O edifício teve o projeto original concebido pelo reconhecido arquiteto Giancarlo Palanti, edificado pela Construtora Alfredo Mathias, entregue em 1954.
Foto: Ricardo Souza
Um dos primeiros prédios residenciais luxuosos levantados na Avenida Paulista.
Também foi o primeiro edifício residencial da avenida transformado para uso de escritórios em 1984. Os apartamentos foram sendo comprados pela Construtora Savoy, que realizou uma reforma que durou 5 anos para adaptação do prédio para uso comercial. Acreditamos que somente neste período o nome do edifício mudou para Savoy, local onde a construtora também se instalou.
Foto: Rafael Henrique Meireles
O estilo arquitetônico foi preservado, mas as janelas foram fechadas com vidro azulado. A área de lazer e a piscina foram transformadas em garagem. O Savoy conserva externamente as linhas que fizeram dele um dos mais sofisticados do seu tempo. Tem coberturas com jardins e o hall de entrada ostenta ainda o lustre de cristal.
Durante a pesquisa sobre o edifício, identificamos a história de uma família, escrita por Jorge Behrens e que foi publicada em 2006 no site São Paulo – Minha cidade.
Foto: Rafael Henrique Meireles
É uma narrativa belíssima, de quem morou no edifício, que compartilhamos aqui:
Hoje, quem passa na avenida Paulista observa na esquina com a alameda Joaquim Eugênio de Lima o edifício Savoy, com suas janelas de vidro dourado espelhado. Poucos talvez saibam – ou ainda se lembrem – que aquele prédio já foi residencial, dividido em três blocos de apartamentos que abrigaram famílias por mais de 25 anos.
Eu nasci na ProMatre Paulista, prédio vizinho, em 06 de janeiro de 1972 e posso dizer que minha primeira casa foi o apartamento no. 33 do 9o. andar do edifício Lawisa que, na época, correspondia ao bloco central do prédio e que atualmente é ocupado por um escritório de advocacia.
Minha mãe contava que foi um dos primeiros edifícios da avenida Paulista e das janelas do apartamento avistava-se até o Morumbi, sem obstáculos à frente (..).
No apartamento 33 moraram meus avós paternos Hilda Hahnemann e Isaac Lippel, do ano de 1954 (ou 1956…) até o mês de novembro de 1979. Foram uns dos primeiros moradores do recém entregue edifício, propriedade de uma família abastada da cidade. Curioso o fato do bloco da esquina da Paulista ser de apartamentos duplex, o que deveria ser um luxo para a época. Ainda é possível para que passa na avenida visualizar à noite as escadas entre os andares, quando as luzes internas se acendem.
Eu vivi a fase decadente do edifício como residencial. Me lembro quando criança de seu ar sombrio, do cheiro de mofo dos elevadores revestidos de madeira; também dos vitrais de pássaros que ornamentavam a entrada do bloco central. Havia uma piscina rodeada de uma pérgula, nos fundos, que deu lugar a um piso de garagem após a reforma.
Lembro-me, também, do “seo” Otacílio, zelador do prédio, o qual meus pais e avós consideravam como amigo. Ele veio da Bahia no final dos anos 40 e trabalhou na construção. Terminada a obra, permaneceu como zelador.
Em 1978 os proprietários venderam o prédio grupo Savoy. Os inquilinos tiveram que se mudar para que os apartamentos se tornassem escritórios. Meus avós foram os últimos a fazer a mudança e lembro-me com uma certa tristeza da saída…”
O Sr. Roberto Calfat, leitor da Série Avenida Paulista, que morou no edifício Urbana, do outro lado da avenida, disse que “lembra que, no número 810, na portaria do prédio, havia o nome Edifício T. M. Soubihe”. (provavelmente o primeiro bloco com acesso pela avenida). A família Soubihe, de provável origem libanesa, também morou na Avenida Paulista, no número 1.355, esquina com a Rua Pamplona. Será que a família construía edifícios? Atualmente, existe uma empresa chamada Soubihe Arquitetura, mas precisamos pesquisar mais…
Conforme contou o Sr. Roberto: “do meu prédio se podia avistar a piscina no então prédio residencial com suas unidades sendo alugadas. Depois da compra pelo grupo Savoy, a piscina se tornou estacionamento. O meu barbeiro, quando criança, tinha um pequeno salão neste prédio cuja entrada era pela Alameda Joaquim Eugênio de Lima. A família de um dos donos do banco Safra, morou na cobertura do prédio. Os Safra vieram de Beirute. (eram originários de Alepo antes de Beirute.) Eu escutava falar da família Safra pelos meus pais. Não sei se já havia o banco no Brasil naquela época. Como muitos levantinos, predominantemente de religião judaica e cristã, deixaram a região no fim do século XIX e início do século XX”.
Agradecemos as lembranças do Sr. Roberto, pois nunca saberíamos que antes do Edifício Savoy, um dos blocos do prédio chamava-se Edifício T. M. Soubihe.
Voltando à reforma, no andar térreo foi construída uma marquise para lojas, onde já funcionou uma agência do Bank Boston e, desde março de 1981, funciona a primeira loja do McDonald’s em São Paulo, inaugurado em 27 de fevereiro de 1981.
O primeiro McDonald’s de São Paulo.
Em 2003, um projeto de retrofit assinado pelo arquiteto Kiko Salomão foi realizado no prédio e, no ano seguinte, o escritório de advocacia Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados se instalou lá, ocupando 8 mil metros quadrados.
Em matéria da Revista Arcoweb, sobre a reforma realizada, alguns trechos esclarecem o que foi feito no prédio, que replicamos aqui:
… configurado como um só corpo, é na verdade formado por três prédios justapostos, com acessos independentes – um na avenida Paulista e os outros dois na alameda Joaquim Eugênio de Lima. A equipe do escritório de advocacia utiliza, com exclusividade, os acessos da via secundária, uma vez que a outra entrada serve alguns andares que estão locados para outros inquilinos. Esses acessos foram hierarquizados, com um deles utilizado para serviços.
Como o proprietário do prédio exigiu a manutenção da conformação clássica nos dois halls, as intervenções de Kiko Salomão ali são mínimas e visam adequar a instalação da nova infraestrutura. (construtora Savoy saiu de lá e hoje ocupa o Paulista Mil) Entre os dois halls, na sobreloja, foram instalados a biblioteca, que possui planta em L, e áreas técnicas.
Uma claraboia, situada em um dos recortes da torre, dá luz natural ao espaço, onde se destaca uma escada em que o guarda-corpo (corrimão) de vidro parece incrustado no mármore travertino que a reveste.
Elegante em suas áreas comuns, o mesmo material recobre as paredes, onde a paginação lembra um quebra-cabeça, com as peças separadas por frisos metálicos. Esse hall explicita a relação entre o clássico e o contemporâneo, mote de toda a proposta: mesmo fugindo à imagem clássica dos escritórios de advocacia, o projeto de Salomão é austero sem ser conservador.
Lindo, não é mesmo?
Foto: Leonardo Carvalho
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
Olá Roberto, bom dia!
Muito obrigada por seu comentário. Não sabia dessa procedência. Teria mais informações sobre a família? Consta que moravam na Avenida Paulista e na lista telefônica de 1952, a família aparece no número 1355, que atualmente deve ser um terreno na Paulista.
ASérie Avenida Paulista conta as histórias dos casarões e das famílias que moravam na avenida e, também, dos edifícios que foram construídos em seus lugares.
Escrita por Luciana Cotrim, a série conta a história de mais de 80 casarões do século XX e dos edifícios atuais.
3 thoughts on “O clássico Edifício Savoy na Paulista”
Pingback: O atelier de Dener na Avenida Paulista | Série Avenida Paulista
Roberto Anis Calfat
Este Prédio era da família Soubihie
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Luciana Cotrim
Olá Roberto, bom dia!
Muito obrigada por seu comentário. Não sabia dessa procedência. Teria mais informações sobre a família? Consta que moravam na Avenida Paulista e na lista telefônica de 1952, a família aparece no número 1355, que atualmente deve ser um terreno na Paulista.
Chegou a ver os textos sobre os Calfat? Caso não conheça, seguem os links:
A casa de Elias Calfat na Avenida Paulista – https://serieavenidapaulista.com.br/2024/01/26/a-casa-de-elias-calfat-na-avenida-paulista/
Calfat na Paulista – Demetrio – https://serieavenidapaulista.com.br/2023/01/07/calfat-na-paulista-demetrio/
Neste também a fampilia Calfat é mencionada – A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista – https://serieavenidapaulista.com.br/2021/01/10/a-historia-dos-salem-e-a-beleza-do-palacete-da-familia-na-av-paulista/
Espero que goste, se tiver algum comentário é só me escrever.
Abraços,
Luciana Cotrim
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