Hoje a Série Avenida Paulista conta a história de uma casa que pertenceu a Luigi Perroni, onde, atualmente, encontra-se o Restaurante América, perto da Rua da Consolação.
Entre esses dois momentos, o lugar também foi o endereço da famosa boutique de Madame Rosita e uma agência bancária do Unibanco. Muitas histórias para contar.

Depois deste casarão
Para a construção da narrativa desta linda história, tivemos a contribuição de duas descendentes da família, as sras. Daisy e Ana Maria que, muito gentilmente, nos receberam na casa de D. Daisy e abriram o álbum de recordações e fotografias da família. A elas, e a todos que estavam presentes, o nosso muitíssimo obrigado pelo resgate histórico e pela tarde gostosa que nos proporcionou – com um delicioso lanche da tarde – hospitalidade típica das famílias italianas.

Vamos à história do proprietário da casa 38 da Avenida Paulista! Luiz Perroni, nascido em 1871 em Mormano na Calábria, Italia, era o filho mais velho de Domenico Perrone e Maria Francesca Greca. Em março de 1883, veio para o Brasil, jovem, com apenas 12 anos, para encontrar um primo que estava aqui. Residiu no estado de São Paulo por mais de 50 anos.
Quando chegou, passando pela imigração, trocaram o seu nome, que era Luigi Perrone, para Luiz Perroni, dizem que este fato ocorreu porque os funcionários brasileiros não eram muito letrados.

Luiz Perroni, passou um período em Santos e, para sobreviver, teve a ideia de vender bilhetes de loteria em pedaços. Dizem que foi ele que instituiu essa prática de venda de pedaços do bilhete, que se mantém até hoje.
Depois foi morar em Cruzeiro, com o primo Guiseppe, onde trabalhou no comércio desse parente. Com algumas economias mudou-se para a cidade de Jaú e, com o sr. Raphael Solla, que era mascate, vinha a São Paulo a cavalo trazendo roupas para serem vendidas na cidade. A viagem de ida e volta demorava 1 mês. Pouco anos depois iniciou um negócio de importação de produtos alimentícios da Itália.
Na lojinha do Raphael Solla, que Luiz tomava conta, começou a namorar a sua filha Maria Giuseppina Solla com a qual se casou. Com os negócios prosperando decidiram vir para São Paulo em 1890.

Em São Paulo, instalaram -se na Rua do Seminário, em uma casa grande, e montaram o negócio de importação na rua Boa Vista, 34. Posteriormente, mudaram o escritório de importação para a Rua Mauá 105. Nesta época, a empresa chamava-se L. Perroni e Filhos.

Também colocaram em prática a ideia que tiveram, ainda em Jaú: já que vendiam roupas de terceiros, seria melhor se fabricassem as roupas; os lucros seriam maiores, assim compraram maquinário e montaram a malharia e tecelagem na Rua da Mooca e foi criada a L Perroni e Cia.
Lá também se instalou a importadora que recebia os produtos, que vinham do porto de Santos, de trem, e paravam dentro da fábrica, onde tinha um terminal ferroviário. Sua empresa na Rua da Mooca, mantinha uma extensa área de 8.000 m2.
Nesse momento, trouxe para o Brasil, os dois irmãos, Francesco e Guiuseppe, que também se tornaram sócios da empresa L.Perroni e Cia, tendo como sócio comanditário o Sr. Rafael Solla, seu sogro.
As importações foram ampliadas, não só de países europeus, mas também da Argentina, Uruguai e Chile. Para se ter ideia dos itens importados, por exemplo, no setor de alimentação, havia azeite de oliva, chá, vinho, trigo, sal, doces, açúcar, ameixa, conservas, amêndoas e avelãs, cebolas, até corta-alimentos, entre outros – na área de construção civil – cimento, enxada, armamento e munição, chumbo, arame farpado, grampos, além de tecidos para roupas.

Tinha total controle de seus negócios, e anotava tudo em sua caderneta: os contratos, as compras, os clientes…. até as questões pessoais, com descrito na página à esquerda, a Apólice de Seguro de Vida feito em seu nome na New York Insurance company, feito em 11 de março de 1907 pela quantia de 50.000.000 de contos.
Pelo histórico levantado, a empresa de Luiz Perroni passou por vários percalços, das intempéries da natureza à crise financeira. Um certo dia, São Paulo foi acometida de uma grande tempestade, que gerou enorme transtorno na cidade, e que deu muitos prejuízos à fábrica dos irmãos Perroni, que ficou parcialmente destruída.
No final dos anos 20 uma grave crise econômica se instalou no país e a empresa Luiz Perroni e Cia, sofreu muitos prejuízos pela falta de pagamento de seus credores, chegando a pedir concordata e falência, sendo reabilitada anos depois.

Luiz Perroni foi um grande contribuinte de causas que acreditava, tanto no Brasil, como na Itália. Na época da Primeira Guerra Mundial doou muito dinheiro, 1.000 liras, ao seu país de origem para a construção da frota aérea italiana. Também, mandava sempre uma contribuição para o Orfanato Santo Antonio de Pádua, pelo Banco Holandês, na Rua 15 de novembro.

Era também apaixonado pelo Palestra Itália, atual Palmeiras, clube que também ajudou e tinha acesso livre no Pavilhão da Diretoria do Parque Antártica.

A família
Quando já tinha se tornado um empresário reconhecido aqui e em seu país de origem, sua biografia foi contada em um jornal italiano da época. A reportagem, dizia que a família era um dos grandes amores de Luiz Perroni. Então vamos conhecê-la: Luigi Perrone casou-se com Maria Giuseppina Solla em Jaú, em dezembro de 1894. O casal teve dois filhos: Domingos e Euclydia.

Sobre a mansão da Avenida Paulista, que ficava no antigo número 38, não sabemos muita coisa, apenas que data de 1908 e seu arquiteto não foi identificado. Não era um palacete, mas uma boa casa, arborizada e o terreno ia até a Alameda Santos. Construída com o que chamavam à época de “pedra artificial”, temos algumas imagens que dão ideia da casa, além de mostrar a família.



A família posa em um dos ambientes internos da casa da Avenida Paulista. Euclydia e Amadeu casaram-se em 06 de dezembro de 1919 e tiveram os filhos Jefferson, Norma, Sylvia, Sergio e Fernando. A Ana, a quem agradecemos a acolhida e o contato, é filha de Sylvia.

Um lindo retrato de época registra a família: Luiz Perroni no centro, do lado direito, Amadeu e Euclydia, do lado esquerdo, Giuseppina e seu filho Domingos.

Domingos casou-se com Elvira e tiveram as filhas Daisy e Liliana. O casamento realizou-se no dia 18 de junho de 1930. Abaixo toda a família posa para retrato na escada da Avenida Paulista.

A festa aconteceu no salão do Belvedere do Trianon e foi devidamente registrada em reportagem na Revista Vida Doméstica, na edição de agosto daquele ano. Destaque para a linda foto da noiva, D. Elvira, abaixo, na parte de cima da página, à direita. Deve ter sido uma festa dos sonhos, não é mesmo?

D. Daisy, filha do casal, foi quem, muito gentilmente, abriu o álbum de recordações da família. Ela viveu seus primeiros anos na casa da Paulista, como vemos na foto, ainda bebê, sentada na cadeira no jardim da casa da Paulista.

D. Daisy conta que tinha um cachorro chamado Zulu, e uma babá russa que chamava de Carmen.

Ela conta também que os avós tinham medo de sequestro e não permitiam que ela andasse pelo jardim da frente da casa sozinha. Ficavam na varanda no horário da saída do Colégio São Luiz para verem os netos, filhos da Euclydia, saírem da escola.

D. Daisy, no jardim da casa, com sua babá Carmen, brincando com um outro cachorrinho. Pelo jeito, gostavam dos animais.

Uma família de origem italiana, que leva essa linda história para os todos os descendentes, como Cristina e José Luis, em foto de 1957, filhos da D. Daisy com o marido, José Nocito, que também era italiano da mesma cidade de Luis Perroni. E, na foto abaixo, a caçula de D. Daisy, a graciosa Elizabeth, com 4 anos, segurando sua bonequinha e sorridente para o retrato.

Todos já têm família constituída, com seus filhos, netos de D. Daisy e bisnetos do casal que deu início a mais essa história de uma família de imigrantes que veio para o Brasil para “fazer a vida”.

Maria Giuseppina e Luiz Perroni, não estão presentes apenas nos retratos na parede do apartamento de D. Daisy, mas estão na lembrança e nos corações de seus familiares e, a partir de hoje, no resgate da história da nossa querida Avenida Paulista.

Para finalizar, gostaríamos de registrar, mais uma vez, o imenso agradecimento, às Sras. Ana e Daisy, por terem possibilitado mais essa reconstrução da história da casa e da família de Luiz Perrone, moradores da Avenida Paulista. A elas, toda a felicidade do mundo.
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
2 thoughts on “A casa, a família e os negócios do imigrante italiano Luigi Perroni”
Daniel Morgado
Simplesmente FENOMENAL. Parabens pelo trabalho.
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Luciana Cotrim
Eu que agradeço o comentário. Acompanhe a Série Avenida Paulista, que teremos muitas outras histórias.
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