Neste texto apresentamos a casa de Octavio Mendes, uma bela propriedade que ficava na Avenida Paulista, antigo número 73, onde atualmente se localiza fica o prédio do Bradesco, número 1450.
Embora não tenhamos muitas informações sobre a mansão, a história de vida do Dr. Octavio Mendes é bastante interessante.

Depois deste casarão
Sua origem é de família simples, do interior de São Paulo. Nascido em em 12 de abril de 1869, em uma pequena propriedade rural de seu avô materno, ainda bebê veio para Campinas, onde seu pai montou uma banca para vender os produtos vindos das terras de seu sogro. Octávio passou sua infância nesta cidade.
Em 1885, o jovem mudou-se para São Paulo para estudar Direito, ajudado por sua mãe, com o auxílio de Francisco Clycerio e de Bernardino de Campos. Quando chegou a cidade, levou uma carta de Francisco indicando o rapaz para o Sr. Rangel Pestana, que era diretor do jornal “A Província de São Paulo” (atualmente “0 Estado de S. Paulo”). Admitido como revisor, logo passou para a redação do jornal.

Aos 20 anos, em novembro de 1889 tornou-se bacharel em ciências jurídicas e sociais. Um fato interessante é que a colação ocorreu em nome do nosso Imperador Dom Pedro II, pois somente 10 dias depois, Manuel Deodoro da Fonseca faria a rebelião que ocasionou a Proclamação da República.
Octávio Mendes casou-se em outubro de 1891, aos 22 anos, com Elisa de Moraes Barros. Do seu enlace nasceram seis filhos: Maria Ignez, Sylvia, Cecília, Elisa, Leonor – que foi casada com o Dr. Adhemar de Barros, governador do Estado – e, o único homem, Octávio Mendes Júnior, que ficou conhecido como Octavinho.
Passou pela carreira jurídica como promotor, mas foi como advogado do direito comercial que Octavio Mendes ganhou reconhecimento e fama. No começo de 1910, contraiu uma doença que o transformou num deficiente físico para o resto da sua existência. A doença, desconhecida no Brasil, foi diagnosticada na Europa, para onde seguiu para tratamento. Era a poliomielite que lhe tirou a locomoção aos 40 anos de idade.
Passou um longo período triste e fechado em seu escritório de advocacia, todas as atividades externas eram realizadas pelo seu sócio. Porém, em 1920, Octávio Mendes começa a lecionar na Faculdade de Direito, onde havia se formado, assumindo a cadeira de direito comercial. No artigo escrito em comemoração ao centenário de seu nascimento, encontra-se a seguinte observação:
Ei-lo professor. Suas aulas merecem a atenção geral. Mestres e discípulos açodem e aplaudem o novo docente que, não obstante sempre enfermo, não se podendo quase mover, é de absoluta pontualidade na Faculdade e no movimentado escritório.

Octávio Mendes cumpria suas obrigações indo à Faculdade, seu escritório e sua casa na Avenida Paulista. Sobre esta última, no mesmo documento citado acima, ficamos sabendo que
era cercada de denso arvoredo, cuja sombra gostava de receber, tornou-se o centro a que acorriam parentes e verdadeira legião de amigos e admiradores. O ambiente era acolhedor punha à vontade os visitantes, sempre recebidos com carinho.
A casa, realmente, deve ter sido bela e confortável, com projeto de Augusto Fried, ela foi construída em 1906. O famoso arquiteto projetou vários edifícios e casas em São Paulo, como o palacete de von Bulow, na própria Paulista. As outras duas únicas referências à casa são sobre a enorme biblioteca, que guardava os seus livros jurídicos, que o Dr. Mendes conhecia em detalhes, e ao corredor longo da entrada da casa, onde ele percorria, quando fazia exercícios para as pernas com a ajuda de duas bengalas.
Foi proprietário de algumas casas para aluguel na própria avenida paulista, inclusive a casa ao lado de nº 71a e 71b. Foi também o primeiro presidente da Fábrica de Pólvoras Baroni, em 1922, e participou da Diretoria do Oceano Foot-Ball Club do Rio de Janeiro.
Octávio Mendes escreveu vários livros, sendo o último sobre Títulos de Crédito, em 1931, editado pela Livraria Acadêmica, de Saraiva & Cia., de São Paulo. Doente, morreu em novembro de 1931, depois de longo sofrimento por 5 meses, seu enterro saiu da casa na Avenida Paulista para o Cemitério da Consolação.

Uma curiosidade: você sabe o nome da rua que fica na lateral do MASP e tem uma choperia com mesas na calçada? Acredito que ninguém saiba. A rua chama-se Professor Octávio Mendes, em homenagem a esse ilustre advogado.
No livro Centenário de Octavio Mendes – 1869-1969 de Octavio e Sylvia Mendes Cajado, os autores descrevem O Dr. Mendes antes de sua doença neste trecho que encerra a sua história.
“Aos 40 anos de idade, Octávio Mendes poderia considerar-se um triunfador. Cruzando a Avenida Paulista com passo largo e resoluto, o olhar sereno e confiante, vendo brotarem à sua volta as mansões que, aos poucos, faziam a formosa via pública uma das mais belas de São Paulo, sentindo estar em torno de si a cidade fervilhante, tinha a impressão de crescer com ela e sobejavam-lhe motivos para sentir-se realizado. A própria situação de sua casa, num dos pontos topograficamente mais altos da cidade, era bem o espelho da sua situação, um como que prêmio arduamente conquistado com o ingente esforço de vinte anos, sem tréguas, sem desfalecimentos, sem concessões, sem transigências. Octavio Mendes vencera. E com um sentimento de quase insopitável orgulho o antigo molecote de Campinas descia a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio em demanda do seu escritório, no centro da cidade”.
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