A Série Avenida Paulista traz a história do Colégio Pais Leme, que ficava localizado em uma das esquinas mais importantes da avenida, a esquina com a Rua Augusta. Anteriormente, lá havia sido o Colégio-Anglo Latino, o mesmo que deu origem ao cursinho, que já contamos a história e, atualmente, é o Edifício Safra, que será tema da nossa próxima publicação.

No mesmo terreno do Colégio Anglo Latino, nas décadas de 1950/ 1960 funcionou uma outra escola chamada Colégio Pais Leme. Com projeto arquitetônico de Vicente P. C. Collet e Silva e, como engenheiro civil, Oswaldo Fernandes, a escola foi levantada pela Marmo e Fernandes. Na foto acima, veja o quebra-sol vertical de concreto armado de 9,40 de altura. As colunas superiores marcam onde era o refeitório e a cozinha.
O colégio foi sucesso da época! Dirigido pelos irmãos Rossi, Osvaldo e João, entre os anos 1948 a 1951 chamava-se Ginásio Pais Leme, chegou neste período até oferecer o sistema de internato. A partir de 1952, mudou para Colégio Pais Leme. Nos anos 1960, o curso científico foi dirigido por Nicolau Marmo (seria ele da família da construtura do edifício?).
Foi um colégio renomado onde estudaram várias pessoas conhecidas, como o arquiteto Paulo Mendes da Rocha e Eduardo Suplicy.

Na antiga revista de arquitetura Acrópole, número 263, publicada em 1960, foi divulgada uma matéria sobre o prédio e algumas fotografias da fachada do Colégio Pais Lene. Nas fotos, podemos ver um projeto arquitetônico com linhas retas, simétricas e sequenciais, com estilo moderno e típico da época. Um belo projeto arquitetônico.
Segundo a Revista Acrópole, “o objetivo do Colégio Pais Leme (…) foi obter, numa área de 2.000 m², as melhores condições de aproveitamento para a instalação de um semi-internato masculino. Utilizando uma área já existente no fundo do lote, o prédio foi projetado em forma de U, com circulação externa. Este tipo de circulação, além de proporcionar ótimas condições de insolação e iluminação, permite escoamento rápido dos alunos após as aulas (…).”

A revista segue a descrição do empreendimento, afirmando que:
“(…) o acesso do colégio é feito por 4 entradas: uma principal para professores e o público; outra, secundária, para os alunos; uma terceira, para serviços e a última veículos.
Há seis pavimentos, com o subsolo; neste está situada a piscina de água quente, com piso de ar aquecidos. No térreo, situam-se os gabinetes médico, dentário e de educação física. A administração situa-se no 1º pavimento (…). Destaca-se neste andar, um grande painel do pintor patrício Clóvis Graciano, alusivo a Bandeira Fernão Dias.
As salas de aula distribuem-se pelos 1º e 2º pavimentos. havendo um anfiteatro para cada laboratório. (..)”

Acima, a entrada principal, localizada na Avenida Paulista, a rampa de acesso aos professores e à recepção do público, e as janelas que aparecem em todo o bloco, que eram das salas da administração do colégio.

Um ex-aluno da escola, Miguel Antonio Della Rosa, escreveu em um site algumas de suas lembranças da época. Transcrevemos aqui, as memórias afetivas e alegres, que mostram um pouco da alma da escola. Miguel escreveu:
Lembro-me do Colégio Pais Leme dirigido pela família Rossi: Sr. João, Antonio Oswaldo, Sr. Gonçalves, Sr. Humberto que cuidava dos alunos semi-internos com um rigor digno de um quartel.
O nosso grêmio chamava-se Grêmio Euclides da Cunha que patrocinava anualmente a eleição para a aluna mais bonita, o professor mais simpático, etc. Eram vendidos os votos ao Grêmio para financiar bailinhos e outras atividades pertinentes. Era uma época divertida, o Colégio ficava muito agitado com a campanha política interna para eleger os candidatos.
Existia uma grande rivalidade entre os alunos do Dante Alighieri e os do Pais Leme; os meninos que queriam namorar com meninas do Dante e vice-versa causavam várias brigas que se situavam no Parque Trianon, local agradável na época onde se passeava e namorava. As brigas eram constantes.
Outra rivalidade era a Esportiva com o Colégio São Luiz: havia brigas que até os padres do São Luiz se envolviam, mas eram brigas só de socos e pontapés. A TV Record patrocinava na época o campeonato de futebol entre Colégios e os maiores competidores, salvo lapso meu, eram São Luiz, Pais Leme, Rio Branco, Mackenzie etc. Alguns desfiles em feriados pátrios eram na Avenida Paulista, desfile de fanfarras dos colégios e concursos de melhores fanfarras também patrocinadas pela TV Record na época.
Os bondes que percorriam a Avenida Paulista desciam a Rua Pamplona tendo o seu ponto final à Rua Veneza. O romantismo da frequência dos alunos do Paes Leme, Liceu Eduardo Prado, mesclado com as alunas de uma escola de Freiras na Rua Pamplona com uniforme de saias xadrezas, a amizade com os motorneiros (que eram os que dirigiam os bondes), as visitas ao restaurante Camelo, que na época vendia esfihas e kibes,, caminhadas até o lago do Ibirapuera, inaugurado em 1954 onde alugam pequenas lanchas para navegar, onde no centro do lago havia um restaurante. Saudades, saudades, saudades.”
Adoráveis memórias, não é mesmo? Nas imagens abaixo, recolhidas em um grupo do Facebook e publicadas pela Sra. Maria Do Carmo, estão registros oficiais do Colégio, nas quais também podemos apreender um pouco de como era a dinâmica escolar.
Na primeira imagem à esquerda, na foto “fachada”, um ótimo ângulo da esquina da Paulista com a Augusta e, abaixo a visão lateral da Rua Augusta. À direita, um belo hall de entrada como móveis de design da época, com o grande painel de Clóvis Graciano, uma grande perda que foi demolida com o prédio. Abaixo, o laboratório de física povoado de alunos.

Você não conhece Clóvis Graciano? Ele foi um pintor, cenógrafo, ilustrador e um dos principais muralistas brasileiros. Com certeza você já viu obras dele na cidade, como esta da imagem abaixo, que fica na fachada do Edifício Nações Unidas na Avenida Paulista com Avenida Brigadeiro Luis Antonio. Se não lembra, repare a próxima vez que passar por lá…

Voltando ao Colégio Pais Leme! Abaixo, à esquerda, vemos nas fotos, grupos de professores do período da manhã e do primário (Naquela época os professores ainda eram valorizados!!). À direita, alunos na piscina aquecida e o recreio das “moças”. Lindas imagens de época, não é mesmo?

Mais uma imagem com situações típicas da escola: professoras, playground, diretores e uma vista lateral.

Segundo relatos, os alunos adoravam ir, ao lado, no Simbad Lanches e, na Rua Augusta, no famoso Frevinho e no Pão Pullman.
Um ex-aluno, chamado Aloisio, comentou que era ótimo: namorar as meninas do Dante nos jardins do Trianon, colocar óleo queimado no trilho do bonde e ver o chifrudo (ônibus elétrico) derrapar e atravessar a Augusta, na altura da Alameda Santos interrompendo o trânsito por horas, e ir tomar milk shake no frevinho, ouvindo o Juca Chaves tocar modinhas, subindo a rua com seu violão…. Outros tempos…

Quem imagina esses garotos aprontando quando se vê essa foto de uma turma de 1961?

Pela informação obtida por meio de um leitor, o Sr. João Alcantara, ficamos sabendo que o Colégio Pais Leme foi incorporado pelo Colégio Oswaldo Cruz, mas não não conseguimos detalhes do que aconteceu.
Só sabemos que depois da demolição, o Safra iniciou a construção de seu prédio imponente. As primeiras atividades da obra e a placa informando que seria a futura instalação do Banco Safra

Você pode ajudar com mais informações sobre o Colégio Pais Leme? Vamos adorar enriquecer esta história. Entre em contato com a Série Avenida Paulista.
Quem quiser saber mais sobre esta esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta leia os posts do Gymnasio Anglo-Latino, já publicado, e o do Edifício Safra que virá em seguida.
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
19 thoughts on “Colégio Pais Leme, uma escola de ilustres”
Pingback: Na esquina com a Augusta, o Gymnasio Anglo-Latino | Série Avenida Paulista
Maria Amália Guida
Amei essa página, a qual eu não conhecia. Descobri por intermédio de uma colega do Colégio Pais Leme. Vi quase todas as reportagens que me trouxeram tantas lembranças e foi uma verdadeira viagem ao passado já que nasci na Bela Cintra quase esquina com a Paulista, estudei no País Leme, frequentava missas no Colégio São Luiz e andava de bicicleta pela Paulista e Parque Trianon. O que senti falta foi da Mansão dos MATARAZZO, pois meu avô foi alfaiate deles é me descrevia cada detalhe. Meu avô nasceu na Itália e foi alfaiate de alguns milionários italianos como também o Conde Crespi.
Parabéns pelas matérias que chegam a arrancar lágrimas dos olhos.
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Pingback: O sofisticado e luxuoso Edifício Safra | Série Avenida Paulista
ROBERTO PINTO PEREIRA
Muito Legal esse artigo. Estudei no Pais Leme de 1961 na Paulista até !971, já no prédio da Av. Angélica com o nome de “Colégios Integrados Oswaldo Cruz Pais Leme”.
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Luciana Cotrim
Muito obrigada. Realmente o Pais Leme na Paulista era um colégio diferenciado.
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LUIZ EDUARDO
Prezada Sra
Luciana Cotrim
Reitero minhas saudações a senhora com grande apreço e pela saudosa história sobre o meu querido PAIS LEME, conforme lhe relatei no e-mail anterior.
Hoje aniversário dos meus 74 anos e a senhora me deu um presente eterno !
MUITO OBRIGADO.
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Nelson Rubens Malgarini
Que alegria rever o Colégio onde fiz o ginásio e 1 ano de científico.
Ao rever as fotos do prédio que vi construir, etapa por etapa, pois
entrei neste Colégio na transição do prédio antigo para o novo.
Eu era semi-interno; na parte da manhã era o estudo, um galpão de
madeira e telhado de brasilite: o estudo do Paulinho, rigoroso,
não deixava passar nada.
Meu período foi de 1958 a 1962. Após, entrei no Liceu Eduardo Prado
para fazer o curso técnico de Eletrônica.
Após me formar, especializei em Transmissão profissional de TV e FM.
Me cativou muito rever a escola querida onde passei bons anos.
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Luciana Cotrim
Que bom que o texto e as imagens trouxe alegrias e boas lembranças para o Sr.
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Nelson Rubens Malgarini
Luciana Cotrim, obrigado por responder ao meu comentário. Sim, na atual situação em que se encontra nosso planeta, é bom rever os tempos em que havia respeito.
Um abraço.
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Adriano Ermete Ferro
Nelson Rubens Malgarini, colega de banco no Pais Leme, filho do campeão Adriano Delaunay, cujo Instituto de Cultura Fisica na Barao de Capanema eu frequentei, o que me dava dispensa das aulas de Educação Fisica do saudoso professor Kato no Pais Leme.
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Nelson Rubens Malgarini
Adriano Ermete Ferro, que grande alegria em ver sua resposta ao meu comentário. Meu grande companheiro e amigão. Deixo meu e-mail abaixo para entrar em cotato.
ABRAÇÃO!!!!
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Antonio Carlos novelli
Eu estudei no País Leme, lembr1me do filho do Sr. Rossi, o Wagner Rossi, que brincava nas dependências do Colégio. Depois de muitos anos, tornou-se deputado federal, ele é pai do então Baleia Rossi, postulante a presidência da Câmara dos deputados! rsrs
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Léo Sebastião David
Estudei no Ginásio Paes Leme desde o ano de 1946. Lembro-me do professor Rossi, orientando os alunos antes do inicio das aulas, ficarmos perfilados, para o hasteamento da Bandeira Brasileira sob o canto do Hino Nacional. Conheci o deputado filho do Professor Rossi desde o seu nascimento. Lembro ainda
dos Professores e Professoras Cotinha, Lobo, Maestro Camilo Berti, Antônio, do de Francês. Espanhol, Inglês. educação Física . Mantenho até hoje o ensinamento e culto aos hinos Nacionais a nossa Bandeira, e os princípios morais e cívicos. Os professores do Ginásio Paes Leme ensinavam além do Curriculum Escolar a postura moral, intelectual, respeito as éticas, a palavra. Hoje nos meus 91 anos de idade , sigo rigorosamente as regras de um bom cidadão. Sou Professor, Administrador de Empresas e Advogado que até hoje exerço.
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Luciana Cotrim
Sr Leo, muito obrigada por seu depoimento, que enriquece o texto e a história do Colégio Pais Leme. Parabéns pelos seus 91 anos de sabedoria, inteligência e lucidez.
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Antonio F. Terra
Era conhecido como um colégio um tanto fraco, porém, aprendi a conjugar verbos, e vejo que a maioria das pessoas hoje falam como se fosse em inglês. ex. vai fazer ao invés de farão.
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Paulo Roberto Alves
vim pesquisar sobre este colégio pois comprei no parana uma medalha de bronze de futebol com trave e o símbolo de São Paulo e escrito colégio paes leme…achei muito legal esta história que li acima sobre este colégio.
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Luciana Cotrim
Muito obrigada, feliz que foi útil para você!
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Francisco Eduardo Britto
Nada sabia desse colégio! Sou já do tempo do Center 3 e do Banco Safra, e da unidade do grupo Sérgio ao lado rsrs. Fiquei sabendo pelo facebook e vim pesquisar nesse adorável site! Coloquei o link dessa matéria lá, espero que tenha muitas visita, porque o serieavenidapaulista merece, está na minha barra de favoritos!
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Luciana Cotrim
Francisco, muitíssimo obrigada pela leitura e comentário. Agradeço imensamente a divulgação. Temos também a págin a do facebook que você pode seguir e curtir. Segue link: https://www.facebook.com/serieavenidapaulista
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