Série Avenida Paulista
  • Home
  • A Série Avenida Paulista
  • Casarões
  • Edifícios
  • Espaços públicos
  • Contato
  • O casarão dos Corrêa Galvão – Parte 2 – As belas lembranças de Anne de Bonneval

    Posted at 19:03 by Luciana Cotrim, on junho 15, 2019

    Na postagem anterior contamos a história da família Corrêa Galvão e de sua mansão na Avenida Paulista  Neste post, a continuação da história da casa será apresentada por alguém que nela residiu quando era pequena: a neta do proprietário, Anne de Bonneval.

    As lindas e inéditas fotos dos ambientes do casarão são acompanhadas das singelas lembranças de Anne, a quem agradecemos imensamente pela generosidade de compartilhar suas memórias.

    Vamos adentrar neste belo casarão, junto com a Anne. Aproveitem!

    Depois deste casarão

    Edifício do Banco Central

    Avenida Paulista, 1804

    Quando me pediram para que eu escrevesse alguma coisa sobre cada “cômodo” de minha casa, me perguntei: como escrever sobre a parte interna da casa, se eu só sei escrever sobre a natureza mágica que havia fora dela?

    Fiquei discutindo com essa dúvida até que concluí que se víamos a natureza através das janelonas de cada “cômodo”, isso significava que a natureza também estava dentro da casa, logo, havia magia na casa toda.

    A casa era uma fortaleza! Era uma casa que convidava à exploração e sabíamos que era uma exploração sem fim dado seu tamanho! Sempre encontrávamos algo para colocar no nosso tesouro – tesouro esse que constitui uma parte de minha alma.

    Pensando assim, lembro de cada canto, de cada interruptor de luz, de cada manchinha nos tacos e assoalhos que, às vezes, formavam monstros, outras vezes formavam fadas.

    Lembro dos banheiros, onde era sempre uma festa, seja para jogar algodão molhado no teto, seja para deixar a torneira do meio do bidê aberta, para quem a abrisse – normalmente minha avó – se molhasse!

    Nos divertíamos, tínhamos apenas ingenuidade, inocência e muita espiritualidade por conviver em um lugar assim tão mágico, um grande útero onde nada de ruim nos atingiria.

    O quarto de minha mãe era o reduto, ali dormíamos quando estávamos doentes e ganhávamos presentes no dia que estávamos curados.

    A penteadeira era um reduto de segredos, éramos proibidos de mexer nela! Às vezes eu me trancava dentro do armário de roupas de minha mãe e ficava! Por quanto tempo e por que, não faço a menor ideia!

    Pelas janelonas víamos a palmeira imperial, o sol se pôr, a lua chegar e os sabiás indo dormir.

    No fundo do quarto, ficava o banheiro, adorava as inúmeras gavetinhas cheias de tanta coisa, coisas esquecidas, coisas vencidas, lembranças que não podíamos sequer olhar, pois eram lembranças daqueles que se foram, portanto, sagradas e intocáveis.

    Essas lembranças estavam pela casa toda, cada quarto tinha uma coisa, ou outra, quem sabe várias, mas tinha. Cada quarto morou uma tia, um tio, um avô, uma bisavó, que já não estavam mais por aqui quando eu cheguei, e naquele tempo não se desfaziam de absolutamente nada o que as vezes traz um peso terrível ao lugar.

    O “salão branco” era a sala onde ficava a TV, preto e branco, onde eu e minha irmã mais velha ficávamos horas assistindo, com nossa avó cochilando que, vez por outra, acordava brava, porque a impedíamos de dormir, rs . Lembro de Big Valley, Bonanza, Jeannie, a Feiticeira, Perdidos no Espaço e tantos outros. Essa é a lembrança do salão branco.

    A sala principal, aquela que dá nas escadarias brancas, na lateral da casa era onde a família, os mais velhos, ficavam reunidos, e eu conseguia observar tudo, pois fazia de cada canto um esconderijo…

    Éramos proibidos de entrar em casa durante o dia, tínhamos que ficar no jardim brincando, o que eu achava certíssimo e agradeço pois, descendendo e iniciada na espiritualidade, foi neste jardim que conheci a Magia e o Sagrado.

    Entrava escondida, afinal havia tantas salas que era bem fácil circular sem ser notada, principalmente, para cortar uma fatia de queijo pegar pão no armariozinho da sala de jantar… nunca ninguém via nada.

    Dessa sala eu guardo a memória de cada quadro pintado diretamente em madeira nobre. Eles ficavam acima de todas as portas, as cores ainda estão bem vivas na minha lembrança.

    Aquele armário do fundo, sempre com papéis muito bem dobrados, que serviam para embrulhar “coisas”, um pote cheio de barbantes e fitas de diversas cores formas, que ficavam na porta da direita. Nas portas do meio haviam potes com balas e, na da esquerda, jornais velhos cuidadosamente dobrados. Nas gavetas em cima, sei lá, não lembro ou nunca mexi.

    Cada sala com suas inúmeras portas que se interligavam, era um fascínio, pois cada espaço fornecia mil lugares para se esconder. As duas portas do fundo desta sala, davam para a sala de jantar.

    Com suas vitrines que abrigavam pratarias centenárias, passadas de mãe para filho, desde a época das fazendas de Itu. Eram todas usadas nas festas de aniversário, essas festas eram comentadas em toda cidade!

    Eram festas encantadas, imaginem esta sala de jantar repleta de docinhos e salgadinhos, TODOS FEITOS EM CASA! Minhas queridas Luzia e Julia, que entraram para trabalhar em casa quando minha mãe tinha 11 anos, eram as encarregadas e responsáveis para que tudo saísse perfeito. Nós ficávamos até altas horas embrulhando balas de coco, enchendo bexiga e preparando tudo! Era O evento.

    Cinco filhos – festa baile para as duas mais velhas, o mágico para mim – pois é, na Magia desde pequena! – para minha irmã, o teatrinho, e para meu irmão, circo com churrasco! Cinco festas por ano que aconteciam naquela casa encantada. Quem foi lembra até hoje!

    A sala de jantar, na hora do parabéns, ficava lotada, a tal ponto que não conseguíamos nos mexer! Era muita alegria! A família sempre linda, minha avó sempre reluzente e meus pais chiquérrimos!

    A sala de música era onde minha mãe passava muitas horas por dia tocando piano com Magda Tagliaferro, grande amiga da família, que me fascinava por conta do vermelho de seus cabelos. Essa era uma sala que eu não ficava muito, mas que me era gostosa por conta dos pianos.

    A foto acima mostra meu quarto, a porta da direita dava para um terraço de pelo menos 50 m2, com vista para o infinito jardim com suas 23 jabuticabeiras e uma população descomunal de pássaros. Até hoje quando escuto canto de sabiá, choro.

    Até pouco tempo chorava de saudades da minha casa, hoje transformei esse choro em emoção por ter podido viver naquele pedaço de Céu, de Paraíso, de Éden e ter a oportunidade de contar para quem quiser ler! Meu quarto, meu reduto, quantas saudades!

    A última foto (acima) é a sala que antecedia o quarto de minha avó. Se olharmos a foto da casa abaixo, o quarto de minha avó era onde estão aqueles três arcos acima da minha mãe – aquela menininha que aparece na foto com sua babá no terraço – as janelas mais para a direita, são as dessa sala.

    Entre a sala e o quarto dela, havia um espaço que era o boudoir (sala privativa) dela. Lá ela se maquiava, se arrumava, tinha seus rituais e tudo aquilo me encantava: gavetinhas, cremes, maquiagem coisas escondidas….

    Passeamos por minha casa, agora me despeço dos queridos leitores! Vou descer as escadas que dão para o jardim, ir até o fundo, passando por todas minhas roseiras, árvores e horta, para chegar até onde estão as galinhas, patos, a porca Ivone, o peru glu-glu, sentar debaixo do pé de limão cravo, me deixar ser levada ao mundo xamânico, para lá manter sempre viva esta minha casa, do jeito que as fotos retratam, e poder voltar sempre que quiser e/ou precisar.


    Não é demais poder conhecer cada ambiente deste casarão da Avenida Paulista, que ficava na esquina com a Rua Ministro Rocha Azevedo?

    Melhor ainda, quando as imagens da casa são embaladas pelas histórias e lembranças de Anne de Bonneval, que morou lá, e é neta do proprietário, o Sr. Herculano de Almeida Prado Corrêa Galvão.

    E mais, sabendo que tudo isso é inédito, que está sendo publicado pela primeira vez. Não é o máximo?

    Por isso, novamente, agradecemos a generosidade de Anne que, mais uma vez, colaborou diretamente com a Série Avenida Paulista.

    Para finalizar, replicamos o caprichoso trabalho estudantil de uma jovem, que escreveu sobre a família e a casa dos Corrêa Galvão.

    Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!

    Compartilhe isso:

    • Clique para compartilhar no X(abre em nova janela) 18+
    • Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Facebook
    Curtir Carregando...

    Relacionado

    • ← O casarão dos Corrêa Galvão – Parte 1 – O barão
    • O imponente Edifício do Banco Central do Brasil →
    Avatar de Desconhecido

    Autor: Luciana Cotrim

    Instagram: @serieavenidapaulista Facebook: facebook.com/serieavenidapaulista Use: #serieavenidapaulista
    Postado em Casarões | 5 Comentários | Marcado Anne de Bonneval, Correa Galvão, Herculano de Almeida Prado Corrêa Galvão |

    5 thoughts on “O casarão dos Corrêa Galvão – Parte 2 – As belas lembranças de Anne de Bonneval”

    • Avatar de Denise Crinitti

      Denise Crinitti

      15 15America/Sao_Paulo junho 15America/Sao_Paulo 2019 às 19:34

      Quando esses depoimentos seräo publicados em livro, com as fotos?

      CurtirCurtir

      Responder
      • Luciana Cotrim

        15 15America/Sao_Paulo junho 15America/Sao_Paulo 2019 às 20:15

        Olá, Denise, quem sabe um dia. Planos não faltam…

        CurtirCurtir

        Responder
    • Avatar de José Correia de Arruda Neto

      José Correia de Arruda Neto

      17 17America/Sao_Paulo junho 17America/Sao_Paulo 2019 às 22:19

      Fantástico saber das jabuticabeiras e grandes quintais na Av. Paulista. Também cresci num casarão, só que no interior, minha querida Tietê. Parabéns mil vezes, pela publicação.

      CurtirCurtir

      Responder
    • Pingback: O casarão da família Moraes Barros na Avenida Paulista | Série Avenida Paulista

    • Pingback: O imponente Edifício do Banco Central do Brasil | Série Avenida Paulista

    Deixar mensagem para José Correia de Arruda Neto Cancelar resposta

    • Sobre

      A Série Avenida Paulista conta as histórias dos casarões e das famílias que moravam na avenida e, também, dos edifícios que foram  construídos em seus lugares.

      Escrita por Luciana Cotrim, a série conta a história de mais de 80 casarões do século XX e dos edifícios atuais.

    • Redes Sociais

      • Facebook
      • YouTube
      • Instagram
    • Categorias

      • Casarões (83)
      • Edifícios (59)
      • Locais públicos (12)
      • Sem categoria (51)
    • Pesquisar no site

    • Posts recentes

      • Azem Azem na Avenida Paulista
      • O clássico Edifício Savoy na Paulista
      • Anos de Natal na Paulista
      • O atelier de Dener na Avenida Paulista
      • O edifício Louis Pasteur na Avenida Paulista
    • Tags

      Abelardo Riedy de Souza Alameda Ministro Rocha Azevedo Antonieta Chaves Cintra Gordinho Antonio Pereira Ignácio Arquitetura Modernista Assad Abdalla Augusto Fried Avenida Paulista Banco Real Baronesa de Arary Boutique Madame Rosita Burle Marx Casa Bento Loeb Casa Loeb Castellabate Club Homs Colégio Pais Leme Colégio São Luís Conjunto Nacional Correa Galvão Dante Alighieri Demétrio Taufik Camasmie Edifício Anchieta Edifício Barão de Itatiaya Edifício do Banco Central Edifício Grande Avenida Edifício Grande Ufficiale Evaristo Comolatti Edifício Safra Eloy Chaves FAACG Família Cardoso de Almeida Família Rocha Azevedo Flora Figueiredo Gymnasio Anglo-Brazileiro Gymnasio Anglo-Latino Herculano de Almeida Prado Corrêa Galvão Homs Horácio Berlinck Cardoso Horácio Sabino Igreja São Luís do Gonzaga IRFM Jardim América Jayme Loureiro João Baptista Scuracchio João Dente Luigi Perroni Malta & Guedes Manifestações MASP Matarazzo Ministro Rocha Azevedo Moyses Miguel Haddad Nagib Salem Palacetecamasmie Palacete Casmamie Parque Mário Covas Paulo Mendes da Rocha Ramos de Azevedo René Thiollier Restaurante America Revolta Paulista Rino Levi Arquitetos Rocha Azevedo Rodolfo Crespi Rua Augusta Santander serieavenidapaulista Sidonio Porto Série Avenida Paulista Taufik Camasmie Trianon Victor Dubugras Villa Fortunata Villa Matarazzo
  • Arquivos

    • julho 2025 (1)
    • janeiro 2025 (1)
    • dezembro 2024 (1)
    • agosto 2024 (1)
    • julho 2024 (1)
    • abril 2024 (1)
    • março 2024 (3)
    • fevereiro 2024 (3)
    • janeiro 2024 (8)
    • dezembro 2023 (1)
    • novembro 2023 (2)
    • outubro 2023 (1)
    • julho 2023 (4)
    • abril 2023 (1)
    • janeiro 2023 (1)
    • setembro 2022 (1)
    • julho 2022 (2)
    • junho 2022 (1)
    • maio 2022 (3)
    • abril 2022 (4)
    • março 2022 (1)
    • fevereiro 2022 (2)
    • janeiro 2022 (2)
    • dezembro 2021 (2)
    • novembro 2021 (1)
    • outubro 2021 (2)
    • setembro 2021 (4)
    • agosto 2021 (2)
    • julho 2021 (2)
    • junho 2021 (1)
    • maio 2021 (3)
    • abril 2021 (3)
    • março 2021 (4)
    • fevereiro 2021 (4)
    • janeiro 2021 (7)
    • dezembro 2020 (2)
    • outubro 2020 (2)
    • setembro 2020 (2)
    • agosto 2020 (1)
    • julho 2020 (3)
    • junho 2020 (1)
    • maio 2020 (1)
    • março 2020 (2)
    • fevereiro 2020 (5)
    • janeiro 2020 (3)
    • dezembro 2019 (1)
    • novembro 2019 (4)
    • outubro 2019 (4)
    • setembro 2019 (5)
    • agosto 2019 (6)
    • julho 2019 (7)
    • junho 2019 (6)
    • maio 2019 (9)
    • abril 2019 (2)
    • março 2019 (4)
  • Follow Série Avenida Paulista on WordPress.com
    • Facebook
    • YouTube
    • Instagram

Crie um site ou blog no WordPress.com

  • Comentário
  • Reblogar
  • Assinar Assinado
    • Série Avenida Paulista
    • Junte-se a 86 outros assinantes
    • Já tem uma conta do WordPress.com? Faça login agora.
    • Série Avenida Paulista
    • Assinar Assinado
    • Registre-se
    • Fazer login
    • Copiar link curto
    • Denunciar este conteúdo
    • Ver post no Leitor
    • Gerenciar assinaturas
    • Esconder esta barra
 

Carregando comentários...
 

  • Privacidade e cookies: Esse site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
    Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte aqui: Política de cookies
  • %d