Hoje na Série Avenida Paulista, a história de um ícone da arquitetura moderna paulistana. Bastante colorido e geométrico, o Edifício Três Marias começou a mudar perfil da avenida em 1956, quando foi entregue. Permanece até hoje conhecido popularmente como “Rosa e Azul”.

Antes deste edifício
O prédio lembra um cubo mágico com seus tons de rosa e azul nas pastilhas da fachada. Esse jogo de cores e a alternância das sacadas dos apartamentos dão graça e originalidade a este empreendimento imobiliário construído na Avenida Paulista, 2239, esquina da Haddock Lobo.

O gracioso projeto, de 1952, é de autoria do arquiteto carioca Abelardo de Souza, construído pela Cia. Nacional da indústria da Construção (CNI). Abelardo foi colega de turma de Oscar Niemeyer, e veio para São Paulo com o objetivo de desenhar postos de gasolina pois na década de 1950, eles mereciam o requinte de um projeto arquitetônico, já que automóvel era para poucos.

Ano Projeto 1952
Abelardo quis brincar de cubo mágico neste edifício, quando projetou dois blocos, um em cima do outro: o superior inverte as cores, a posição dos terraços e até a moldura feita de pastilhas da parte inferior, como se a fachada tivesse se movimentado para a direita.
A Archdaily descreve que o projeto
apresenta a ideia de dois blocos sobrepostos, visto que ao conceber o edifício com 18 pavimentos, em implantação com perímetro em L, o arquiteto rompe a ideia de estaticidade e continuidade, seccionando os doze primeiros pavimentos aos superiores, por uma faixa contínua de madeira.”

(…) Isto é, os primeiros doze pavimentos, revestidos em pastilhas cor de rosa, com balcões locados na face da Avenida Paulista, são interrompidos pela faixa em madeira e estabelece a ideia de rotação do bloco, pelo fato de os seis últimos pavimentos, apresentarem outra cor de pastilha que reveste a fachada, em tom de azul, e os balcões que ora encontravam-se na fachada frontal, agora se estabelece na face lateral do edifício, virados à Rua Haddock Lobo, (…) Vale dizer que apesar de concreto, o edifício apresenta leveza visual e estética, justamente pela “brincadeira” e equilíbrio no jogo de cores e luz.“

O incorporador do prédio era Octavio Frias de Oliveira (que dá nome à Ponte Estaiada), que dez anos depois mudaria de ramo ao comprar o jornal Folha de São Paulo, da qual se tornaria editor.
O projeto habitacional para famílias de classe média alta da época foi construído com apartamentos de um, dois e três quartos, de 127 a 260 m², com o objetivo de proporcionar aos moradores a possibilidade de mudar de apartamento sem mudar de prédio, era um comportamento típico dos anos 40 e 50.

São três blocos de apartamentos chamados Maria Cristina, Maria Júlia e Maria Regina, que contam com 95 apartamentos. Dos três blocos, um deles tem frente para a Avenida Paulista e os outros dois, tem frente para a Rua Haddock Lobo.

O hall de entrada, todo revestido em mármore, mantém-se preservado desde a inauguração.

Com jardins internos na fachada da rua Haddock Lobo e jardins frontais aos da Paulista, tiveram projeto paisagístico de Miranda Magnoli e Rosa Kliass. A marquise na entrada desapareceu quando houve o alargamento da avenida Paulista e o playground, um dos primeiros da cidade, foi substituído por mais vagas de garagem e o térreo voltou a abrigar lojas, como na concepção original do projeto.
Em 2015, a revista Casa e Jardim, na matéria “Moro em uma obra de arte”, publicou a história de Amélia Maia, que desde 1958, quando trabalhava como secretária, mora no edifício.

Ela disse:
“Logo que me casei vim morar com minha sogra e foi aqui que criei meus dois filhos. Cada época tem suas coisas boas. Antes eu levava minhas crianças para passear de bonde, elas adoravam. Agora tem o metrô, que me leva onde preciso. Aqui estou bem servida de cultura. Vou ao teatro, ao cinema e ao museu. É tudo perto. Nunca pensei em sair do Três Marias. Meu marido, falecido em 1977, adorava o prédio. Prometi a ele continuar aqui”.

Neste bloco que dá frente para a Paulista há dois tipos de apartamentos por andar, com elevadores independentes. Um deles tem 200 e o outro 270 m². Ambos com espaço amplo e o pé-direito de 3,15 m.
Foi em um deles que a Netflix escolheu para ser um de seus cenários na quinta temporada de Black Mirror, que é sucesso mundial de público e crítica. Vejam que linda a intersecção do apartamento e a sacada com vista para a avenida!


O apartamento, que tem uma bela vista para a icônica Avenida Paulista, foi o que atraiu a atenção da equipe de produção da série Black Mirror para ser escolhido como o apartamento do cenário. As filmagens foram realizadas em março de 2018, envolvendo por volta de 70 profissionais, entre brasileiros e estrangeiros.


Neste mesmo terreno, no começo do século 20, viveu a família de Cardoso de Almeida, que batiza a rua em Perdizes, que você pode ser a história aqui.



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