A Série Avenida Paulista apresenta a casa de Luigi Trevisioli, que era no número 2412 da avenida. Infelizmente não temos uma imagem da fachada da casa, mas temos uma novidade: a descrição da casa contada pela própria neta, a D. Felicitá Giulia, mais conhecida como Lela, a quem agradecemos imensamente ter escrito a partir de sua vivência na casa.
Em agradecimento, a foto que abre esta história é dela, com seu irmão, sentados na escadaria da entrada da casa.
Na foto, D. Lela e seu irmão, Luigi Giovanni, na escada da entrada da casa da Avenida Paulista.

Depois deste casarão
Edifício Luis Trevisoli
E vamos à casa no relato de D. Lela:
Avenida Paulista, 2412, casa, aliás casarão de meus avós maternos, Luigi Trevisioli, italiano, vindo de uma pequena cidade do Veneto, e ela, Luisa, italiana de Lucca, na Toscana.

Casaram-se e foram morar em Salto de Itu, onde meu avô implantou um fábrica de tecidos que surgiu no Brasil. Foi onde a maioria dos 7 filhos nasceu: Iris, minha mãe, Eletro, Eldra, Nair, Álvaro, Halley e Thealia (estranhos nomes meu avô dava aos filhos).


A casa foi construída em um enorme terreno de esquina com a Rua Bela Cintra. Na frente para a Avenida Paulista havia 3 portões: um no meio muito alto e largo, de ferro trabalhado, e outros dois do lado esquerdo e direito, menores por onde se entrava para o jardim, todo ladrilhado, com canteiros, com as plantas, bruxinho, roseiras e até palmeiras.


Uma dessas palmeiras me foi presenteada pela minha tia, quando a casa foi demolida. Hoje a planta está no jardim da minha casa de praia, para minha grande alegria, pois é a lembrança de meus avós.

Nas escadas do exterior da casa, D. Lela e seu irmão Luigi, ela sendo amparada pelo pai, o Sr. Ettore. Ao fundo vê-se a um pedaço da lateral e da frente da Igreja São Luis Gonzaga (que a história pode ser lida aqui neste link), que era vizinha à casa da família.

Na foto, em pé, os irmãos, Álvaro e Nair, D. Iris, sentada junto com a mãe deles, D. Luiza, esposa de Luigi Trevisoli. A foto foi tirada na varanda, onde se pode ver ao fundo, a porta de entrada da casa.
Voltando a casa da Paulista: do jardim se subia uma escada de mármore branco até um terraço estreito e comprido. Naquela época as casas tinham esses terraços com móveis de palha, onde os moradores se sentavam e ficavam observando o movimento da Avenida. A porta de entrada de madeira, com duas janelas, para olharem quem chegasse da rua.

Entrando, um pequeno hall retangular, comprido, à esquerda, o escritório, com móveis sóbrios, uma escrivaninha, poltronas etc. À direita a sala dourada, com móveis delicados, dourados, era uma sala mais íntima. Seguindo, a sala de visitas, que era com móveis sóbrios, poltronas e sofás. Essa sala era fechada por uma linda porta de madeira nobre e cristal bisotet, que dava para o hall principal grande, com duas altíssimas colunas, poltronas e sofás, e a escada ao lado para o andar superior.
À esquerda deste hall, o lavabo, a primeira sala, toda de lambril de madeira, com cabides para casacos e capas e, na segunda sala, a pia e a louça sanitária.
No fim do hall de entrada, uma porta, um longo corredor que terminava na copa. À esquerda deste corredor, onde minha tia dormia, pois tinha tido um derrame e vivia em uma cadeira de rodas. Em seguida, uma sala de almoço, muito simpática, com móveis claros, que era usada todos os dias. A sala de jantar, seguida ao living, com uma grande porta, muito sóbria, com móveis de madeira escura, lambril de madeira trabalhada até a metade da parede. E, por último, seguido a sala de jantar, um pequeno jardim de inverno, claro, com móveis claros, lugar muito usado pela família.
Terminando o corredor da copa, partia uma escada que levava ao porão. Ah, que fascínio e que medo tinham as crianças desse porão, que ocupava o tamanho da casa. Uma espécie de adega, em seguida uma grande sala com mesa de ping-pong, tanques para as roupas, quartos de empregadas, outros quartos, praticamente vazios.
Da copa, uma porta e uma escada, que levava ao jardim enorme, no fundo dele, beirando a esquina, edículas com a garagem para 3 carros e no andar superior quarto para motorista. Ao lado da edícula, a lavanderia e, em frente, um galinheiro e, a direita, um grande portão de carros que entravam e saiam pela Rua Bela Cintra.

Do grande hall com colunas, saia uma linda escada para o andar superior, que tinha as paredes pintadas até a metade com grade de ferro trabalhado. O andar de cima era comum, 5 dormitórios, uma rouparia e um banheiro (!!) grande, dividido em dois ambientes. No fundo do corredor, depois dos quartos, um grande terraço livre, sem móveis, o que eu acho muito estranho não ser aproveitado, pois era um espaço tão bom.

Não podemos deixar de contar quem foi Luigi Trevisoli. Para isso, recorremos ao site da Prefeitura de Jundiai. Trevisoli foi proprietário de uma das fábricas de tecidos mais importantes da cidade. O site descreve:
“A Argos Industrial foi fundada no dia 27 de fevereiro de 1913, sob a denominação de Sociedade Industrial Jundiaiense. No mesmo ano, o nome foi alterado para Sociedade Argos Industrial. Entre 1917 e 1927, foram realizadas novas alterações na razão social: 1917 – Manufatura Italiana de Tecidos S.A.; 1919 – Trevisoli Borin & Cia Ltda.; 1925 – Manufatura Italiana de Tecidos S.A.; 1927 – Argos Industrial S.A., denominação que permaneceu até 1984.

Durante muitos anos a tecelagem foi o carro-chefe da produção, e mesmo com a modernização da confecção não deixou de se mostrar inovadora. A Argos produziu gabardines (tipo de tecido) de primeira linha e o famoso verde-oliva para vestir o Exército.


No início da década de 1980, a empresa foi decaindo em função de crises. Com a falência, a Argos fechou as portas e demitiu os funcionários, pondo fim num império industrial.
Hoje, o local abriga o Complexo Argos, destinado à formação e capacitação de professores da rede municipal de ensino, a Secretaria Municipal de Educação, a Televisão Educativa de Jundiaí (TVE), o Instituto Federal de Jundiaí, a Biblioteca Nelson Foot e outros aparelhos públicos que dão nova vida à estrutura.

Terminamos com essa bela matéria do livro “Gli Italiane nel Brasile”, publicado em 1922, com os grandes feitos dos imigrantes italianos em São Paulo.
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