Sadocco: Mequi, Real e hoje o Santander”
Grace
Foi muito interessante encontrar estas informacoes sobre a Familia Sadocco e Este Casarao. Minha avo materna Emilia Sadocco Rampazzo era prima segunda de Alfredo Sadocco e seus irmaos. O avo da minha avo materna era tio dos Sadocco que eram proprietarios do Casarao e tb proprietarios da Casa Henrique no Centro de São Paulo. Estou muito contente de saber que esta casa continua preservada.
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Luciana Cotrim
Dona Grace, agradecemos o seu comentário. Quem bom que tenha gostado do texto e das informações sobre a família, que é sua também. Se tiver mais informações ou fotografias da família posso incluir no artigo. Obrigada, Luciana
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