A residência era localizava na esquina da Avenida Paulista com a Alameda Rio Claro, e recebia o número 77, na numeração antiga da Avenida Paulista. O casarão ficava no centro do terreno, no qual era possível adentrar por dois portões na avenida, como também por dois portões na Rua São Carlos do Pinhal.
Em nossa busca de imagens de casas da Paulista, por meio de uma amiga querida, a Anne de Bonneval, (da casa da família Correa Galvão, que pode ser lida aqui e a segunda parte, aqui) conseguimos contato com o Sr. Luigi Cosenza, neto do Dr. Nicolau de Moraes Barros que, muito gentilmente, nos forneceu algumas imagens de fotografias coloridas da casa, realizadas provavelmente em meados da década de 1960. Agradecemos imensamente ao Luigi que nos possibilitou conhecer a casa.

Depois deste casarão
O proprietário da casa foi Nicolau de Moraes Barros, que nasceu em 18 de agosto de 1876, na cidade de Piracicaba, onde viveu sua infância. De família tradicional, Nicolau era sobrinho de Prudente de Moraes, que foi governador do estado de São Paulo, senador e terceiro presidente do Brasil, tendo sido o primeiro político civil a assumir este cargo por força de eleição direta.


O projeto arquitetônico da casa e a construção foram desenvolvidos em 1911 sob a batuta de Ramos de Azevedo.

Tendo sido qualificada como uma moradia típica de famílias com uma fortuna mediana, baseado no livro “O Palacete paulistano e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira” de Maria Cecília Naclério Homem, a autora afirma que:
Em meio a imensos jardins, possuía dois alpendres, uma sala de visitas, sala de jantar e escritório no andar térreo, onde também se localizavam a cozinha, despensa, áreas de serviço.
O projeto da mansão tinha uma circulação simples e lógica: à esquerda o escritório, à direta a saleta de entrada e à frente a sala de visitas com abertura para a sala de jantar. Aos fundos, a cozinha e separado a área de banho e banheiro.

Ainda o site “A Província” de Piracicaba, publicou o trecho abaixo, de autoria de Beatriz Elias, sobre o palacete da família Moraes Barros.
No piso superior havia três dormitórios: o do casal, o das meninas – que dormiam com uma governanta – e o dos rapazes, e um único banheiro. Os móveis haviam sido importados da Casa Maple, de Londres, das casas Mercier e Jansene, de Paris. As roupas de cama e banho foram adquiridas na Maison Blanc, em Paris.
Podemos ter uma noção ao apreciar a foto abaixo, onde está D. Francisca Nogueira, esposa do proprietário, na sala de entrada da mansão, como móveis e objetos requintados para a época.

Vamos conhecer um pouco da vida do Dr. Nicolau de Moraes Barros!

Irmão do Presidente Prudente de Moraes, o pai de Nicolau, o Sr. Manoel de Moraes Barros, mais conhecido como Moraes Barros (Itu, 1 de maio de 1836 a 20 de dezembro de 1902) foi um advogado, empresário e político brasileiro. Foi senador pelo Estado de São Paulo de 1895 a 1902, além de deputado provincial. Exerceu os cargos de promotor, juiz municipal e delegado de polícia em Piracicaba.

O filho, Nicolau de Moraes Barros graduou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, depois de formado, seguiu para Viena, Berlim e Paris para continuar os estudos e, durante dois anos, se especializou em Ginecologia e Obstetrícia.

De regresso ao Brasil, em 1902, fixou-se na cidade de São Paulo, onde abriu consultório para atendimento de senhoras e exerceu as funções de médico assistente da Maternidade de São Paulo e cirurgião-adjunto da Santa Casa de Misericórdia.
Em 1921, conquistou por concurso a Cátedra de Ginecologia da Faculdade de Medicina de São Paulo (atualmente, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), tendo fundado a Escola Ginecológica Paulista, atividade que exerceu por 23 anos até 1944, quando se aposentou. Montou, juntamente com o dr. Erich Müller Carioba, o primeiro aparelho de radioterapia do país. Lecionou até 1944, seu nome foi honrado como patrono da cadeira número 17 da Academia de Medicina de São Paulo.

É evidente que, com a tradição familiar na área política e governamental, Nicolau teve uma participação ativa no Partido Democrático, tendo inclusive concorrido para vereador de São Paulo nos anos 1930 juntamente com o neto de Prudente de Morais.

Helio Begliomini, em publicação sobre a cadeira número 17 da Academia de Medicina, declarou que Nicolau foi um homem que
Possuiu grande fortuna, pois era oriundo de uma família de banqueiro. Contudo tinha espírito democrático; era encantador no trato de nobres sentimentos; possuía a verdadeira expressão do médico por suas atividades elevadas.
Nicolau casou-se com Francisca Nogueira, conhecida como Francisquinha, e teve quatro filhos: Alice, Luís, Marina e Nicolau Filho. Morava com a família na grande casa da Avenida Paulista, nº 77.


Ainda no site A Província de Piracicaba, a autora descreve:
Oito empregados garantiam o funcionamento da casa: cozinheira e sua auxiliar, jardineiro, motorista, copeiro, arrumadeira e lavadeira, além da governanta. As filhas contavam, ainda, com uma preceptora inglesa que lhes dava aulas de inglês, ensinando-as a costurar e cozinhar. Os adolescentes não frequentavam a sala de visitas, mas almoçavam com os pais. Os passeios mais comuns, durante a semana, aconteciam no vizinho Parque Trianon na Avenida Paulista.

Conseguimos descobrir um documento que traz um aspecto de seu cotidiano, trata-se de um cartão visitas de Nicolau Moraes Barros, com seu endereço na Avenida Paulista, em escreve em seu nome e de Francisquinha, anunciando à um conhecido próximo, o Sr. Adolpho Affonso da Silva Gordo e a esposa Albertina, o nascimento de sua filha Marina, no dia 14 de junho de 1918.

Não conseguimos ter muitas informações sobre a vida em família na casa da Avenida Paulista. Nicolau faleceu no dia 6 de março de 1959 e seus filhos tiveram carreira promissora – Luís tornou-se um empresário do ramo financeiro, além de ter sido Presidente do Banco Sul-Americano, foi também, Diretor Presidente do Banco Itaú e, Nicolau Filho, tornou-se médico como o pai.
Nos arredores da casa, o Dr. Nicolau deu aos filhos terrenos para a construção de 4 novas casas para eles, duas delas com entrada pela São Carlos do Pinhal. Assim, mesmo depois do casamento dos filhos toda a família pode morar nas proximidades.

A casa do Dr. Nicolau foi demolida após o alargamento da Avenida Paulista no início da década de 1970 promovido pelo Prefeito da cidade, Faria Lima, naquele lugar foi levantado o Edifício Eluma. Na foto abaixo, desta época, é possível ver no lado direito, as placas anunciando a construção do prédio e como a avenida já tinha se transformado com seus inúmeros edifícios.

Dr. Nicolau foi homenageado com o nome da rua Professor Nicolau de Morais Barros, uma travessa da Avenida Heitor Penteado e, seu filho, Nicolau Jr. Deu nome a uma praça, a Praça Nicolau de Moraes Barros Filho, que fica no bairro de Santa Cecília.
Mais uma vez, muito obrigada, Luigi!!!
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