Continuamos com a segunda parte da história das casas de aluguel dos irmãos Sarti (para conhecer a primeira e a segunda casa acesse aqui)

Depois deste casarão
Entre 1917 e 1930, a terceira casa, de número 123, aparece na lista telefônica em nome de Ludwig S. Beckmann, pessoa que não conseguimos localizar nenhuma informação, apenas o seu nome e o seu FORD, aparece em uma lista de proprietários de automóveis.
A última casa dos irmãos Sarti, a de número 125, aparece em nome de Aldo Blumenthal entre 1917 e 1920 e, depois, em 1927, de Miguel Maluhy e, em 1930, de Evaristo José Rodrigues. Nos anos 1917 e 1918 vários anúncios informam neste endereço a venda de um carro “torpedo” FIAT e outro Renault.
Provavelmente tenha alugado a casa, Miguel Maluhy é mais um dos tantos sírios de Homs que residiram na avenida Paulista, nasceu em janeiro de 1892, chegou aqui em 1902, com 10 anos de idade e em 1950 naturalizou-se brasileiro. Trabalhou no setor têxtil até perder tudo no crash de 1929, mudando de ramo fundou a Gráfica Maluhy e foi também responsável pela criação de várias entidades assistenciais, culturais e recreativas, entre elas “O Club Homs” e ”O Lar Beneficente Sírio”.
Aldo Blumenthal, em 1928, solicita à Prefeitura, em momentos diferentes, para chanfrar a guia da avenida e abrir uma porta na casa. Acreditamos que tenha sido proprietário da casa.
Já a casa 125 tornou-se a de número 486 e na lista de 1953 aparece em nome de Manfredini, L e, em 1973, em nome de Phillippe Aché.

O laboratório Aché foi fundado pelo doutor Phillippe Aché, que era um médico notável à época. Criou na década de 1920, os soros hormônicos, montando o laboratório em Ribeirão Preto. Em seus estudos esteve na Índia e, também, foi o introdutor do gado zebu no Brasil.
Nosso leitor, Paulo Afonso Picarelli Offa disse que a casa foi durante décadas e até 1975, residência e consultório do renomado psiquiatra Philippe Aché Junior que lá morreu abandonado e sozinho, com a casa em estado de grande deterioração e ele em avançado estado de demência.
O Dr. Philippe Aché Junior nasceu em 1906. Herdou do seu pai, fundador do Instituto Psiquiátrico Aché, os dotes de pesquisador e cientista. Clinicou diversos anos na Capital de São Paulo, onde granjeou grande número de amigos, pelo que fez pelos menos favorecidos. Foi médico do Hospital Franco da Rocha, Juqueri, e dos Hospitais Morumbi e Liberdade. Faleceu em 04 de julho de 1977.
No blog de Edgar Poças, achamos uma referência ao médico e seu dom musical. O autor escreve:
Quem me ensinou “A Ceguinha”, no início dos anos sessenta, foi o dr. Philippe Aché, médico psiquiatra, que tocava violão e cantava maravilhosamente. Encontrávamos com ele, eu e meu querido José Carlos Naccache, em saraus maravilhosos. Éramos dois adolescentes, eu dedilhando o pinho e meu parceirinho cantando que nem querubim mais a presença alegre e bondosa, do dr. Philippe que permanece viva. Saudade prazenteira.
Na imagem inicial deste texto, vemos uma parte de uma foto, tirada nos anos 70, do Studio Fotográfico BUZGAIB em que aparece a casa 125, atrás do ônibus. Abaixo uma imagem de Valter Trujillo, realizada em 1982, onde aparece a lateral da casa.

Provavelmente, em meados dos anos 2000, era a única a casa que não tinha sido ainda demolida, e nela funcionava uma loja chamada Centrocópias – soluções gráficas, que ainda ostentava um outdoor da cerveja Miller, que neste período esteve no Brasil entre 2004 e 2007 e foi relançada recentemente.

Na foto abaixo, de autoria de Carlos Alkmin, vemos a casa à noite, com ênfase na iluminação noturna e, ao seu lado, um pedaço do estacionamento que ficou no lugar das outras casas derrubadas.

Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
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