A Série Avenida Paulista está apresentando uma série com a história de um casarão emblemático que existia na Paulista, na esquina da Rua da Consolação: o Palacete Camasmie.
A primeira parte mostrou a edificação anterior e o início da construção do palacete, a segunda expôs a história da construção do interior da casa, apresentando os artesãos e operários que trabalharam em sua edificação. A terceira, exibiu os ambientes e cômodos da casa.

Depois deste casarão
Edifício Grande Ufficiale Evaristo Comolatti
Avenida Paulista, 2.457
Neste quarto capítulo, iremos mostrar a origem da família e como era a convivência deles dentro da casa. Para tal, vamos dividir com todos a memória viva de Stella Camasmie Taleb, uma das netas de Taufik Camasmie, o primeiro proprietário do palacete. D. Stella escreveu suas lembranças para conversar conosco, e resolvemos publicar trechos dos textos, escritos à mão, por ela.
Também contamos com a contribuição de Marcia Dib, bisneta do proprietário, com seu trabalho de conclusão do curso de arquitetura, do qual do mesmo modo mostraremos alguns trechos.
Para ler os capítulos anteriores, clique:

Começamos com a história de Taufik Camasmie, com um extrato que consta no trabalho de Marcia.

Segundo o trabalho de Marcia, o Sr. Taufik “se instalou na Rua Rangel Pestana, nº 63, morando de aluguel atrás da loja. Nessa época, já com 28 anos, foi visitar um conterrâneo, Nagib Ballan, que havia chegado ao Brasil, e acabou se casando com a sua irmã, Acibe Ballan, de 13 anos. Isso ocorreu no dia 18 de janeiro de 1900.”

O casal teve nove filhos, uma delas ainda está viva, como conta D. Stella:

A educação era fundamental para o Sr. Taufik, porém os filhos mais velhos tiveram que trabalhar enquanto os mais novos, foram estudar, como descreve D. Stella.

Alguns amigos aconselharam o Sr. Taufik, para que ele fosse vender suas mercadorias no centro da cidade. Ele abriu uma loja na Rua 25 de março, onde trabalhava com os filhos mais velhos. A família morava no andar superior.

Depois de muito trabalho a família veio morar na Paulista. A história da construção do Palacete Camasmie está contada nos capítulos anteriores.

Em sua inauguração uma grande festa de casamento aconteceu, entre o filho primogênito, Bahige, e sua noiva Rosinha, pais de D. Stella. Os detalhes ela mesma nos conta.

Muitos casamentos foram realizados na casa, de várias gerações. Como era tradição, os familiares ou a noiva desciam pela escada de mármore, ornamentada com um lindo tapete que chegava no centro da grande sala de visitas.

E assim foi também no casamento da D. Stella, ao pé da escada, na linda fotografia abaixo. Na outra foto, mais uma importante comemoração familiar em dose dupla: a celebração da bodas de prata de seus pais, Bahige e Rosinha, que aparecem no topo da escada, e o casamento da sua irmã Clarisse com Seme, que aparecem logo atrás dos pais.

Além das festas de casamento, a família tinha muitas outras diversões, como nos expõe D. Stella. Eram muitos passeios e divertimento, mas nada melhor do que brincar no corso no Carnaval.

Abaixo, a família na garagem do palacete saindo para ir ao corso na Avenida Paulista. À esquerda, no banco de trás, o Sr. Taufik e sua esposa Acibe.

Em outro ano, o carro com a família desfilando pela avenida, Rosinha e Bahige, à frente, as moças Linda, Zilda e uma prima sentadas na capota e o Sr. Taufik e a esposa Acibe, sentados no banco de trás.

A família era grande e unida e sempre havia motivos para estarem juntos. Na foto abaixo, a partir da direita, Zilda, ao lado sua irmã Linda, o casal Bahige e Rosinha, seguido do casal Taufik e Acibe. Entre as crianças, D. Stella é a segunda menina, à direita.

Nesta ocasião, a família estava indo ao baile de carnaval do Esporte Clube Sírio. No primeiro plano, as seis meninas estão fantasiadas iguaizinhas – eram as padeiras – fantasia inspirada na marchinha de carnaval “A mulher do padeiro”.
Também eram muito festivas as passagens de Ano Novo em família, como descreve D. Stella.


Muitos acontecimentos marcaram a vida da família naquela residência, como por exemplo o IV Centenário da cidade de São Paulo, que foi vivido assim.

Imaginem que maravilhoso não deve ter sido ver os fogos no alto do mirante, em que quase não se via construções, mas apenas o lindo horizonte da cidade.

E qual seria a surpresa em 12 de maio de 1933, dia em que o dirigível Zepellin sobrevoou São Paulo e pode ser visto na Avenida Paulista bem em cima do palacete, como vemos na fotografia abaixo. Êxtase puro com a grandiosidade do objeto que flutuava no ar.

Mas claro a vida não era só festa, D. Stella descreve a convivência na rotina familiar:

Vejam que linda família se formou ao redor do Palacete Camasmie! E quantas gerações por ali passaram.

Como mostra a fotografia de Acibe e seus bisnetos.

Uma casa não é só formada pela sua construção, por sua decoração, mas principalmente pelas emoções, alegrias e tristezas daqueles que viveram nela, pessoas, famílias e gerações, cada um com seus momentos de felicidade e de inquietude e, tudo isso junto, fez a história dessa família, e também parte da nossa memória da cidade e que faz deste palacete algo para ser lembrado para sempre. Uma história de uma residência e sua família, originária da imigração árabe, mas tipicamente paulistana.
Pedimos licença para Marcia Dib para terminar este capítulo da série Palacete Camasmie com um trecho final de seu rico trabalho.

Muito obrigada D. Stella, e sua filha Magali, Marcia, e sua mãe Silvia, e toda a família Camasmie que está na quinta geração e, de alguma forma, está presente neste texto.
Com isso, o melhor de tudo é que eternizamos a história da família e do Palacete Camasmie, para que nós todos, leitores, e nossos descendentes possamos ter acesso a ela.

Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!