Nosso próximo casarão da Série Avenida Paulista é a residência da família Cardoso de Almeida, projetada pelo escritório Ramos de Azevedo, foi erguida em 1915. A localização da mansão era na Avenida Paulista, antigo número 40A, esquina com a Rua Haddock Lobo.

Depois deste casarão
Edifício Três Marias, um ícone da arquitetura moderna paulistana e cenário de Black Mirror
Avenida Paulista, 2.239
Mais uma vez, tivemos a grata satisfação de ter contato com um descendente da família, o Sr. Claudio Cardoso, que enriqueceu nosso texto com muitas informações sobre a sua história e a da nossa avenida Paulista, da cidade e Estado de São Paulo.
Só podemos agradecer imensamente ao Sr. Claudio a contribuição para esse resgate da memória paulistana. Vamos à história!
Meu bisavô era Antônio Joaquim Cardoso de Almeida, que foi casado com Maria Pulqueria do Amaral Barros. O casal teve quatro filhos: Antonio, José, Custodio e Armindo.
Meu avô, Antônio Cardoso do Amaral, que foi prefeito de Botucatu por 8 vezes, deputado estadual, fundador da CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz, banqueiro, lavrador de café, introdutor do café amarelo de Botucatu.

José Cardoso de Almeida, o Tio Juca, foi presidente do Branco do Brasil e da Caixa Econômica federal. Na política, foi secretário de estado da educação, da fazenda, da justiça, da agricultura. Foi ainda ministro da fazenda, líder do presidente Washington Luiz e líder do governo. Deputado Federal por várias vezes.
Os demais irmãos eram Custódio Cardoso de Almeida e Armindo Cardoso de Almeida. Todos eram sócios entre si. Além da CPFL também fundaram a Companhia Paulista de Seguros.
Em São Paulo, José Cardoso de Almeida depois que se formou na Faculdade de Direito em 1890, abriu um escritório de advocacia. Foi eleito e reeleito deputado estadual pela cidade e criou a Força Pública – a polícia estadual, onde foi nomeado chefe de Polícia do Estado de São Paulo no primeiro governo de Rodrigues Alves”.

Nascido em 8 de setembro de 1867, José Cardoso de Almeida passou a infância em Botucatu. Cardoso de Almeida era filho de Antonio Joaquim Cardoso de Almeida, português. Diziam que era pedreiro em sua terra natal, veio muito moço para o Brasil. Trabalhou como caixeiro de uma loja, virou sócio e depois dono daquela que seria a Casa Cardoso, conhecida em Botucatu.
Casou-se com D. Maria ou Mariazinha, como chamavam, e tiveram os filhos José, Antonio, Custódio e Armindo. O Seu Antonio enriqueceu. Além de negociante, era fazendeiro. Dono de grande fortuna. Homem importante na cidade.

Seu primogênito, já em São Paulo, depois que se formou na Faculdade de Direito em 1890, José Cardoso de Almeida abriu um escritório de advocacia. Foi eleito e reeleito deputado estadual pela cidade e criou a Força Pública – a polícia estadual, onde foi nomeado chefe de Polícia do Estado de São Paulo no primeiro governo de Rodrigues Alves.

Neste período, elaborou um documento analítico que propunha a criação de um plano de carreira profissional para a polícia paulista, acreditava que a melhoria só seria possível com um plano que garantisse acesso progressivo aos diversos cargos pelos oficiais. A partir deste estudo surgiu uma ampla proposta de reformulação da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Casou-se com Ismênia, que era irmã de Ramos de Azevedo, portanto os dois eram cunhados. Da união, o casal teve dois filhos: Mario e Lauro Cardoso de Almeida.
Pinacoteca
Cardoso de Almeida também foi responsável pela implementação do projeto da Pinacoteca do Estado que solicitou à direção do Liceu de Artes e Ofícios a cessão de um salão em seu edifício para “estabelecer uma galeria de pintura com quadros existentes no Museu do Estado e com os que forem adquiridos”. Para lá foram um conjunto de 26 pinturas, entre retratos, paisagens e naturezas-mortas, de autores como Almeida Júnior, Antônio Parreiras, Oscar Pereira da Silva, Benedito Calixto, Eliseu Visconti e Pedro Weingärtner, entre outros.

Ramos de Azevedo, famoso arquiteto que projetou tantas obras que hoje fazem parte da memória desta cidade, tornou-se responsável pela gestão da Pinacoteca. Para receber as obras, o arquiteto projetou alterações no terceiro andar do edifício, em consonância com os padrões museológicos da época. Uma grande claraboia retangular foi instalada com o objetivo de obter claridade regulada por véus transparentes, evitando que os quadros recebessem iluminação direta das janelas.

Em 1902 foi nomeado diretor do Banco de Crédito Real, após deixar o cargo de chefe de Polícia. Era um administrador respeitado, tanto no trato de empresas privadas como de órgãos públicos e, mais tarde, em 1918, assumiu a presidência do Banco do Brasil.
Por conta das agitações revolucionárias nas forças armadas (que resultaram em um golpe de Estado) em São Paulo, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, como deputado federal, em maio de 1931, Cardoso de Almeida apresentou o Projeto de Lei nº 293/30, que permitia ao Presidente da República Washington Luís decretar estado de sítio em vários Estados e no Distrito Federal.
Todo o esforço foi em vão, pois a revolução foi vitoriosa. Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas chegou ao poder. Com a vitória dos revolucionários, todos os órgãos legislativos do país foram extintos e Cardoso de Almeida foi exilado na Europa.

Aqui em São Paulo uma rua, hoje muito conhecida, foi batizada com seu nome, já em sua cidade natal, emprestou seu nome a Escola Municipal Dr. Cardoso de Almeida, a qual ajudou a construir.
A bela edificação contava com o prédio principal e os dois pavilhões laterais, independentes, que receberam de Victor Dubugras o mesmo tratamento, conferindo ao conjunto uma composição harmoniosa. As obras foram iniciadas em 1895 e concluídas em 1896. Sua inauguração ocorreu em setembro e recebeu sua primeira turma de 369 alunos, dos quais 193 eram meninas.

Na foto acima, vemos ao centro o Coronel Nenê Cardoso, irmão de José, tendo a sua esquerda o arquiteto Dubugras e à direita, o empreiteiro Francisco Antunes de Almeida, na época da construção da escola.

A casa de Cardoso de Almeida, projetada por seu cunhado em 1915, era um típica construção do estilo do escritório de Ramos de Azevedo, “com formas que podem ser vistas em outras edificações”, Segundo Benedito Lima de Toledo. O autor ressalta o grande terraço, descoberto e elevado, adequado para ver o corso e servir de púlpito para a família, ou seja, para ver e serem vistos, como mostra a fotografia acima.
A esposa de Cardoso de Almeida, D. Ismenia, era conhecida senhora da sociedade da capital. Chegou a fazer parte de uma associação de senhoras, chamada Sociedade Paulista que organizava eventos e diversão para os sócios. Participou de muitas ações beneméritas.
No início de 1930, o casal foi para a França para tratamento médico. José Cardoso de Almeida faleceu em Paris, em outubro de 1931, depois de uma cirurgia.

Terminamos com um trecho do livro Cardoso de Almeida, escrito por Cláudio Cardoso, que diz:
Aos 64 anos de idade, o republicano José Cardoso de Almeida morre em Paris.
Mas, sua obra ficaria marcada para sempre tanto no Estado de São Paulo, que tanto amou, como na história da Nação que ele ajudou a construir.
Entre outros Feitos e muitas Leis, tiveram emprestado a sua contribuição:
A Lei que criou a Força Pública, hoje Polícia Militar;
A que deu vitaliciedade aos escrivões;
A que criou a Polícia de carreira;
A que criou as caixas beneficentes;
A que criou a Caixa Econômica Federal
A que criou o ensino público gratuito e reorganizou o ensino no Estado;
A que proíbe a acumulação de cargos públicos;
A que reconheceu o trabalho rural;
A que obrigou ao pagamento de salário aos trabalhadores rurais;
A que normatizou as taxas portuárias;
A que criou os Bancos Populares;
A que criou a Bolsa de Café;
A que criou o Liceu de artes e Ofícios da cidade de São Paulo;
Foi ele Deputado Estadual
Foi ele Deputado Federal
Foi ele Líder do Presidente da República no Congresso Nacional
Foi ele relator da receita do orçamento da União.
Foi ele Secretário de Estado da Justiça, agricultura, fazenda e do interior;
Foi ele Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda.
Foi ele Presidente do Banco do Brasil;
Foi ele quem instituiu a exposição nacional de 1908;
Foi ele quem ofereceu garantias para o prolongamento da Estrada de Ferro Sorocabana até Botucatu;
Como empresário de visão, junto com seus três irmãos fundou a Empresa de Força e Luz de Botucatu e posteriormente a CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz;
Fundou finalmente a Companhia Paulista de Seguros
No lugar onde ficava a mansão de Cardoso de Almeida, na Avenida Paulista, atualmente está localizado o edifício Três Marias, ícone da arquitetura modema paulistana. Acompanhem a história no próximo post.
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
2 thoughts on “O casarão e a história de José Cardoso de Almeida”
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Armando Moraes Delmanto
Muito bom. O Dr. José (Juca) Cardoso de Almeida foi exemplo de homem público. No endereço abaixo. No Blog do Delmanto publiquei um post sobre o DR CARDOSO DE ALMEIDA
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