Dizem que o primeiro casarão da Avenida Paulista foi construído próximo à Alameda Campinas e era propriedade do dinamarquês Adam Ditrik von Bülow (mas o correto é dizer que talvez tenha sido o primeiro documentado, pois outros foram construídos antes dele (veja neste link). Hoje o local é ocupado pelo Edifício Pauliceia, também um ícone da arquitetura moderna paulista.

No lugar do casarão
Edifício Pauliceia
O casarão da Avenida Paulista foi construído pelo empresário dinamarquês Adam Ditrik von Bülow, com projeto do arquiteto Augusto Fried, que concebeu um amplo belvedere e uma torre bastante alta e imponente. O palacete foi, por muito tempo, o local mais elevado da avenida e, por isso, era utilizado como lugar para fotografar à distância, nos dois sentidos da Avenida Paulista.
Adam von Bülow nasceu em Sorø, na Dinamarca, em 1 de março de 1840. Era filho de uma família abastada na Dinamarca e estudou Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Copenhague.
Como tantos outros estrangeiros que vieram para o país, ele veio ao Brasil em 1865 por causa da situação difícil em que a Dinamarca se encontrava após a guerra com a Alemanha e, também, por conta da relação difícil com a família, que eram religiosos fervorosos. O curioso é que, sem avisar a família, tomou um veleiro rumo a Nova Iorque, mas que por alguma questão da navegação, teve que mudar sua rota e desembarcou no Rio de Janeiro.
Foi para São Paulo em 1867 para trabalhar como professor em uma escola alemã e, em seguida, foi trabalhar com uma empresa de importação. Dois anos depois, mudou-se para a companhia de importação e exportação C. Budich & Co. em Santos, tornando-se posteriormente sócio.

Casou-se em 23 de abril de 1879 em Copenhague com Anna Luise Ottilie Schaumann, filha do farmacêutico Gustav Schaumann, que também residiu na Avenida Paulista.
Adam e Anna tiveram seis filhos: Else Line Nicole, nascida em São Paulo, Engelke Dietrich (que com 7 anos morreu afogada em Santos), Gerda Marie, nascida em Santos, Carl Adolph, nascido em 29 de maio de 188 em Copenhague, e Reimar Hans, nascido Freiburg, na Alemanha e Andrea Gustava, nascida em São Paulo.


Em 1873 veio sua grande oportunidade, ao arrematar em um leilão o navio “Giovanni Luigi” juntamente com João Carlos Antônio Frederico Zerrenner. Em 1876 terminaram a reforma do navio e fundaram a empresa Zerrenner, Bülow & Cia, que logo se tornou uma das mais importantes empresas de importação e exportação de São Paulo, e uma das quatro maiores exportadoras de café de Santos, com sede no Prédio Duplo do Valongo na cidade de Santos, embaixo da câmara de Vereadores.

A empresa Zerrenner, Bülow & Cia também facilitava a importação de lúpulo, cevada e equipamentos para a Companhia Antarctica Paulista, que enfrentava dificuldades financeiras e não conseguia pagar pelos equipamentos que havia importado. Em 1893, na posição de principal credora, a Zerrenner, Bülow & Cia. assumiu o controle acionário da Antarctica.

Os negócios da empresa começaram a melhorar em 1899 e através da aquisição da cervejaria Bavária e com a construção de novas fábricas, a Antarctica veio a se tornar uma das maiores cervejarias do Brasil.

A crise do café afetou diretamente os negócios da Zerrenner, Bülow & Cia, que passou a focar nos negócios da Antarctica. Depois da morte de Adam e de Zerrenner, em 1933, e de sua viúva em 1936, a Zerrenner, Bülow & Cia. foi encerrada e o controle da Antarctica se deu através das ações pertencentes à família von Bülow através de uma trading familiar.
Uma curiosidade da época: vejam abaixo os anúncios da cerveja Antarctica no período da administração de Adam von Bülow, peças veiculadas em 1905/1907 – hoje esses anúncios jamais seriam publicados, por conta da mensagem que veiculam! Alguém pode supor uma senhora dando cerveja a um bebê? E jovens adolescentes negros bebendo cerveja? (É interessante lembrar que a libertação dos escravos tinha sido recém realizada no Brasil. Qual relação pode ter tido entre um fato e o outro?? Para pensar…)

Adam também foi sócio fundador da Associação Comercial dos Santistas, fundada em 27de setembro de 1874. Vice-cônsul da Dinamarca em Santos e posteriormente em São Paulo de 1875 a 1922 e tornou-se um importante industrial, integrando a primeira diretoria do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP). Faleceu em São Paulo em 22 de maio de 1923.

Voltando ao palacete de Adam na Avenida Paulista von Bülow, um ícone da época.

O palacete de Adam na Avenida Paulista foi especialmente utilizado pelo célebre fotógrafo da época, Guilherme Gaensly, que dedicou sua carreira ao retrato e à documentação de locais públicos e propriedades particulares. Iniciou seu trabalho na Bahia, onde esteve até meados da década de 1880, e posteriormente em São Paulo, entre os anos 1895 e 1925, onde se tornou um dos mais ativos fotógrafos da elite e um reconhecido autor de cartões-postais, documentando as principais áreas urbanas e edificações paulistanas. A mansão de Von Bülow era um de seus pontos prediletos para fotografar a Avenida Paulista.


A residência de Adam von Bülow foi um ícone da arquitetura da avenida Paulista até ter sido derrubado para dar lugar ao Edifício Pauliceia construído em 1955.
Para finalizar belas imagens colorizadas dos filhos Gerda, Else e Engelke em 1885 e de Carl e Reimar em 1897.


Contribua com a Série Avenida Paulista: se tiver uma foto antiga em que este casarão/edifício/local público apareça ou se conhecer alguém que possa fornecer mais informações sobre a residência ou edifício e pessoas relacionadas (família, amigos e outros), entre em contato com a gente. Muito obrigada!
3 thoughts on “O palacete Adam von Bülow: ícone da Avenida Paulista”
Vittorio
A foto Paulista 1 e a 2 daí iguais…
CurtirCurtido por 1 pessoa
Luciana Cotrim
Muito obrigada por avisar. Já está arrumado.
CurtirCurtir
Antonio F Terra
É triste ver a memória se apagar.
Deveria ter 100 metros entre prédios.
CurtirCurtido por 1 pessoa