Série Avenida Paulista
  • Home
  • A Série Avenida Paulista
  • Casarões
  • Edifícios
  • Espaços públicos
  • Contato
  • O ilustre morador da Paulista que fundou o Juventus

    Posted at 18:30 by Luciana Cotrim, on fevereiro 29, 2020

    A Série Avenida Paulista apresenta a mansão de um dos mais importantes empresários do início do século passado: Rodolpho Enrico Crespi, que então residia no antigo número 47 da avenida, esquina da Rua Ministro Rocha Azevedo, onde hoje está localizado o Condomínio Cetenco Plaza Torre Norte, no número 1.842.

    Depois deste edifício

    Condomínio Cetenco Plaza Torre Norte

    Rodolfo Henrique Crespi, nome abrasileirado como ficou conhecido, nasceu em 1874, em Busto Arsizio, na Itália. Era filho de Pia Travelli e Cristoforo Benigno Crespi, um industrial da área têxtil, que descendia de uma tradicional família italiana, remanescente do Império Romano.

    Incentivado por Enrico Dell’Acqua, proprietário da empresa em que trabalhava, emigrou em 1893 para o Brasil. Logo que chegou, instalou uma pequena tecelagem no bairro da Mooca.

    Cresceu rapidamente e, em 1898, inaugurou o Cotonifício Rodolfo Crespi, em um enorme prédio de três andares, localizado na esquina da Rua dos Trilhos com a Rua Taquari, com fundos para a Rua Visconde de Laguna.

    Primeira fábrica inaugurada em 1897 com o nome Malharia Regoli, Crespi S.A

    A empresa foi o primeiro estabelecimento brasileiro de fiação industrial de algodão em grande escala. A fábrica, que ocupava uma área de 24.000 metros quadrados, dividia-se em duas partes: a fiação de algodão, com 14.000 fusos e a fiação de desperdícios, com 3.000 fusos, 500 teares e 300 teares dobrados.

    Antiga fábrica Cotonifício Crespi

    Os principais produtos fabricados eram, evidentemente, trançados de algodão, xales e coberturas, colchas, fazendas, artigos de algodão para mercearias, etc. Na fábrica trabalham diariamente cerca de 1.500 pessoas, entre homens, mulheres e crianças (inclusive!).

    Aspectos da fábrica de Rodolfo Crespi em meados dos anos 1920

    Em 1902, o Sr. Giuseppe Crespi, irmão de Rodolfo, veio para São Paulo para ajudar na gerência da companhia. Foi nomeado secretário da empresa. Em seu auge, o Cotonifício Crespi tinha, além a fiação e tecelagem, uma tinturaria e malharia e chegou a consumir 3 mil cavalos em energia elétrica e duzentas toneladas mensais de óleo em suas caldeiras, funcionando 24 horas por dia. Foi uma das primeiras indústrias paulistas a receber energia elétrica em 1914.

    Em 22 de julho de 1924, durante a revolução, conhecida como Revolta Paulista, que pretendia destituir o Presidente Artur Bernardes, o prédio do cotonifício foi atingido por um violento bombardeio aéreo das forças legalistas federais, sendo praticamente destruído. Foi algo que marcou a cidade na época, pois este foi o maior conflito bélico já ocorrido no município de São Paulo.

    Prédio do cotonifício bombardeado pelas forças legalistas federais

    Reconstruída, a empresa seguiu em frente até meados de 1950. Devido a seus equipamentos terem ficado obsoletos, encerrou suas atividades em 1963.

    Em 2003, lamentavelmente, a fábrica sofreu mudanças para receber uma unidade do Supermercado Extra.

    Durante todos esses anos, Rodolfo Crespi atuou em diversas áreas sociais e empresariais.  Como empresário, fundou a Banca Italiana di San Paolo, que se tornaria a Banca Francese e Italiana per l’America del Sud, predecessora do Banco Sudameris.

    Lançou o jornal Il Piccolo, em língua italiana, que mantinha uma linha editorial favorável ao regime fascista de Benito Mussolini e era lido por milhares de imigrantes. Foi também Presidente do Circolo Italiano.

    Na área social foi responsável pela criação do Colégio Dante Alighieri, que levantou com recursos próprios e doações do governo italiano.

    Junto com os operários do Cotonifício, fundou o Clube Atlético Juventus, tendo batizado com seu nome o estádio de futebol.

    Estádio Conde Rodolfo Crespi. Foto: Acervo Estadão

    O Estadão publicou que:

    O Estádio Conde Rodolfo Crespi, ou como é conhecido de maneira popular, apenas como Rua Javari (em referência ao seu endereço), pertence ao Clube Atlético Juventus, um dos mais tradicionais times do futebol paulista. Mas nem sempre foi assim.

    No começo do século XX, o local servia como cocheira de cavalos para o Cavalheiro Rodolfo Crespi, dono de uma fábrica de tecidos na região da Mooca. Posteriormente o imóvel foi doado por seu dono para o time de futebol de operários de sua fábrica que levava o seu nome, o Cotonifício Rodolfo Crespi F.C (fusão do Extra São Paulo F.C. e do Cavalheiro Crespi F.C, clubes de várzea da Mooca, na zona leste de São Paulo), e que posteriormente se transformaria no Juventus.

    Durante sua trajetória, Rodolfo Crespi recebeu duas honrarias do governo italiano. Em 1907, o título de Cavaliere del Lavoro (Cavalheiro do Trabalho) e o título de Conde, dado em 1928, pelo Rei Vítor Emanuel III da Itália.

    O casal Marina Regoli Crespi e Rodolfo Crespi. Acervo: Museu da Casa Brasileira

    Casou-se com Marina Regoli Crespi com quem teve quatro filhos: Renata, Adriano, Dino e Raul, todos condes e condessa. Na foto abaixo, D. Marina, Raul, Renata, Dino e Rodolfo Crespi.

    Sua filha Renata casou-com o empresário Fabio Prado, que foi prefeito de São Paulo. A celebração aconteceu na casa da Avenida Paulista.

    A esquerda, o casal Renata e Fabio Prado, ela com 18 anos e ele com 27 anos, fotografam com os convidados. O casamento ocorreu em 29 de julho de 1914.

    O jovem casal foi morar em uma mansão no longínquo – para a época – Jardim Paulistano.

    Depois da morte do marido, Renata doou a casa à Fundação Padre Anchieta que, por sua vez, cedeu o prédio em comodato à Secretaria da Cultura e nela foi erguido o Museu da Casa Brasileira, que fica na Avenida Faria Lima, 2705.

    Há o histórico de um acontecimento relativo a um grande abalo familiar: a morte do filho Dino, que foi assassinado dentro de sua casa, um palacete localizado na Rua Pamplona. Muito comentado na época, segundo consta, o assassino foi um ex-motorista da família que tinha sido demitido por roubo.

    Sobre o casarão da Avenida Paulista temos apenas uma informação: uma reclamação que teria sido feita pelo Sr. Manuel Caetano Garcia, em 1930, questionando que os palacetes de Crespi e Matarazzo não respeitam a lei que dizia que nenhuma edificação poderia ser feita sem que houvesse uma distância mínima de 10 metros entre o alinhamento do edifício e o das vias. A reclamação foi catalogada com a foto do início deste texto.

    Mais uma vez a colecionadora de fotos antigas, Maria Lourdes Pereira, gentilmente compartilhou conosco uma imagem de 1929, provavelmente de uma revista de época, que mostra a grandiosidade do jardim da casa de Rodolfo Crespi. Vemos também uma parte lateral da casa, com arcos, que pode ter sido uma varanda. Os arcos e colunas parecem ser uma característica de toda a casa, como também vemos na foto acima.

    Muito obrigada, Maria Lourdes Pereira!

    Para encerrar, abaixo uma foto histórica da família no Cotonifício Crespi. Da esquerda para a direita, Adriano Crespi e sua esposa Titina (Maria Immacolata Rondino, Condessa Marina Crespi, Conde Rodolfo Crespi, Renata Crespi, Dino Crespi e Raul Crespi. Acervo: Museu da Casa Brasileira


    Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!

    Compartilhe isso:

    • Clique para compartilhar no X(abre em nova janela) 18+
    • Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Facebook
    Curtir Carregando...

    Relacionado

    • ← Edifício Luiz Trevisioli: quer morar na Avenida Paulista?
    • Edifício Cetenco Plaza Torre Norte era a maior área livre da Paulista →
    Avatar de Desconhecido

    Autor: Luciana Cotrim

    Instagram: @serieavenidapaulista Facebook: facebook.com/serieavenidapaulista Use: #serieavenidapaulista
    Postado em Casarões | 8 Comentários | Marcado Cetenco Plaza, Circolo Italiano, Clube Atlético Juventus, Condomínio Cetenco Plaza Torre Norte, Cotonifício Rodolfo Crespi, Dante Alighieri, Il Piccolo, Museu da Casa Brasileira, Revolta Paulista, Rodolfo Crespi |

    8 thoughts on “O ilustre morador da Paulista que fundou o Juventus”

    • Avatar de sumidao

      sumidão

      1 01America/Sao_Paulo março 01America/Sao_Paulo 2020 às 00:05

      bela matéria!

      CurtirCurtir

      Responder
      • Luciana Cotrim

        1 01America/Sao_Paulo março 01America/Sao_Paulo 2020 às 01:49

        Muito obrigada!!

        CurtirCurtir

        Responder
    • Avatar de JOSE MORAES

      JOSE MORAES

      27 27America/Sao_Paulo março 27America/Sao_Paulo 2020 às 15:55

      Sra Luciana boa tarde,parabéns pela iniciativa,Av.Paulista é belíssima, estas histórias “verdadeiras ” nos faz sonhar com aqueles tempos..tamo juntos…kkkk

      CurtirCurtir

      Responder
      • Luciana Cotrim

        24 24America/Sao_Paulo julho 24America/Sao_Paulo 2020 às 16:17

        Muito obrigada. Agradeço a leitura e o comentário peço desculpas na demora em responder!

        CurtirCurtir

        Responder
    • Avatar de Antonio Calabrez

      Antonio Calabrez

      3 03America/Sao_Paulo maio 03America/Sao_Paulo 2020 às 18:03

      Caramba!!! Que coisa ! Eu nasci na Mooca, morei na Rua João Antonio de Oliveira esquina com a Rua Javari. Fui criado desde os 3 anos na creche Marina Crespi, onde as funcionárias da fábrica deixavam seus filhos. Joguei no Juvenil do Juventus, nos anos de 1955. Conheci diversos jogadores, como Júlio Botelho, o Julhinho, que foi pra Itália e jogou na Portuguesa , Edélcio, Castro, Carbone, Pascal, Osvaldinho, Og Moreira e um montão, todos da época dos anos 1950. Trabalhei em uma farmácia na Rua Visconde da Laguna que era de propriedade do Sr. Vinicius, que posteriormente passou a ser do José Ferreira Pinto, o maior presidente do Juventus, que tornou esse club um dos maiores do Brasil e que foi meu amigo pessoal por muitos anos. Mas a história e da vida, do fundador eu desconhecia…Fiquei maravilhado com essa história. Muito obrigado.

      CurtirCurtir

      Responder
      • Luciana Cotrim

        24 24America/Sao_Paulo julho 24America/Sao_Paulo 2020 às 16:16

        Eu que agradeço seu testemunho e os comentários. Desculpe por demorar em responder!!! Muito, muito obrigada!

        CurtirCurtir

        Responder
    • Avatar de Maria Augusta de Faria Assis Amaral de Almeida

      Maria Augusta de Faria Assis Amaral de Almeida

      13 13America/Sao_Paulo fevereiro 13America/Sao_Paulo 2023 às 18:52

      Gostei de poder relembrar mais uma colega do colegio des oiseaux que se chamava Adriana Crespi que eu me lembro que o onibus do colegio indo busca~la na casa da avoh na Av Paulista que ela levava mais tempo para chegar ateh
      o onibus do colegio por causa do tamanho do jardim mas isso acontecia tb com outras duas meninas,que moravam tb nesta mesma avenida era Beatris Helena e Rosa Marta Pompeo,

      CurtirCurtir

      Responder
      • Eraldo

        26 26America/Sao_Paulo julho 26America/Sao_Paulo 2023 às 15:40

        Bom dia Maria Augusta, aqui é o Eraldo venho tentando lhe encontrá-la a anos, sou amigo do Sr. Waldemar Amaral que veio a falecer, caso a Sra veja essa mensagem me responda, por favor, fico no aguardo, obrigado.

        CurtirCurtido por 1 pessoa

        Responder

    Deixar mensagem para sumidão Cancelar resposta

    • Sobre

      A Série Avenida Paulista conta as histórias dos casarões e das famílias que moravam na avenida e, também, dos edifícios que foram  construídos em seus lugares.

      Escrita por Luciana Cotrim, a série conta a história de mais de 80 casarões do século XX e dos edifícios atuais.

    • Redes Sociais

      • Facebook
      • YouTube
      • Instagram
    • Categorias

      • Casarões (83)
      • Edifícios (59)
      • Locais públicos (12)
      • Sem categoria (51)
    • Pesquisar no site

    • Posts recentes

      • Azem Azem na Avenida Paulista
      • O clássico Edifício Savoy na Paulista
      • Anos de Natal na Paulista
      • O atelier de Dener na Avenida Paulista
      • O edifício Louis Pasteur na Avenida Paulista
    • Tags

      Abelardo Riedy de Souza Alameda Ministro Rocha Azevedo Antonieta Chaves Cintra Gordinho Antonio Pereira Ignácio Arquitetura Modernista Assad Abdalla Augusto Fried Avenida Paulista Banco Real Baronesa de Arary Boutique Madame Rosita Burle Marx Casa Bento Loeb Casa Loeb Castellabate Club Homs Colégio Pais Leme Colégio São Luís Conjunto Nacional Correa Galvão Dante Alighieri Demétrio Taufik Camasmie Edifício Anchieta Edifício Barão de Itatiaya Edifício do Banco Central Edifício Grande Avenida Edifício Grande Ufficiale Evaristo Comolatti Edifício Safra Eloy Chaves FAACG Família Cardoso de Almeida Família Rocha Azevedo Flora Figueiredo Gymnasio Anglo-Brazileiro Gymnasio Anglo-Latino Herculano de Almeida Prado Corrêa Galvão Homs Horácio Berlinck Cardoso Horácio Sabino Igreja São Luís do Gonzaga IRFM Jardim América Jayme Loureiro João Baptista Scuracchio João Dente Luigi Perroni Malta & Guedes Manifestações MASP Matarazzo Ministro Rocha Azevedo Moyses Miguel Haddad Nagib Salem Palacetecamasmie Palacete Casmamie Parque Mário Covas Paulo Mendes da Rocha Ramos de Azevedo René Thiollier Restaurante America Revolta Paulista Rino Levi Arquitetos Rocha Azevedo Rodolfo Crespi Rua Augusta Santander serieavenidapaulista Sidonio Porto Série Avenida Paulista Taufik Camasmie Trianon Victor Dubugras Villa Fortunata Villa Matarazzo
  • Arquivos

    • julho 2025 (1)
    • janeiro 2025 (1)
    • dezembro 2024 (1)
    • agosto 2024 (1)
    • julho 2024 (1)
    • abril 2024 (1)
    • março 2024 (3)
    • fevereiro 2024 (3)
    • janeiro 2024 (8)
    • dezembro 2023 (1)
    • novembro 2023 (2)
    • outubro 2023 (1)
    • julho 2023 (4)
    • abril 2023 (1)
    • janeiro 2023 (1)
    • setembro 2022 (1)
    • julho 2022 (2)
    • junho 2022 (1)
    • maio 2022 (3)
    • abril 2022 (4)
    • março 2022 (1)
    • fevereiro 2022 (2)
    • janeiro 2022 (2)
    • dezembro 2021 (2)
    • novembro 2021 (1)
    • outubro 2021 (2)
    • setembro 2021 (4)
    • agosto 2021 (2)
    • julho 2021 (2)
    • junho 2021 (1)
    • maio 2021 (3)
    • abril 2021 (3)
    • março 2021 (4)
    • fevereiro 2021 (4)
    • janeiro 2021 (7)
    • dezembro 2020 (2)
    • outubro 2020 (2)
    • setembro 2020 (2)
    • agosto 2020 (1)
    • julho 2020 (3)
    • junho 2020 (1)
    • maio 2020 (1)
    • março 2020 (2)
    • fevereiro 2020 (5)
    • janeiro 2020 (3)
    • dezembro 2019 (1)
    • novembro 2019 (4)
    • outubro 2019 (4)
    • setembro 2019 (5)
    • agosto 2019 (6)
    • julho 2019 (7)
    • junho 2019 (6)
    • maio 2019 (9)
    • abril 2019 (2)
    • março 2019 (4)
  • Follow Série Avenida Paulista on WordPress.com
    • Facebook
    • YouTube
    • Instagram

Crie um site ou blog no WordPress.com

  • Comentário
  • Reblogar
  • Assinar Assinado
    • Série Avenida Paulista
    • Junte-se a 86 outros assinantes
    • Já tem uma conta do WordPress.com? Faça login agora.
    • Série Avenida Paulista
    • Assinar Assinado
    • Registre-se
    • Fazer login
    • Copiar link curto
    • Denunciar este conteúdo
    • Ver post no Leitor
    • Gerenciar assinaturas
    • Esconder esta barra
 

Carregando comentários...
 

  • Privacidade e cookies: Esse site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
    Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte aqui: Política de cookies
  • %d