No antigo número 87 (atual 1106) da Avenida Paulista encontrava-se a residência de José Borges de Figueiredo, um grande investidor do início do século passado. Para que a Avenida Paulista pudesse ser construída e inaugurada em 1891, o português Figueiredo auxiliou na aquisição de chácaras e sítios da região.
Ele foi um dos sócios do engenheiro Joaquim Eugênio de Lima, que idealizou e realizou a obra da avenida. O outro era João Augusto Garcia, que tinha relação com a Prefeitura na época.
Depois deste casarão
Segundo o jornal o Estado de São Paulo, eles fundaram a “Sociedade Anônima Companhia Viação Paulista. A empresa tratou de adquirir os terrenos e chácaras ali existentes. O objetivo era construir no local uma espécie de vila de luxo para a classe mais abastada, longe das já bem ocupadas áreas como os Campos Elíseos e Higienópolis (..). A avenida Paulista foi entregue oficialmente ao público no dia 8 de dezembro de 1891, com o início do tráfego de bondes”
Na planta abaixo, com data de 1º de fevereiro de 1892, vemos a divisão de três lotes para os sócios da Chácara da Bella Cintra, que ia até a Alameda Casa Branca. Nesta área existia galinheiro, parreira, jardim, cocheira, plantação de milho, jaboticaba, mandioca, banana e outras árvores frutíferas.
Ainda, para termos uma ideia da área que pertencia a Borges de Figueiredo, a seguir outra área de sua propriedade. A inscrição é “Planta dos terrenos pertencentes ao Snr. José Borges de Figueiredo situados no bairro Caguassú com frente para a Avenida Paulista – S. Paulo”.
No verso do mapa a descrição “Campos de Paraizo (Chácara Antonio) – Avenida Paulista, Avenida Raphael Barros, Manoel da Nóbrega e Tutoya.
Além dessas grandes áreas, Borges de Figueredo era proprietária da área onde hoje encontra-se o MASP.
Em 1897 José Borges de Figueiredo ergueu em um dos lotes da avenida o casarão que seria sua residência. O projeto era dos arquitetos Augusto Fried e Carlos Ekman, responsáveis por vários edifícios antigos de São Paulo. O primeiro, também foi arquiteto do palacete da Paulista pertencente ao dinamarquês Adam Ditrik von Bülow, o qual já contamos a história em um dos primeiros posts da Série Avenida Paulista (que pode ser lido neste link).
Na foto abaixo vemos a casa em processo de construção ou quem sabe de uma reforma? No acervo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP consta um projeto datado de 1915 intitulado “Residência para Sr. José Borges Figueiredo à Avenida Paulista 87”, de autoria de Ramos de Azevedo. Seria uma reforma?
Para que tenham uma ideia daqueles anos pós inauguração da Paulista, vejam a notícia que foi publicada no jornal Correio Paulistano no dia 21/01/1897, dando conta da reclamação do estrume espalhado por Figueiredo próximo a sua casa na Avenida Paulista. Conseguem imaginar como era?
José Borges de Figueiredo nasceu em Portugal em 29 de setembro. Casado com Maria Augusta Figueiredo, que dá nome à Rua Maria Figueiredo. (a história pode ser lida neste link).
O casal teve 5 filhos: José Figueiredo Filho, Aurora, Esther, Mario e Celso, cuja história será contata por sua neta, a poeta Flora Figueiredo, no próximo texto.
Como investidor nato, José Borges de Figueiredo, também foi um dos fundadores do Banco de São Paulo, instituição financeira que em 1973 foi vendida para o Banespa – Banco do Estado de São Paulo que, por sua vez, foi privatizado e vendido para o Banco Santander.
O prédio que foi a antiga sede do banco fica localizado na Praça Antonio Prado número 9 e na rua 15 de Novembro número 347, no centro da cidade. Projetado em 1935 pelo arquiteto Álvaro de Arruda Botelho e concluído em 1938, trata-se de um dos exemplares mais representativos da linguagem art déco na arquitetura paulistana. Todos, os mais atentos, conhecem sua beleza, imponência e sofisticação.
O edifício possui dois blocos distintos e interligados, o mais requintado, que está de frente para a praça, possui 18 pavimentos e se destaca pelo emprego de materiais nobres e pelo refinamento artístico dos seus elementos decorativos como pisos, vitrais e luminárias. Atualmente, o edifício é sede daSecretaria de Estado da Juventude, Esportes e Lazer.
Uma curiosidade sobre José Borges de Figueiredo é que ele foi proprietário de um Rolls Royce Silver Ghost Alpine Eagle, de 1921, que ficou conhecido como o Fantasma de Prata. O carro foi comprado na Inglaterra e sua carroceria encomendada ao Carrozieri Frances Galle e foi montado em São Paulo.
Se o casarão da Avenida Paulista foi destruído, ao menos o Rolls Royce a sede do banco que ele fundou não correm risco de desaparecer, já que o imóvel foi tombado pelos órgãos de proteção ao patrimônio e o carro pertence a um colecionador.
José Borges de Figueiredo faleceu em 28 de outubro de 1920, na sua casa da Avenida Paulista, e mais uma homenagem ao empresário é a Rua Borges de Figueiredo, na Mooca, que leva seu nome.
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
6 thoughts on “José Borges de Figueiredo, o investidor que viabilizou a criação da Avenida Paulista”
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Eloy Câmara Ventura
Cara Luciana
Sempre um belo relato de nossa história.
Meus sinceros cumprimentos.
Abraços
Eloy Câmara Ventura
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
Convido-a também a visitar a minha página
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Luciana Cotrim
Eloy, muito obrigada, visitarei sus página com certeza. Qual o endereço?
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Eloy Câmara Ventura
Prezada Luciana,
A minha página é Eloy Câmara Ventura.
Muito Obrigado.
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Eloy Câmara Ventura
Luciana tem.tambem a pagina dos Imigrantes Alemães na Construção da Sociedade Brasileira, ok? Eloy Câmara Ventura
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