A Série Avenida Paulista apresenta a mansão de um dos mais importantes empresários do início do século passado: Rodolpho Enrico Crespi, que então residia no antigo número 47 da avenida, esquina da Rua Ministro Rocha Azevedo, onde hoje está localizado o Condomínio Cetenco Plaza Torre Norte, no número 1.842.
Depois deste edifício
Condomínio Cetenco Plaza Torre Norte
Rodolfo Henrique Crespi, nome abrasileirado como ficou conhecido, nasceu em 1874, em Busto Arsizio, na Itália. Era filho de Pia Travelli e Cristoforo Benigno Crespi, um industrial da área têxtil, que descendia de uma tradicional família italiana, remanescente do Império Romano.
Incentivado por Enrico Dell’Acqua, proprietário da empresa em que trabalhava, emigrou em 1893 para o Brasil. Logo que chegou, instalou uma pequena tecelagem no bairro da Mooca.
Cresceu rapidamente e, em 1898, inaugurou o Cotonifício Rodolfo Crespi, em um enorme prédio de três andares, localizado na esquina da Rua dos Trilhos com a Rua Taquari, com fundos para a Rua Visconde de Laguna.
A empresa foi o primeiro estabelecimento brasileiro de fiação industrial de algodão em grande escala. A fábrica, que ocupava uma área de 24.000 metros quadrados, dividia-se em duas partes: a fiação de algodão, com 14.000 fusos e a fiação de desperdícios, com 3.000 fusos, 500 teares e 300 teares dobrados.
Os principais produtos fabricados eram, evidentemente, trançados de algodão, xales e coberturas, colchas, fazendas, artigos de algodão para mercearias, etc. Na fábrica trabalham diariamente cerca de 1.500 pessoas, entre homens, mulheres e crianças (inclusive!).
Em 1902, o Sr. Giuseppe Crespi, irmão de Rodolfo, veio para São Paulo para ajudar na gerência da companhia. Foi nomeado secretário da empresa. Em seu auge, o Cotonifício Crespi tinha, além a fiação e tecelagem, uma tinturaria e malharia e chegou a consumir 3 mil cavalos em energia elétrica e duzentas toneladas mensais de óleo em suas caldeiras, funcionando 24 horas por dia. Foi uma das primeiras indústrias paulistas a receber energia elétrica em 1914.
Em 22 de julho de 1924, durante a revolução, conhecida como Revolta Paulista, que pretendia destituir o Presidente Artur Bernardes, o prédio do cotonifício foi atingido por um violento bombardeio aéreo das forças legalistas federais, sendo praticamente destruído. Foi algo que marcou a cidade na época, pois este foi o maior conflito bélico já ocorrido no município de São Paulo.
Reconstruída, a empresa seguiu em frente até meados de 1950. Devido a seus equipamentos terem ficado obsoletos, encerrou suas atividades em 1963.
Durante todos esses anos, Rodolfo Crespi atuou em diversas áreas sociais e empresariais. Como empresário, fundou a Banca Italiana di San Paolo, que se tornaria a Banca Francese e Italiana per l’America del Sud, predecessora do Banco Sudameris.
Lançou o jornal Il Piccolo, em língua italiana, que mantinha uma linha editorial favorável ao regime fascista de Benito Mussolini e era lido por milhares de imigrantes. Foi também Presidente do Circolo Italiano.
Na área social foi responsável pela criação do Colégio Dante Alighieri, que levantou com recursos próprios e doações do governo italiano.
Junto com os operários do Cotonifício, fundou o Clube Atlético Juventus, tendo batizado com seu nome o estádio de futebol.
O Estadão publicou que:
O Estádio Conde Rodolfo Crespi, ou como é conhecido de maneira popular, apenas como Rua Javari (em referência ao seu endereço), pertence ao Clube Atlético Juventus, um dos mais tradicionais times do futebol paulista. Mas nem sempre foi assim.
No começo do século XX, o local servia como cocheira de cavalos para o Cavalheiro Rodolfo Crespi, dono de uma fábrica de tecidos na região da Mooca. Posteriormente o imóvel foi doado por seu dono para o time de futebol de operários de sua fábrica que levava o seu nome, o Cotonifício Rodolfo Crespi F.C (fusão do Extra São Paulo F.C. e do Cavalheiro Crespi F.C, clubes de várzea da Mooca, na zona leste de São Paulo), e que posteriormente se transformaria no Juventus.
Durante sua trajetória, Rodolfo Crespi recebeu duas honrarias do governo italiano. Em 1907, o título de Cavaliere del Lavoro (Cavalheiro do Trabalho) e o título de Conde, dado em 1928, pelo Rei Vítor Emanuel III da Itália.
Casou-se com Marina Regoli Crespi com quem teve quatro filhos: Renata, Adriano, Dino e Raul, todos condes e condessa. Na foto abaixo, D. Marina, Raul, Renata, Dino e Rodolfo Crespi.
Sua filha Renata casou-com o empresário Fabio Prado, que foi prefeito de São Paulo. A celebração aconteceu na casa da Avenida Paulista.
O jovem casal foi morar em uma mansão no longínquo – para a época – Jardim Paulistano.
Depois da morte do marido, Renata doou a casa à Fundação Padre Anchieta que, por sua vez, cedeu o prédio em comodato à Secretaria da Cultura e nela foi erguido o Museu da Casa Brasileira, que fica na Avenida Faria Lima, 2705.
Há o histórico de um acontecimento relativo a um grande abalo familiar: a morte do filho Dino, que foi assassinado dentro de sua casa, um palacete localizado na Rua Pamplona. Muito comentado na época, segundo consta, o assassino foi um ex-motorista da família que tinha sido demitido por roubo.
Sobre o casarão da Avenida Paulista temos apenas uma informação: uma reclamação que teria sido feita pelo Sr. Manuel Caetano Garcia, em 1930, questionando que os palacetes de Crespi e Matarazzo não respeitam a lei que dizia que nenhuma edificação poderia ser feita sem que houvesse uma distância mínima de 10 metros entre o alinhamento do edifício e o das vias. A reclamação foi catalogada com a foto do início deste texto.
Mais uma vez a colecionadora de fotos antigas, Maria Lourdes Pereira, gentilmente compartilhou conosco uma imagem de 1929, provavelmente de uma revista de época, que mostra a grandiosidade do jardim da casa de Rodolfo Crespi. Vemos também uma parte lateral da casa, com arcos, que pode ter sido uma varanda. Os arcos e colunas parecem ser uma característica de toda a casa, como também vemos na foto acima.
Muito obrigada, Maria Lourdes Pereira!
Para encerrar, abaixo uma foto histórica da família no Cotonifício Crespi. Da esquerda para a direita, Adriano Crespi e sua esposa Titina (Maria Immacolata Rondino, Condessa Marina Crespi, Conde Rodolfo Crespi, Renata Crespi, Dino Crespi e Raul Crespi. Acervo: Museu da Casa Brasileira
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
8 thoughts on “O ilustre morador da Paulista que fundou o Juventus”
sumidão
bela matéria!
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Luciana Cotrim
Muito obrigada!!
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JOSE MORAES
Sra Luciana boa tarde,parabéns pela iniciativa,Av.Paulista é belíssima, estas histórias “verdadeiras ” nos faz sonhar com aqueles tempos..tamo juntos…kkkk
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Luciana Cotrim
Muito obrigada. Agradeço a leitura e o comentário peço desculpas na demora em responder!
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Antonio Calabrez
Caramba!!! Que coisa ! Eu nasci na Mooca, morei na Rua João Antonio de Oliveira esquina com a Rua Javari. Fui criado desde os 3 anos na creche Marina Crespi, onde as funcionárias da fábrica deixavam seus filhos. Joguei no Juvenil do Juventus, nos anos de 1955. Conheci diversos jogadores, como Júlio Botelho, o Julhinho, que foi pra Itália e jogou na Portuguesa , Edélcio, Castro, Carbone, Pascal, Osvaldinho, Og Moreira e um montão, todos da época dos anos 1950. Trabalhei em uma farmácia na Rua Visconde da Laguna que era de propriedade do Sr. Vinicius, que posteriormente passou a ser do José Ferreira Pinto, o maior presidente do Juventus, que tornou esse club um dos maiores do Brasil e que foi meu amigo pessoal por muitos anos. Mas a história e da vida, do fundador eu desconhecia…Fiquei maravilhado com essa história. Muito obrigado.
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Luciana Cotrim
Eu que agradeço seu testemunho e os comentários. Desculpe por demorar em responder!!! Muito, muito obrigada!
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Maria Augusta de Faria Assis Amaral de Almeida
Gostei de poder relembrar mais uma colega do colegio des oiseaux que se chamava Adriana Crespi que eu me lembro que o onibus do colegio indo busca~la na casa da avoh na Av Paulista que ela levava mais tempo para chegar ateh
o onibus do colegio por causa do tamanho do jardim mas isso acontecia tb com outras duas meninas,que moravam tb nesta mesma avenida era Beatris Helena e Rosa Marta Pompeo,
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Eraldo
Bom dia Maria Augusta, aqui é o Eraldo venho tentando lhe encontrá-la a anos, sou amigo do Sr. Waldemar Amaral que veio a falecer, caso a Sra veja essa mensagem me responda, por favor, fico no aguardo, obrigado.
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