Nesta semana a Série Avenida Paulista apresenta propriedades que eram de João Dente, localizadas na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, onde atualmente encontra-se o edifício do Banco do Brasil.

Se você pensa que no início do século passado tínhamos apenas os casarões da elite paulista na Avenida Paulista, engana-se. Em toda a sua extensão havia casas de aluguel, que abrigavam famílias de diversas procedências. Hoje nossa história mostra um conjunto delas, que foram construídas para serem alugadas pela classe ascendente no período.

Essas casas – um conjunto de cinco, projetadas por Victor Dubugras – foram um investimento do advogado, João Gonçalves Dente, que também residia na Paulista (veja a história aqui). Ele era um grande investidor de imóveis em várias regiões da cidade e adquiriu um grande terreno de Horácio Sabino, onde construiu 5 residências para aluguel.
Em 1912, o investidor solicitou a Victor Dubugras, conhecido arquiteto francês, a realização do projeto para três casas na Paulista, que faziam esquina com a Rua Augusta, e mais duas menores na própria Rua Augusta.
Entre 1902 e 1904, Victor Jean Baptiste Dubugras tinha projetado, em estilo art nouveaux, os palacetes de Flávio Uchoa, na Rua Augusta, e de Horácio Sabino, na Avenida Paulista, de quem João Dente comprou o terreno.

Nos estudos sobre Victor Dugubras pode-se conhecer um pouco mais dessas casas que tiveram uma concepção muito diferente das que existiam na avenida naquela época.

As moradias traziam traços mais modernos e mais limpos e, por isso, foram consideradas como exemplares de uma fase de transgressão do trabalho do arquiteto e uma forte tendência ao modernismo, que viria a se tornar estilo arquitetônico muito posteriormente.
O livro Victor Dubugras, percursor da arquitetura moderna na América Latina, escrito por Nestor Goulart Reis Filho, descreve detalhes do projeto dessas casas, mostrando como pode ser considerado uma arquitetura pré-modernista:


Posteriormente João Dente solicitou ao arquiteto mais um projeto de mais 2 casas geminadas, com características semelhantes, que foram construídas na própria Rua Augusta. Nestas, os desenhos eram de linhas mais retas, com eliminação das curvas.


Ainda no livro, o autor descreve que as casas tinham “o corpo saliente lateral sob o beiral. As torres envidraçadas, ao alto, tinham coberturas planas (…)”, como podemos ver nas fotos abaixo e no projeto de Dubugras, onde consta a seguinte descrição: Vilas do Dr. João Dente. Ocupando a quadra entre Avenida Paulista e Alameda Santos, o local das casas foi batizado de Vila, como tantas outras moradias da Avenida.

Muitos dos que moraram nas casas de aluguel de João Dente eram conhecidos ou parentes de outras famílias que também residiam na Avenida Paulista como Alexandre Salem, Fabio da Silva Prado e Fernando de Almeida Nobre. As casas da Rua Augusta foram demolidas na segunda metade do século passado.

Benedito de Toledo Lima, em seu Álbum Iconográfico da Avenida Paulista, comenta sobre as três primeiras casas, demonstrando sua importância: a “central é a mais imaginosa, com seu alpendre coberto por um terraço em forma de lóbulos, sustentado por colunas de ferro (ver a primeira foto). Esse pormenor, se somado ao conjuntos de inovações, a começar pelo livre jogo de volumes e pela concepção estrutural, torna antológicas essas três casas no panorama da arquitetura moderna no Brasil”.
A beleza dessas casas era extraordinária. Para encerrar compartilhamos o depoimento de um dos leitores da Série Avenida Paulista, Aghemio Marc, que contou suas lembranças de uma das casas.
Entre 1962/67 conheci uma dessas casa. Eu vivi na rua Antônio Carlos e ia à escola primária Marcondes Machado, na rua Frei Caneca quase na esquina da Paulista. Tinha um aluno que morava na rua Augusta entre a Paulista e Alameda Santos, a casa dele fazia parte dessas casas, lembro-me dessa casa, pois tinha uma cobertura no terraço era grande e de vez em quando disparávamos rojões de noite. Esse fato me marcou, coisa de moleque.
A casa era linda e em péssimo estado de conservação, também me lembro vagamente de grandes janelas luminosas e um grande jardim arvorado. Lembro também que do salão via-se o imponente conjunto nacional. A casa esperava a agonia da demolição, pois as dos lados já estavam demolidas e com obras de construção ou já feitas.
Quem morava lá era uma família de Iugoslavos barulhentos e apensa falavam português. Sei que a alugavam. O colega de classe se chamava Yanos, ele era orgulhoso e a família também dessa linda casa, e achavam um absurdo demoli-las.

Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!

2 thoughts on “Uma vila pré-modernista na Paulista com a Augusta”
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LLídia Mafra de eÁvila
Ainda adolescente, li uma biografia de Helena Souza Campos de Azevedo, intitulada, “Uma vida como Outras”.Eu morava em MG, bem interior e ficava imaginando o casarão que ela descrevia que morava, nos idos 1920, creio eu, rua Augusta ou Angélica.Há poucos anos, reencontrei esse livro e ainda não o reli, mas ela era de uma família tradicional, fazendeiros de café, da época.
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