Na Série Avenida Paulista teremos mais uma série em que apresentaremos as casas que foram construídas para aluguel e ficaram conhecidas como Casas Sarti, de propriedade de Lourenço Sarti. O trabalho foi de detetive para tentar recompor essa parte da história da avenida. Por isso, ainda temos “buracos” a serem preenchidos, se alguém tiver mais informações ou conhecer algum descendente da família, agradeceremos o contato.

No lugar deste casarão
Nascido em 1862, o proprietário destas casas, Lourenço Sarti foi um comerciante, construtor e investidor de imóveis. Em 1887 já era dono de um hotel chamado Hotel do Bom Gosto no centro da cidade, que se mudou neste mesmo ano para a Rua Boa Vista, número 50, com um novo nome: Hotel Bella Vista.

Em 1903, com seus irmãos, Serafino e Cherubino Sarti, fundou a empresa Sarti Irmãos & Companhia, para administrar o Hotel Bella Vista, que contava com a hospedaria, restaurante e comércio de secos e molhados. Os irmãos tinham como sócio, o primo, Guido Sarti, também proprietário de uma casa de secos e molhados na Rua Paula Souza.
Lourenço foi casado com Filonema Sarti e Guido com Hermínia Sarti, ambos aparecem em inúmeras notícias de processos judiciais relativos à posse de terrenos e imóveis e, o último, a solicitações para construção de passeios e abertura de ruas.
Existe um edifício com nome de Lourenço Sarti, na Praça da República, 465, mas que não identificamos a origem.

As quatro casas Sarti da Avenida Paulista foram construídas em 1904 com projeto do engenheiro Eduardo Loschi. Sobre elas, Benedito Lima Toledo descreve no “Álbum Iconográfico da Avenida Paulista”, o que “surpreende nessas quatro casinhas é o primarismo do projeto: sala de visita à frente, sala de jantar ao fundo, unidas por um corredor. Entre as duas, três dormitórios intercomunicantes. Ao fundo, área de serviço, onde se concentram as instalações hidráulicas”.

As casas foram edificadas para serem pensionatos na recém-inaugurada Avenida Paulista. Em junho de 1927, em lista veiculada no Jornal Correio Paulistano sobre arrecadação de impostos, as quatro casas, de números 119, 121, 123 e 125 da Avenida Paulista aparecem em nome dos irmãos Sarti – Lourenço e Serafino.
Interessante notar que o número 129 também aparece no nome do Lourenço, mas não fez parte dessa etapa construtiva.

Guido Sarti também tinha uma residência à Avenida Paulista, no número 147, onde morou com Hermínia e as filhas Iris e Zina.
Na foto que abre o texto, vemos uma foto de fevereiro de 1978, da coleção de Pcastagnet, que destaca a arquitetura tipicamente italiana e informa que neste período as casas já pertenciam à família Castro: uma era de Aida e outra de Helena de Castro.Mas nesta época ainda tinham os números 119 e 121.
As construções que aparecem na foto, não são as casas Sarti originais, mas, com certeza, eram casas construídas/ reformadas no início do século passado e que, provavelmente, tenham passado por mudanças realizadas por antigos proprietários. A primeira casa era a de número 119, aparecia na lista telefônica em nome de João e de Raul Didier entre 1917 e 1920. Em 1927, surge no nome de Chukre Suriane e, em 1930, Said Buchain.
Em 30 de maio de 1935, a casa é noticiada no jornal Correio Paulistano como de propriedade de Herbert Martin Stettener, morador da casa ao lado, de número 117. Provavelmente foi comprada dos Sarti e continuou a ser uma pensão. Neste dia, noticiou-se que Herik Hahn, alemão de 32 anos, suicidou-se em um dos seus quartos envenenando-se por conta de sua situação financeira.
Depois da mudança da numeração da Avenida, essa casa recebeu o número 510, aparecendo na lista telefônica de 1952 em nome de Francisca C., e em 1973, no nome da família Castro.
A segunda casa, de número 121, aparece para alugar em fevereiro de 1905, logo após a construção, o anúncio do jornal O Estado de São Paulo informa que ela tem 7 cômodos. Em 1920 e 1935, também foram publicados, um deles dizia que a casa era mobiliada. Na lista telefônica aparece a partir de 1920, em nome de pessoas diferentes durante os 10 próximos anos.
Em 31 dezembro do ano de 1912 e de 1913, a casa é divulgada no noticiário como sendo a residência do cônsul francês, Ernest Charles Birlé, que recebeu os franceses em comemoração ao “Ano Bom”.
Nesta casa ainda, em 14 de julho de 1928, noticia-se o desaparecimento de um jovem de 15 anos, chamado Alberto Buchain, que tinha sido mandado, pelo pai, comprar estampilhas e não havia voltado até a noite. Interessante que na lista telefônica a família Buchain aparece em 1930, na casa 119. Será que teriam mudado para a casa ao lado?
Com a mudança da numeração, essa casa recebeu o número 498, aparecendo na lista telefônica de 1952 em nome de José Salvatti, e em 1973, no nome da família Fontes.
Essas casas foram adquiridas nos anos 1940 pela mesma família e pertenceram à Aida de Castro e Maria Helena de Castro. Muito provavelmente neste período elas foram unificadas por meio de uma área comum, como vemos o muro em arco na foto inicial. Uma descendente da família, a arquiteta Patricia Piza Fontes, que morou em uma das casas, nos relata sobre esse período.
Minha mãe se mudou para a Paulista adolescente, entre os anos 1938 e 1940. Então, foi nessa época, que reformaram ou construíram as novas casas. Minha avó dizia que construíram, mas não creio que tenham demolido, do jeito que conheço a família, devem ter praticamente posta abaixo, mas não demoliram.
A casa onde morei era uma casa de 2 andares, que meu avô reformou, subiu o teto do porão e transformou em 2 andares, fez 7 quartos e um escritório em cima, e as salas e quartos de empregada no térreo.
Esteve alugada muitos anos para um hospital (uma clínica) e depois para uma copiadora. Quem comprou a casa foi minha avó e a família Castro, comprou dela. Ela tinha 5 irmãos, mas minha mãe era filha única, então depois que ela morreu em 2013 as histórias foram juntas com elas.
Minha tia, de apelido DuDú, nome Eudóxia, casou-se e foi morar na casa da esquerda, que tinha um elevador maravilhoso da Villares, simples, porém lindo com 2 portas pantográficas.
Minha mãe morou lá por mais de 30 anos e eu – e meus seis irmãos – de 10 anos a 21 anos. Quem vendeu o terreno da casa para a Quota Construtora foi minha família, muitos anos depois da morte de meu pai e minha avó. Depois que foram demolidas, as 2 que eram nossas viraram estacionamento.
Agradecemos à Patricia pelo relato precioso!
Finalizando essa parte da história, essas casas foram fotografadas em 1982, um pouco antes da demolição, por Valter Hernandez Trujillo, em foto que vemos abaixo. por outro ângulo da primeira imagem deste texto.

Foto inicial: Coleção PCastagnet
Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
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