A primeira mansão da avenida era localizada na Paulista número 7. A antiga numeração era inversa, iniciava na esquina da Avenida Consolação, mas a Paulista começava, como hoje ainda, na esquina da Rua Minas Gerais.
Em uma reportagem publicada na Revista Fon Fon, de março de 1918, na coluna Vivendas Paulistanas, a grandiosa casa de Antonio Pereira Ignácio foi apresentada à sociedade.

A residência número 7 da Avenida Paulista aparece na lista telefônica em 1917, em nome do proprietário Antonio Pereira Ignácio. Desde 1915, a casa abrigava uma escola: o Gymnasio Lusitano “C. Fernando”, que se mudou para a Rua 13 de maio no final de 1917.
Anúncio do Gymnasio Lusitano “C. Fernando” para início do período escolar. Foto: Revista O Pirralho de fevereiro de 1917, da coleção de Maria Lourdes Pereira.
Observando a imagem da casa, percebemos a grandiosidade da construção, apenas com essa configuração poderia ter abrigado um colégio antes de virar a residência de Pereira Ignácio. Muito provavelmente a casa foi reformada para receber a família do proprietário.
Antonio Pereira Ignácio foi um grande empresário brasileiro. Nasceu em Baltar, Portugal, no dia 29 de março de 1874 e imigrou para o Brasil em 1884, junto com seu pai João Pereira Ignácio.
Antonio Pereira Ignácio
A família instalou-se primeiramente em Sorocaba, onde Antonio se alfabetizou. Jovem, em 1889 vai para o Rio de Janeiro, procurar ajuda com o português, João Reynaldo Faria, com quem trabalhou por 3 anos.
Volta para São Paulo com um capital de 300 contos e abre comércios com seu pai em cidades como São Manuel do Paraíso, Itapetininga e, fixando-se em Botucatu, com sua primeira firma de secos e molhados chamada Rodrigues S. Pereira.
Em 1899, com 25 anos de idade, casou-se com Lucinda Rodrigues Viana, com 15 anos, e filha de seu grande amigo Francisco Manoel Viana. Em 1900 nasceu o primeiro filho, João e, em 1902, o seu segundo filho, Paulo. Sua filha Helena nasceu em 1904, ela viria a ser a esposa de José Ermírio de Moraes, outro reconhecido empresário luso-brasileiro.
Fonte das imagens: Livro “90 anos da Votorantim”
Em 1903, Pereira Ignácio iniciou os negócios com algodão, fundando com um sócio, a Pereira Ignácio & Cia. em Boituva. O empreendedor chegou a passar anos nos EUA, como operário da Wilson North Carolina, para aprender novos métodos, técnicas e questões administrativos.
A mansão da Avenida Paulista recebia inúmeras festas, com a que vemos abaixo, que reunia a maior parte das famílias dos sócios e diretores das empresas de Pereira Ignácio, a Sociedade Anônima Votorantim e a Pereira Ignácio &C, para um “banquete” que celebrava a saída do empresário e sua família para essa longa viagem pelos Estados Unidos.
Retornou ao Brasil e, a partir de 1907, investe na indústria de algodão e seus derivados. Em pouco tempo, adquiriu as tecelagens Fábrica de Tecidos Bom Retiro, Fábrica de Tecidos Paulistana, Tecelagem São Bernardo e fundou a Fábrica de Tecidos Lusitânia. Comprou também empresas como a Cia Telefônica Paulista, Usina de Força do Pilar, Água Mineral Plata e a Cia de Cimento Rodovalho.
Anúncios das empresas de Pereira Ignácio. Fonte: 90 anos Da Votorantim.
Um fato interessante: foi ele quem construiu os primeiros conjuntos habitacionais para trabalhadores, creches, escolas, o primeiro posto de abastecimento e o primeiro restaurante de uso exclusivo dos operários.
Tornou-se arrendatário da fábrica Votorantim, do Banco União de São Paulo e, em 1915, montou escritório na Rua São Bento 47, em São Paulo. Em seguida, como único dono deste império, criou a Sociedade Anônima Fábrica Votorantim, e a transformou em uma empresa saudável e produtiva novamente.
Em uma das viagens da família à Europa, sua filha Helena, conheceu seu futuro esposo, José Ermírio de Moraes. Com uma festa grandiosa, os noivos casaram-se em 1925. Seu genro passou a ser seu principal executor, na expansão dos negócios da Votorantim.
Na filantropia, o empresário foi um dos grandes beneméritos do Hospital Beneficência Portuguesa e da Santa Casa de Misericórdia. Na área de esportes foi presidente da Associação Portuguesa de Desportos, no ano de 1935, quando este clube foi pela primeira vez campeão paulista. Na vida social, recebeu a comenda das Ordens Portuguesas de Cristo e da Ordem Brasileira do Cruzeiro do Sul.
O empresário faleceu em 14 de fevereiro de 1951 e foi sepultado no Cemitério São Paulo, ao lado de sua esposa.
Voltando à mansão número 7 da Paulista. Outra referência a ela, encontra-se no livro “Votorantim – 90 anos – Uma história de Superação”, em que podemos conhecer Helena, a filha de Pereira Ignácio, que era uma moça animada, adorava e não perdia o corso da avenida.
Antonio Pereira Ignacio (com gravata), fundador da Votorantim sua esposa Lucinda (sentada) e a filha Helena, participando do corso em 1922
O casamento da filha
A casa passou por uma grande reforma, quando a família viajou para a Europa em 1924, no retorno ainda tiveram que se hospedar no Hotel Esplanada, pois a reforma não havia terminado.
No dia 18 de maio de 1925, com a casa pronta, abriu-se as portas para a cerimônia civil, com uma grande festa do comentadíssimo casamento do casal Helena e José Ermírio de Morais, que assumiu os negócios de seu sogro e foi o responsável pelo sucesso do Grupo Votorantim.
No dia do casamento, vemos, da esquerda para direita, Dona Lucinda Pereira Ignácio, o casal José Ermínio de Morais e Helena e Antonio Pereira Ignácio.
Foi uma festa muito requintada. O convite mostrava o que iria ser a comemoração do casamento da filha de Pereira Ignácio: a orquestra, com regência do maestro Baccaro, e o jantar ficou a cargo Automóvel Club. No convite podemos ter ideia do serviço, destaque para a bebidas sem álcool: cajuada, laranjada e abacaxiada.


Peça integrante da coleção de Paulo Castagnet
O casal após 25 anos de união
Imaginem quantas festas essa mansão recebeu até ser vendida! Fica para nossa imaginação. Hoje encontra-se no mesmo local o Edifício Anchieta, primeiro prédio construído na avenida.
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
Tags:Casarões
5 thoughts on “O casarão número 7 de Antonio Pereira Ignácio”
Rosana Barbieri
Mais uma vez meu muito obrigada por este deleite dominical! Parabéns por seu trabalho.
Um abraço.
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Luciana Cotrim
Rosana, muito obrigada! Eu que agradeço imensamente seus comentários e leitura!
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Luciana Cotrim
Vi que republicou o texto, com a fonte de origem Obrigada.
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